quinta-feira, janeiro 19, 2006

Quando o bambu geme


Começou a chover granizo. Bem na hora que ia escrever o texto de hoje, começou a chover granizo.
Que é que tem a ver uma coisa com a outra? Bem, absolutamente nada, mas como a chuva chamou minha atenção e esqueci completamente sobre o que iria escrever, agora sou obrigado a escrever sobre chuva de granizo.
A chuva é.... ah, para lembrei... deixa a chuva pra outro dia, ia falar sobre as maravilhas que é conhecer expressões novas.
A vida da gente é feita de expressões, muitas que adquirimos de nossa família. Uma das coisas mais engraçadas é ver os jovens falando coisas que não a menor idéia do que seja, "mas era minha vó que falava isso" ou "ah, sei lá, mas tinha um primo em Águas da Prata que falava e eu achava tão bunitinho".
Tudo bem que a maioria das expressões são completamente absurdas, sem sentido algum... bem entendido, sem sentido quando a gente pensa nelas, mas expressam direitinho o que a gente quer e precisa dizer naquele momento.
Agora, vamos e venhamos, será que tem gente que pensa na expressão? Duvido, expressão é, como diz o nome, para ser expressa, para se soltar o verbo.
Hoje aprendi uma nova. Em uma bela mensagem, um amigo lá da próspera e progressista cidade de Lins, terra de gente bunita e trabalhadêra, o Izaias, falou que o pessoal aqui da repartição era tudo gente boa, gente que "num nega fogo na hora que o bambu geme".
Como não tem gente que quer fazer a expressão fazer sentido, fui eu a fazê-la: que catso será que quer dizer negar fogo na hora que o bambu geme? Ou, simplesmente, bambu geme?
Uns tentaram dizer que durante a tempestade, o dito vegetal verga mas não quebra e assim, vergado, o vento entra pelo seu oco e gera um som que simula um gemido.
Outros disseram que nem precisa o vento entrar pelo oco do bambu, que bastava sua vergabilidade para emitir a gemência.
Já teve um que disse que o que gemia era a cabeça do caboclo que ficava embaixo do bambu quando esse vergava.
Como preferi ignorar todas as explicações, que só estavam confundindo mais a bela expressão, que seja o que quer que signifique, com total e absoluta certeza, foi um baita dum elogio, preferi simplesmente responder.


Nóis é bão
seja quando o bambu geme...
quando a jiripoca pia...
quando a porca torce o rabo...
quando o pega é pra capá...

seja na curva do rio...
na encruzilhada da estrada...
na linha do horizonte
nas esquinas da vida...

seja no raiar do dia
no cair da tarde
no breu da noite
na hora que pricisá

.... e não é que voltou a chover granizo?