sexta-feira, julho 07, 2006

Prestar atenção


- Mamãe, eu já falei para a senhora que a culpa não é do Asderbaldo..

- Claro que não é... Mamãe... Mãe, deixa eu falar...

- Também não é assim. Não é que ele só reclama... é que ele tem um gosto muito particular...

- Mamãe!

- Xi, mãe.. ele chegou. Depois ligo pra terminar a conversa. Tchau.

- Claro, mãe. Tchau.

- Mãe! Para com isso.

- Outro.


- Amor é você?
- Olha... depois dessa semana de cão... nem sei mais... acho que um dia fui...
- Tadinho do meu Asderbaldinho... tá cansadinho, tá?
- Já te disse que odeio quando você me chama de Asderbaldinho. Já não chega ter esse nome maledeto ainda você coloca no diminutivo.
- Ah, que é isso. Eu acho teu nome maravilhoso. É... é... é hiper original.
- Originalíssimo. De uma criatividade ímpar!
- Ai, mas eu sempre faço você se sentir bem com ele...
- Ninguém consegue se sentir bem com um nome como esse... mas deixa pra lá. Tô morto e faminto.
- Pois saiba, meu amor, que eu até imaginei que você iria chegar com fome e preparei um jantarzão só pra nós dois.
- Tua mãe vem aqui!
- Quê?
- Tua mãe? Tua tia? Quem vem jantar em casa?
- Ninguém oras, somos só eu e você. Pq?
- Sei lá... você está estranha... até fazendo jantar...
- Bobinho... eu faço tudo pelo meu Asderbaldozinho.
- Dá pra parar de me chamar assim. E as crianças?
- Sexta-feira santa.
- Quê?
- Sexta, meu amor, sexta. Já saíram com os amigos.
- Então... eu e você... jantar feito...ah, claro, você estourou o cartão de crédito.
- Asderbaldo!
- Desculpa... é que quando a esmola é muita...
- Bobão. Vai... vai tomar um banho enquanto eu coloco o macarrão na mesa.
- Macarrão? Deus do céu... se tua mãe não aparecer, ganhei na loteria.
- Dá para deixar minha mãe em paz?
- Se ela me deixasse...
- Tchau. Já pro banho.


- Uau... que mesa linda.
- Obrigado amor.
- Dois pratos... dois copos... e não é que é só para nós mesmo?
- Você nunca acredita em mim...
- Agora... o macarrão!
- Um.... tagliarinni... que delícia..
- E o molho...
- O molho encorpado, saboroso e da cor do pecado.
- Pecado? Molho branco tem cor de pecado?
- Molho branco?
- Que foi?
- Não... é... nada. Deve estar uma delícia...
- Que foi Asderbaldo?
- Posso ser sincero com você? Sabe, eu até gosto de molho branco, gosto mesmo, o teu molho branco é uma delícia. Mas, molho que eu gosto mesmo é molho vermelho.
- Como assim? Mas você sempre disse que gostava de molho branco?
- E gosto. Juro. Mas é que toda vez você faz molho branco e eu prefiro molho vermelho. Você já me viu em algum restaurante pedir algum macarrão com molho branco?
- Não sei, nunca reparei.
- Pios é...

Bem, minha gente, encurtando a história. O Asderbaldo acabou pegando uma lata de molho de tomate e, junto com seu amor, preparou um molho rose, comeram o macarrão e, naquela noite... bem, naquela noite, acho melhor deixar o nosso casal em paz.
Tudo isso foi pra dizer que sempre é bom a gente parar e pensar que pode ser que estejamos fazendo alguma coisa com a melhor das boas vontades, crente que o nosso cliente, nosso parceiro, nosso alvo está contente da vida quando, na verdade, bem no fundo, ele até está satisfeito, mas não está completo.
Se a gente conseguir perceber isso - em tempo de não estragar a noite - vamos ser melhores pessoas, melhores profissionais.
Se, de um lado, você faz alguma coisa crente que seu "outro lado" está contente e satisfeito, de vez em quando dá uma perguntadinha e lembre-se, não se ofenda com a resposta.
Se, do outro lado, você recebe alguma coisa que está nota 7 ou 8, procure alguma forma de contar que quer a nota 10, pois sabe que seu "outro lado" pode lhe dar.
Nunca esqueçam que uma nota 8, repetida várias vezes, vira 6.... vira 5... vira 3 e a gente, no final, acaba repetindo de ano. E mesmo se não repetir, pode passar, mas vai ser um "aluno mediano", quando temos todas as condições de ser o melhor da classe.