segunda-feira, janeiro 16, 2006

A mudança da formação

Um dos principais debates da área da Comunicação é a formação de seus profissionais. Sempre houve muita discussão sobre a formatação dos cursos de jornalismo, propaganda, relações públicas e todos os outros que despejam no mercado anualmente algumas centenas de pessoas ávidas por dar vazão à sua criatividade.O problema é que o mercado não está assim tão desejoso de volúpias criativas que, depois que vêem que o buraco é mais embaixo (razoavelmente mais embaixo) acabam se decepcionando e indo abrir pastelarias, casas de suco e consultas de tarot.
Recentemente algumas redações tem aberto seus espaços para que os estudantes de jornalismo possam conhecer o dia-a-dia da verdadeira e deliciosa maluquice que é a produção de um jornal diário, de um telejornal ou de uma emissora 24 horas de notícias. Lembrando a máxima ambientalista: quem conhece, preserva. Nesse caso, quem conhece ou assume que é aquilo que quer para o resto da vida, ou pula fora lá mesmo.
O mesmo projeto também tem sido feito por diversas empresas que chamam os estudantes de jornalismo para conhecer o cotidiano de uma assessoria de imprensa.
Na mesma linha, agências de propaganda mostram o processo de atendimento (que em algumas nem mais existe, uma prática ainda vista com o cenho cerrado da dúvida), criação, produção, mídia e planejamento.
Mas, voltando à senha do jornalismo, é interessante a notícia do sempre atualizado Observatório da Imprensa (no blog de Carlos Castilho), Internet pode transformar redações em salas de aula, que mostra casos (como da BBC Londres) que transformou sua redação em uma verdadeira sala de aula.
Mas gostaria de chamar a atenção para dois trechos
"A mudança de foco do jornalismo, passando da notícia para o treinamento e orientação, é uma conseqüência direta das transformações provocadas pela internet na ecologia informativa da sociedade contemporânea. Há uma avalancha de informações.
O problema não é falta de notícias (embora as vezes ocorra uma escassez ocasional em determinadas áreas). A oferta tende a aumentar cada vez mais na medida em que crescer o ritmo de participação do público na produção de conteúdos, como é o caso dos weblogs (diariamente surgem 70 mil novos blogs no mundo).
Como assinalaram os jornalistas franceses Jean François Fogel e Bruno Patiño, autores do livro Une Presse Sans Gutenberg, a notícia tende a perder importância na atividade jornalística em favor da pesquisa sobre os métodos sobre como chegar até ela. Neste enfoque, questões como a ética informativa ganham mais relevância do que a preocupação com o furo jornalístico."
e para este:
"Uma mudança como esta não acontece sem uma reeducação dos profissionais e principalmente sem uma capacitação dos leitores. Os profissionais precisam de uma atualização porque a avalancha informativa e o ritmo frenético da inovação tecnológica estão provocando um terremoto nas rotinas tradicionais das redações.
Por seu lado, o público está assumindo um papel cada vez mais ativo como produtor de informações sem ter uma capacitação mínima para exercer esta função. Não são só os jornalistas que estão sendo atropelados pela internet. Os leitores também já começam a pagar o preço do despreparo quando se multiplicam os casos de uso indevido e irresponsável da informação em sites da internet, especialmente nos que usam softwares de autoria coletiva."
Ou seja, ou Imprensa assume de forma total e definitiva sua missão de formar a partir da informação; ou as empresas assumem de forma irrestrita seu papel de produtoras de informações e geradoras de conhecimento para mudanças do comportamento, ou a gente vai, muito em breve, se ver em maus lençóis.