segunda-feira, abril 17, 2006

Feriadão


Fazia um bom tempo que eu não pegava uma estrada num feriadão. Explicando, vira e mexe tô botando o pé na estrada, adoro viajar, conhecer lugares e tem cada lugar maravilhoso para se curtir bem pertinho de São Paulo - se vc não estiver em SP, aproveite e conheça tá? ou então veja se perto de sua cidade também não tem alguma outra com atrativos interessantes e só pq é pertinho vc acaba desprezando...

Dessa vez fui para Águas de Lindóia, no chamado Circuito das Águas - que compreende, além da já citada, Lindóia (não, não é a mesma) e Serra Negra (até deve ter mais alguma, mas são essas que contam de verdade).

Águas de Lindóia deve ser uma das cidades mais antigas do interior paulista. Sem encher a todos com dados históricos (que também não tenho) é o tipo do lugar que, se vc perguntar para seu avô ou para o Seu Nicanor da avícola, com absoluta certeza eles já estiveram lá.
A grande vantagem é que como quase todo mundo já foi um dia, quando criança para Águas de Lindóia, acabou se acostumando à cidade, fazendo amizades e hoje, em plena época da Internet, a cidade fica atulhada de jovens em suas praças.
Resultado, a economia se movimenta, o comércio cresce, as atividades sociais e esportivas entram na programação da cidade e a vida continua - ao contrário de muitas cidades que parecem ter simplesmente parado no tempo.

Daí chegamos todos em Águas de Lindóia. Feriadão em família, conversar com as crianças sobre o dia-a-dia, programar algumas atividades com a esposa, conhecer gente nova, descansar o corpo, renovar o espírito, recarregar as baterias. E tudo corre exatamente assim exatamente.... exatamente, ao contrário.

Estaciona o carro em frente ao hotel.
- Pai?
- Oi filha?
- Posso ir com os monitores?
- Claro, enquanto a gente faz o check-in pode ir conhecendo os monitores. Deixa o celular ligado que...
- Asderbaldo?
- Sim amor?
- Você está falando com o banco traseiro do carro. Sua filha já desceu há uns cinco minutos.

Daquela hora, que deveria ser algo em torno de 3 da tarde. Revejo minha filha quando ela entra no quarto, 1 e meia da manhã, vai pro banheiro, coloca o pijama, desmaia na cama. No dia seguinte, acordo com o barulho do chuveiro: é ela tomando banho, já sai do banheiro arrumada, manda um beijo que deve ter acertado a corrente do lustre e a rotina se repete.

Já com o filho, menor, a coisa é completamente diferente. Ele não passa das 10 da noite para ser entregue no quarto pelos monitores (à exceção do sábado, que teve show de marionetes e depois um tipo de caça ao tesouro que o fez chegar as 11 e meia). Ah, muda também a parte da manhã, ele pula na cama assim que a irmã sai do quarto, aos berros, pedindo para colocar rapidinho o shorts, o tênis e descer para ir com os monitores.

Mas sobra a linda, adorada e carinhosa esposa. Companheira fiel dos momentos em que o casal está pronto a conversar, renovar os votos de amor eterno e..
- Asderbaldo.
- Sim, querida.
- Deixa essa cara de besta por causa daquela bruaquinha que tá de biquíni do outro lado da piscina. Ela podia ser sua filha, Asderbaldo.
- Que menina? Onde?
- Ah, agora se fez de besta.
- Querida, eu juro, estava olhando ao léo, a esmo, liberando a mente para poder conversar com você...
- Que conversar o que, Asderbaldo, faz o seguinte me deixa quieta que vou tomar sol agora. Preciso aproveitar que as crianças ainda não estão aqui..,.
- Aqui? Elas só voltam a noite pro quarto!
- Elas estão se relacionamento com gente da idade delas. Você queria o que? Que ficassem aí vendo o pai ficar babando a filha dos outros?
- Que babando? Pirou?
- Ah, chega Asderbaldo...

E vira de costas na espreguiçadeira.

Bem... nos sobra... melhor, me sobra o bar. Sempre, nesses hotéis, tem um bar com outros homens que além de ficar um olhando a filha do outro de biquíni, conversam sobre assuntos interessantíssimos, pode até sair um negócio, vai saber...

- Olá, por favor, amigo... me vê uma cerv... oi, garçom... por favor... uma cer
- Um minuto, ok?
- Claro. Olá, tudo bem, sou Asderbaldo, estou com minha família e.,,....
- Olá, com licença, vou levar a caipirinha para minha sogra.

Coitado. Além de tudo, ainda tem que agüentar a sogra. Eu, pelo menos, não dá para conversar com minha filha, nem com meu filho, minha mulher só quer ficar tomando sol, o garçom me ignora, mas não tenho que agüentar o raio da..

- Asderbaldo, seu inútil, sabia que ia te encontrar no bar. Você não presta pra nada mesmo, fica aí enchendo a cara.
- Dona Adélia? O que é que a senhor tá fazendo aqui?
- Ora, liguei para sua casa, vocês não atenderam, daí liguei para o celular da minha filha e ela disse que vocês estavam aqui em Lindóia..
- Águas, Águas de Lindóia.
- É tudo a mesma coisa. Quando eu vinha aqui com o Gaspar, era só Lindóia.
- Não, Dna Adélia, o seu Gaspar, pelo que me lembro gostava de ficar em Serra Negra e vocês vinham até aqui para fazer compras...
- E o que é que um inútil, bêbado como você sabe do meu falecido Gaspar; que Deus o tenha... Ô Gaspar, veja o que nossa filha arrumou...

Bem, enquanto fico invejando o Seu Gaspar, que na verdade acabou pedindo demissão do cargo de esposo da véia (tenho certeza que foi isso, só pode ser), acabo meu feriado levando caipirinha de pinga, amendoim e toalhas para a Dna Adélia e a Tia Rosina, que veio junto para não deixar a meger... sogrinha, viajar sozinha.

Ah, apenas para não esquecer: de Águas de Lindóia à São Paulo é algo em torno de 1 hora e meia, 2 no máximo. Mas, obviamente, no retorno do feriadão, levamos algo em torno de 5 horas, eu, benzinho, filha, filho, Dna Adélia e Tia Rosina que, como foram de ônibus, tive que ser gentil e trazê-las de volta.

- A pista do lado tá andando mais, Asderbaldo.
- Asderbaldo, você está acima do limite de velocidade.
- Ô paiê, a Tia Rosina soltou um pum...
- Fica mais longe do carro da frente, Asderbaldo, pra que grudar tanto?
- Querido, tem certeza que não esqueceu nada no armário do quarto?
- Asderbaldo, olha ali, para no Rancho da Pamonha.
- Seu inútil, você passou a entrada do Rancho da Pamonha
- Mas, Dna Adélia, a senhora falou muito em cima, não dava pra simplesmente brecar.
- Paiê... a Tia Rosina soltou um pum...
- É sempre assim, basta eu pedir alguma coisa que vc nega. Que foi que eu fiz pra ele, minha filha?
- Querido, não dá para pegar um retorno?
- Retorno, mas a gente vai perder pelo menos mais uma hora..
- Paiê... a Tia Rosina soltou um pum...