sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Prazeres


A melhor definição que encontrei de prazer foi que é o exercício harmonioso das atividades vitais.
Afinal de contas a gente pode (e deve) ter prazer com muitas coisas na vida, mas são aquelas básicas, frívolas, pequenas até que nos dão maior prazer - até mesmo pq, conforme dizia um professor, se não conseguimos fazer essas, de que adianta lutar pelas grandes.
Muita gente acha que o prazer está na superação, no algo a mais, mas - conforme a definição inicial - nada dá mais prazer do que a simples e pura execução de uma ação natural.
Alguns se esforçam no prazer proporcionado pela fama, pela fortuna, pela visibilidade. Mas até esses, garanto, nada são comparados aos prazeres da realização sumária.
Sei, devem estar pensando que catso de realização simples, sumária, ínfima é essa que tanto me refiro: comer, beber, respirar e fazer xixi.
Sinto muito todos os que esperavam algo mais profundo, mais abrangente, mais espiritual, mas digo e admito: o maior prazer da vida é fazer xixi, ainda mais se estivermos no elevador.
Não sei como, mas parece que a vontade de fazer xixi (como senhora, preferes urinar... pois digo-te que o estimado ali do canto quer que diga tirar água do joelho, portanto, a fim de não agradar mesmo, continuarei me referindo ao ato como fazer xixi), retomo
Parece que a vontade de fazer xixi aumenta quanto mais próximo estamos do local apropriado para tal ato. Bate a vontade, você no carro. Farol fecha. O carro da frente decide conversar com o pedinte. Comprar balinha. O farol abre. O moleque não tem troco e oferece uma outra bala como troco à nota de 50 - quem é o imbecil que paga balinha em farol com nota de 50. Você buzina. A vontade aperta. O farol fecha. O cara do carro da frente faz um gesto pelo espelho. O moleque passa do lado do seu carro com cara de poucos amigos. Você responde ao gesto, mas daí se desconcentra e a vontade de xixi aumenta. O faro abre.
Para na porta do prédio. A vontade é incontrolável. Não vai dar para segurar. Mais um pouquinho dá. Aperta o botão do controle remoto. A porta começa a subir. Para no meio. Aperta o botão, a porta começa a descer. Aperta o botão. A porta para. Botão. Nada. A vontade aperta. Botão. A porta continua a descer. Botão. Vontade. Para a porta. Vontade. Botão. A porta sobe. Para... não a porta, você, para de apertar esse botão.
Entra o carro. Baliza mal feita na vaga. Peraí........... ah, foi quase.... quase não deu pra segurar. Mas deu. Desce do carro, larga a porra da mala aí mesmo. Fecha a porta do carro. Corre para o elevador... não, para não corre que dá mais vontade. Vai andando. Calma. Na mala estava a chave do elevador.
Volta para o carro abre a porta do carro pega a mala fecha a porta do carro vai anda para o elevador assim meio rapidinho mesmo parece corrida de rebolamento.....Não, não ri que é pior. Concentra. Mantra. Tem algum mantra que ajuda.
ô imbecil... se não apertar o botão do elevador ele não adivinha que você tá parado aí. Aperta o botão. Mas pq tem tanto botão na nossa vida é botão pra porta, botão para o elevador, botão da camisa... ô cara isso é hora de filosofar.. que lástima.
Chega. Cheega. Chegaaaaaaaaaaa. Chega logo por favor.
Chegou. Abre a porta. Abre a porta, vai vai vai.... não...........
"Aderbal, meu amigo... sabia que era justamente com você que eu queria falar. Sabe a última ata de reunião do conselho de melhorias aqui do condomínio. Aquele ítem sobre a instalação de banheiros no térreo. Sabe que a idéia não é má? Imagina alguém chegando apertado e ter que esperar o elevador"
Será que esse imbecil não sabe falar sem dar tapinha no ombro.
"Aderbal, você tá meio... sei lá, meio roxo... se contorcendo... Aderbal espera aonde você vai,... Aderbal..."
Corre, corre mesmo, corre feito um alucinado. Para atrás do carro. Que carro? Qualquer carro, menos o seu e preferencialmente do cara que estava no elevador.
Abre a braguilha (o zíper) e vai. mostra pq tu é macho Aderbal.
Isso, meus caros, isso é sim um prazer
isso tudo pq é um prazer escrever para vocês.