terça-feira, abril 18, 2006

Feriadão - a continuação

e atendendo a milhares de pedidos....

Feriadão II


Mas o melhor mesmo é quando a estrada termina.
Horas a fio, sentado em um banco que, quando você comprou o carro, parecia extremamente confortável. Você até mesmo se lembra do capatosto do vendedor, na agência:
- Meu amigo, esse banco deveria ser considerado a oitava maravilha do mundo. Conforto é coisa do passado, ele é outro patamar. Senta aí, pode sentar, veja por vc mesmo.

Na hora alguma coisa dizia para você não confiar em alguém que te olha meio de ladinho e diz, com um sorrisinho no canto da boca: Senta aí. Mas, fazer o que, você não ouve mesmo essa sua consciência. Agora fica aí, todo torto, todo dolorido, apertado. Bem feito.

Mas a estrada acabou. Cinco horas e meia de puro suplício e puns da Tia Rosina depois, acaba a estrada. Você faz a última curva... o detalhe é que esta última curva está absurdamente vazia, livre, você desconta toda a raiva no acelerador e faz a maledeta à toda velocidade permitida na estrada: 120 km por hora.... bem na frente de um carro da CET, que estava ali justamente para lembrar aos mais afoitinhos que aquele ponto já é considerado trecho urbano e que passou de 90, dançou.

Mas a estrada acabou, a curva foi feita... dane-se a multa: você caiu na Marginal e agora é só mais...
- Asderbaldo, meu Deus, olha como está parada a Marginal!
- Se tivesse pegado o Rodoanel...
- E não tinha levado multa...
- Pai, a Tia Rosina soltou outro pum.....

Mas tem saída. Corta para a pista local, dá seta, bota o braço pra fora, xinga o motorista do caminhão, corta a Kombi, fecha a moto... pronto deu para sair da Marginal. Agora é só passar a ponte e já está pertinho de casa.
- Benzão, vamos levar a mamãe até a casa dela não é?

Pensa bem, melhor levar a mamãe dela e a tia até a casa delas do que ficar com elas na tua casa.

- Claro amor. Dez minutinhos chegamos lá.
- Ô inútil, passa na farmácia antes que preciso comprar Luftal.

Pega a direita, vai em frente. Vira a esquerda. Para na farmácia.
- Nessa não, eu tenho o cartão da outra que dá prêmio, vamos naquela.
- Mas Dona Adélia, só tem essa lá na Zona Leste. A senhora pede por telefone e eles entregam...
- Eu falei que tenho cartão que dá desconto.
- Eu pago pra senhora. Pódêxá, eu pago, sem problema.
- Mas você num tem prêmio. Eu tô quase conseguindo a sanduichêra.
- Dna Adélia, eu não vou até a Zona Leste somente para a senhora somar mais meio ponto no cartão para ganhar uma sanduicheIra, tenha dó.
- Amor, mas a mamãe tá somando esses pontos a tanto tempo.
- Eu compro, amanhã logo cedinho, eu vou no supermercado e compro uma sanduicheIra novinha pra ela.
- Mas daí os pontos vão somar para o termômetro digital.
- Pai, a Tia Rosina tá soltando mais pum.

Quinze minutos depois... depois de mais uma hora e meia, uma farmácia (obviamente na Zona Leste, na qual eu paguei o Luftal - dois na verdade, um foi pra Tia Rosina - o Rinosoro, um Ercotron, um Naramig, uma Narcaricina, outros sete que não consigo pronunciar sem gaguejar, comprei o termômetro digital e os pontos foram somados para o massageador elétrico), uma padaria (na qual eu paguei meia dúzia de pães dos mais torradinhos - claro que tive que ir e voltar três vezes para achar os mais moreninhos, um pão doce com pouco creme, duas broazinhas de milho e um pastel de Santa Clara), uma banca de jornal (na qual eu paguei duas revistas de palavras cruzadas e uma daquelas de romance Ofélia) e um posto de gasolina (esse foi para mim mesmo), deixo a Dona Adélia em casa, a Tia Rosina na rua de baixo, na casa dela e consigo ir para meu lar.

Chegamos. A abertura da porta da garagem parece a dos portões do paraíso, quase choro.
Paro o carro na vaga.
- Olha, todo mundo ajuda com as malas. Cada um pega a sua e o bando de sacolinhas das compras.... se todo mundo ajudar, fazemos uma viagem só até o apartamento e...
- Asderbaldo, querido, as crianças já desceram. Você está, de novo, falando para o banco traseiro.

Cinco viagens de elevador depois, consigo entra no banheiro e relaxar debaixo de uma ducha quente. Meus pés parecem explodir. Meu joelho já nem mais está doendo, amorteceu. O banho é relaxante. Fecho a ducha, abro um pouco a porta do box, estico a mão... cadê a toalha?

Uma das cenas mais absurdas da nossa vida é sair do box, todo pingando e não ter uma toalha para se enxugar. Abro a porta só um pouquinho.
- Amor? Benzão?
Nada
Escuto sua voz, na sala. Falo um pouco mais alto.
- Querida, não tem toalha no banheiro. Você pode me trazer uma?
- Agora não dá Asderbaldo, estou com a mamãe no telefone, contando da viagem.
- Como contando da viagem? Ela estava com a gente.
- Ah, querido, essas coisas você não entende.
- Como?
- Ah, ela disse que não é para você esquecer de comprar a sanduicheira dela amanhã logo cedinho. Como mamãe?
- ?
- Ah, claro.... não, problema nenhum imagina... ele vai
- ????
- De forma alguma... não é não... não fala isso mamãe, ele adora a senhora
-????????????????????????????????????????????/
- Falo agora, quer ver. Amor?
- Oi....
- A mamãe esqueceu uma sacolinha no carro. Você leva pra ela agora não leva.
(sussurrando)
- Você tá louca, ela mora do outro lado da cidade.;.. que é que pode ter de tão importante nessa sacola que ela não pode ficar uma noite sem?
- Ele falou que leva. Tá vendo? E a senhora chamando ele de inútil o tempo todo. Tadinho.... Não tô defendendo não, ele é lindinho sim.
- Que é que tem na sacola?
- Ele tá indo mamãe. Boa noite.
- Dá pra falar o que é que tem nessa birosca que é tão importante?
- Asderbaldo, você tá pelado e pingando no tapete? Endoideceu homem?
- Fala agora: o que é que tem na sacolinha da tua mãe.
- Querido são os remedinhos dela. Graças a Deus ela não está precisando de nenhum urgentemente, mas e se precisar? Você sabe como é mamãe... precavida. Não tem nada de mais, um Luftal e..
- Mas eu parei na farmácia e comprei um desses novinhos pra ela!!!!!
- Mas se tem um aberto, ela não vai abrir um novinho né, que coisa Asderbaldo!

- Xi, mana, não vai na sala
- Pq?
- Num sei o que aconteceu, mas o papai tá sentado pelado no chão da sala chorando e arrancando os cabelos.