quarta-feira, julho 19, 2006

A odisséia do sofá - 3


Lá pela quarta ou quinta loja dessa rua em que vocês entram - por favor, atentem ao detalhe de ser a quarta ou quinta loja dessa rua, pq nas oito anteriores foram algo em torno de doze ou treze lojas em cada, mas continuando...
Lá pela quarta ou quinta loja que entramos, percebi uma coisa interessante. Ou eu já conhecia todos os modelos de sofás que existiam na face da Terra ou estava andando em círculos e já tinha entrado naquela loja. Contudo, por mais que a dor nos meus pés denunciassem que a probabilidade de ter dado a volta no planeta era razoável, optei pela primeira escolha.
Verdade, chega uma hora que não adianta mais olhar, pesquisar, perguntar, vira tudo absolutamente igual. Parece que todas as lojas fizeram um pacto e dividiram três ou quatro modelos, duas ou três formas, uns dez tipos de tecido com sete ou oito cores diferentes para cada uma e pronto: o babaca do cliente acha que está vendo coisas diferentes, mas na verdade é tudo a mesma coisa.
- Asderbaldo, essa é a maior besteira que você já falou em sua vida. Como é que você pode achar que esse modelo de chenille tem qualquer relação com aquele de couro?
- Couro só se for do lombo de marmota. Aquilo não é couro nem aqui nem na China, é uma imitação e muito da barata.
- Você que não dá valor para a tecnologia. Lembra que o vendedor da outra loja nos explicou que este tecido é uma trama desenvolvida para ser exatamente como o couro? Sente o toque...
- Qual outra loja? Já entramos em tantas que nem mais sei do que é que estamos falando...
- Você está é de má vontade.
- Se estivesse de má vontade, tinha ficado na décima quinta loja...
- Exagerado... vem cá... sente o toque desse tecido.
- Posso só passar a mão ou tenho que sentir o toque?

Ah, outro detalhe importantíssimo, praticamente fundamental, sem o qual não haveria como dar continuidade ao programa de desenvolvimento de pesquisas científicas da humanidade. Sentir o toque é completamente diferente de passar a mão.
Passar a mão é um ato mais brusco, sem nenhuma sensibilidade. Sentir o toque é algo que envolve emoção, que deveria até mesmo ser feito sob meia luz, com trilha sonora instrumental, regado a um bom vinho, com perfume de gardênias...
- Asderbaldo, é pra sentir o toque, não para esbofetear o coitado do sofá. Assim ó.... acaricia o tecido... o que você sente?
- Uma dor nas canelas que tá ....

Ainda quando você sente o toque do tecido no sofá de exposição, é uma coisa já estranha, mas tudo bem. Pior é quando tem que sentir o toque no mostruário de tecidos e ter que imaginar como é que aquele quadrado de 30x30 cm vai ficar em um sofá inteiro.

Outra coisa que até hoje, mesmo depois da maratona, não consegui entender é se você deve ou não sentar no sofá que está na loja. Nas primeiras achava que tinha que sentar, tinha que sentir se o sofá era confortável. Para ser sincero, teve até vendedor que incentivou a sentada
Em outras lojas, bastava ameaçar sentar que o vendedor olhava com cara feia. Daí você fica naquela posição ridícula, meio joelho arqueado, traseiro meio empinado, tronco meio tombado, uma mão em um braço do sofá e a outra no ar, olhar de "que catso será que é pra fazer agora" e, ao final, ou acaba sentando mesmo e que se dane o que o vendedor está pensando (você não vai mesmo comprar mais nada naquela loja), ou inventa uma frase completamente estapafúrdia e arruma a postura (algo do tipo, hummm interessante a padronagem do piso desta loja) ou a tal de lei da gravidade fala mais alto e você vê que não vai agüentar o peso da barriga nos joelhos já cansados e tenta se reerguer, igualmente não conseguindo, pensa que é melhor acabar de sentar, mas já está fora da zona sentante do sofá e pega meia-bunda no cantinho do sofá e o restante da dita cuja em pleno ar, levando o restante do corpo ao chão. Seja como for, uma situação absurdamente desastrosa, até mesmo pq a mão que não estava apoiada no braço do sofá busca algo para segurar e a única coisa que acha é o braço do vendedor que, magricela, acaba indo parar no seu colo.

Ou seja, não dá para saber se senta ou não. O que não adianta nada, pq tanta gente já sentou naquele sofá que a espuma já está amaciada. Se você, inadvertidamente, decidir pela compra do mesmo, o que chega na sua casa vai ser um de espuma nova. Daí, vem a pergunta, cadê aquela maciez, aquele aconchego.... Calma, daqui há dois ou três anos, a espuma amacia....