segunda-feira, julho 31, 2006

Vida de apresentador

Todo profissional que organiza ou participa de um debate, realiza uma apresentação ou uma palestra aguarda com sofreguidão um momento em especial: a hora das perguntas.
Na verdade tem tudo para ser a melhor parte de todo o evento. Depois que você se descabelou para preparar a apresentação, se degladiou com a área técnica do local da apresentação pela versão do programa, pela forma de leitura do cd ou do pen drive, pq na máquina do auditório não tinha instalada a fonte (o tipo de letra) que você utilizou - e olha que vc fez tudo na mais comum que existe, que se horrorizou ao ver toda sua apresentação destruída pela forma que o projetor projetava - o amarelo virou algo entre o verde abacate e o marrom desistiria, o azul lembrava vagamente o lilás avermelhado... bem, depois de tudo isso "brilhantemente superado pela sua performance na apresentação", o mediador finalmente abre para as perguntas.
Todo mundo que faz apresentação tem alguma técnica para ver se agradou ou não - um amigo, uma vez, me disse para escolher um âncora na audiência, alguém que notoriamente você esteja agradando e sempre que possível voltar a apresentação para essa pessoa. Na impossibilidade de levar a mãe a todas, a gente acaba escolhendo um pobre coitado qualquer - vira e mexe dá certo.
Quando o evento é daqueles que as perguntas são enviadas antecipadamente, por escrito e lidas pelo mediados, você acaba ficando mais preso. Na verdade, ao não saber quem escreveu, você acaba respondendo de forma geral. Dificilmente o questionante fala alguma coisa.
Mas sempre tem aquele evento em que as pergunta serão feitas ao final, com a equipe de apoio levando o microfone até o questionador. É nessas horas que a porca torce o rabo.
Primeira alternativa: você tem muita sorte e alguém que gostou do que você falou pede a palavra e solicita alguma complementação sobre um ponto qualquer da apresentação. É o melhor dos mundos, afinal de contas te levantam a bola e você tem tudo para marcar mais um gol, a platéia - um grupo magnífico de primeiro nível, só tem a ganhar.
Segunda alternativa: você tem alguma sorte e quem pede a palavra questiona um ponto qualquer da apresentação, com uma pergunta inteligente, uma situação lógica. É igualmente muito bom, você até elogia a pergunta, coloca mais alguma coisa mas deixa claro que cada situação é única e que, para aquela platéia -- um grupo seleto de profissionais da área, não existem fórmulas mágicas e prontas para nada.
Terceira alternativa: você consegue se esquivar, pois quem pede a palavra faz uma colocação específica sobre um ponto específico de sua apresentação. Tendo em vista que a situação é específica, você solta para a platéia - provavelmente todos mandados para ver a apresentação, pagos pela empresa - a velha desculpa de que não vivenciou os detalhes que levaram à consolidação da situação e não pode traçar com precisão um parecer, mas de forma geral.... e daí enrola.
Quarta alternativa: você é encostado na parede pela pessoa que pediu para criticar especificamente um detalhe de sua apresentação. É nessas horas que o resto da platéia - na verdade um bando de abutres loucos para se fartar em seu cadáver - olha para você, na esperança de ver um bate boca. Você diz que respeita a posição do nobre ouvinte, mas que não gostaria de ali, entrar em polêmicas, que o fato poderia ser resolvido a posteriori, por outros canais.
Quinta alternativa: ninguém faz pergunta. É o pior dos mundos. Você até tenta pensar que agradou tanto que esgotou o assunto, mas não tem como... a platéia - aquele bando de ignorantes abestalhados - na verdade não sabem o que te perguntar: foi um fiasco.
Sexta alternativa: depois de intermináveis trinta segundos - que mais parecem trinta horas, alguém levanta a mão: você foi salvo. Ledo engano. O cara começa sua "pergunta" com a frase: na verdade não é uma pergunta, mas uma colocação..... Dançou. O infeliz percebeu que ninguém ia perguntar nada e aproveitou o espaço aberto (na verdade, microfone aberto) para contar como foi sua vida, para te avacalhar inteiro - e você, não perguntado, não tem como responder.
é... vida de palestrante não é fácil....