terça-feira, janeiro 03, 2006

Ansiedade da Informação

Há algum tempo digo que um dos melhores livros que já li é o Ansiedade da Informação, do Wurman. Uma obra maravilhosa que aborda com extrema inteligência o caos no qual se transforma nosso dia-a-dia com a quantidade de informação que nos é colocada à disposição a cada segundo.
Uma "cena" do livro que me marcou e que representa a mais pura verdade é quando ele pede para que olhemos para a pilha de revistas, artigos e recortes e outros textos amontoada no canto de nossa mesa esperando que o dia tenha, de forma milagrosa, umas duas horas a mais para que possamos tentar lê-los.
Depois de uma boa olhadela, o autor pede que simplesmente peguemos a pilha e, como ela está, sem tirar nem por, a lancemos ao cesto de lixo.
Claro que o primeiro sentimento é de "o que? ficou louco? tem coisa importante ali, tem aquele artigo da revista americana, o resumo do livro, a coluna da semana retrasada do Veríssimo, o exemplar do mês passado da revista da associação..."
Mas, passado o primeiro desespero e contido o ímpeto de pegar tudo da lata de lixo, você vai ver que absolutamente nada do que estava ali vai te fazer a menor falta - até mesmo pq se alguma coisa ali fosse fazer falta, já teria feito.
Metáfora ou não de uma ação que precisa ser efetivamente levada a cabo, o que Ansiedade da Informação nos mostra é que a humanidade chegou em um patamar de facilidade no acesso à informação que se nos deixarmos levar por esse volume que chega via jornais diários, celulares, rádios, tvs, internet, e-mail, bate-papos on-line, i-pods e outras traquitanas que inventam a cada minuto, a gente simplesmente não faz mais absolutamente nada: fica, simplesmente, vivendo em função do recebimento de informações.
Daí, duas coisas acontecem, ambas terríveis:
1- como é humana, física e mentalmente impossível obter todas as informações, ficamos com a sensação de que estamos desinformados, que nos falta algo, que perdemos alguma coisa e, daí, gera-se a tal da ansiedade da informação, para a qual ainda não se tem remédio.
2 - devido ao excessivo e aterrador volume de informação, não conseguimos processar tudo isso e não realizamos a transformação da informação em conhecimento e, com isso, tudo o que recebemos não serve para absolutamente nada.
Sem a metamorfose da informação em conhecimento, não há mudança e sem esta, não há evolução. Ou seja, com muita informação, sem o devido processamento, o ser humano fica estagnado.
Por isso, o melhor é termos um senso crítico em relação à informação que recebemos, que precisamos receber.

Tudo isso, simplesmente pq, nesta rápida semana que fiquei fora, o jornal mais recente que tinha era de outubro, a revista mais nova dizia que Lula era candidato, não pegava nenhuma estação de rádio, não tinha tv e celular nem pensar.
Sabem que falta fez?.....essa mesma.