segunda-feira, maio 08, 2006

Vocabulário corporativo

O mundo empresarial realmente é um universo a parte. A gente nunca sabe o que pode dele advir.
Vocês já repararam como cada segmento de negócio e, até melhor, cada empresa - mesmo que seja do mesmo filão de mercado - tem termos únicos, específicos e que para eles significa tudo e mais um pouco, quando para nós, seres normais (?) aquele termo não quer dizer absolutamente nada?
O pior é quando o tal vocabulário empresarial é levado para o lar. É por isso que eu digo, sou terminantemente contra marido e mulher trabalharem na mesma empresa, mas que eles tem que trabalhar no mesmo ramo, ah isso tem - claro, não é para trabalhar em empresas concorrentes, daí dá mais pau que se na mesma empresa, na mesma sala, mas não vamos exagerar.
O casal tem que se entender no vocabulário, nos interesses. Se ela for dentista e ele operador de bolsa de valores, a chance de dar certo é praticamente zero e..... como, ah, a senhora é dentista e seu marido trabalha na Bovespa e vocês estão casados há trinta e sete anos? Obrigado pelo depoimento..... Viram só, falei que não dava certo.
Mas, se vocês pensarem bem, com total e absoluta certeza vão encontrar, no seu negócio uma série de termos que somente fazem sentido para você e para o seu assistente - quiçá nem para ele, mas falta-lhe coragem para dizer que não entende o que você fala, então, ficam elas por elas.
Outro dia mesmo, aqui na empresa aconteceu um caso desses - na verdade acontecem todos os dias, mas esse foi algo especial.
Um determinado bairro da Capital ficou sem água e as equipes verificaram que o problema se encontrava em um determinado ponto da rede de abastecimento, no qual uma cruzeta havia desembocado. No relatório ficou assim: cruzeta desembocada no cruzamento da rua X com av Y provoca falta d'água para Z mil pessoas - previsão de normalização L horas.
Bem, para resumir, minha caixa postal ficou lotada de respostas. Alguns queriam saber o que era uma cruzeta desembocada. Muitos, por sua vez, mostravam-se desejosos de saber como é que uma cruzeta distinta como esta tinha o disparate de ter desembocado, assim em público, no meio da rua. Outros me mandavam novenas e receitas caseiras para reembocar a cruzeta - uma velhinha da área de pessoal até disse que o falecido dela tinha a cruzeta desembocada também, mas que não era para eu me preocupar que ele tinha vivido até os 90 anos. Dezenove pessoas lamentaram que eu, tão jovem assim já tivesse desembocado a cruzeta. Quatorze afirmaram que nunca se enganaram a meu respeito, sempre desconfiaram que eu desembocava a cruzeta mesmo. Dez se solidarizaram, afirmando também desembocar a cruzeta com regularidade, mas perguntaram como é que eu tinha a coragem de fazer isso no meio da rua - um deles até se ofereceu para desembocar comigo quando fosse a próxima oportunidade. Recebi sete mensagem com termos que o decoro não permite que eu as replique - uma com ameaças reais caso eu voltasse, sequer a passar perto dele e um que me proibiu terminantemente de dizer que o conhecia. Cinco propuseram que eu me candidatasse nas próximas eleições. Três duvidaram, mas pediram que eu mandasse fotos de eu desembocando a cruzeta - um deles falou que ia me mandar a foto da cruzeta dele desembocada. Dois pediram para ser meus amigos no Orkut e uma mensagem, uma única e singela mensagem disse, em poucas palavras, que agradecia a mensagem, mas que estava fora do escritório até o final do mês e que se eu quisesse mais informações sobre o assunto da mensagem, poderia entrar em contato com o serviço de atendimento ao cliente.
Enfim, meus caros e caras, cuidado extremo no uso do vocabulário interno de suas empresas no mundo real.