segunda-feira, junho 26, 2006

Telefone

Um dia, pelo que se sabe, um tal de Graham Bell - um escocês (raça que tem a vantagem de poder tomar whisky nacional em qualquer buteco sem se preocupar com as conseqüências no dia seguinte - ô inveja) que se preocupava em descobrir formas de propagar o som por algum meio físico, inventou o telefone.
Desse dia em diante, até hoje, o restantes da humanidade tem se esforçado para fazer desse instrumento um verdadeiro tormento. E nem estou me referindo aos sistemas de televendas, aos namorados de sua filha, às amigas de sua sogra (alguém pode me dizer qual o motivo que leva uma amiga de sua sogra a te ligar?), à assistência técnica daquele carro que você vendeu há cinco anos e outros. Mas somente, neste caso, aos próprios aparelhos de telefone.
"No sentido de modernizar o sistema de telefonia da empresa e facilitar o seu dia-a-dia, estamos lhe enviando o novo Mega Power Plus Action Voice". A carta que recebi da área de telefonia da empresa começava mais ou menos assim. Vinha acompanhada de dois volumes, um de tamanho médio e outro com razoável porte.
O médio era o telefone. O outro o manual de instruções do aparelho.
A gente começa a desconfiar de alguma coisa quando lê o nome do aparelho. Ou ele não faz um oitavo do que está proposta a fazer ou, a alternativa mais provável, você não vai saber um décimo do que ele te oferece.
Não que, na realidade, algum dia você vá precisar de tudo aquilo. Mas a gente se sente meio imbecil quando tem à nossa disposição uma infinidade de alternativas e não usa.
O dito cujo telefone por exemplo - na verdade um sistema multifuncional avançado de telefonia fixa ampla (entendi tudo, menos o ampla), mas para continuidade literária, vou chamá-lo de telefone mesmo - além das teclas necessárias e de 24 teclinhas transparentes programáveis, coloca inteiramente à minha disposição outras 40 opções de memória e discagem rápida.
Se eu já estava em dúvida se tinha 24 contatos para programar naquelas teclinhas, acabei entrando em profunda depressão quando tive que achar outros 40 números.
Pior foi quando me disseram que os 24 mais os 40 não necessariamente queriam dizer 64 números. Ou seja, a versão avantajada da invenção do tal de Bell que eu tinha ali na minha mesa também desafiava a matemática.
Após algumas horas finalmente descobri que as 24 teclas de programação poderiam ser tanto para memorizar números ou funções como rediscagem e outras coisas igualmente inúteis.... ops, perdão... igualmente fundamentais para a sobrevivência do cotidiano empresarial - era algo assim que estava na carta.
Bem, uma hora eu comecei a programar os telefones de contato. Daí surgiram as dúvidas.
A gente deve programar nas primeiras teclas os telefones pessoais ou os profissionais mais utilizados?
Resposta: como as primeiras teclas ficam mais visíveis que as outras, devemos sempre programas os profissionais mais impactantes, independente do uso. Assim, quem estiver próximo à sua mesa e der uma olhada no aparelho vai morrer de inveja e ver que você tem o número do presidente, do diretor e de outros nomes significativos programados logo nas primeiras teclas.
Problema: quando sua mulher for visitá-lo e ver que o telefone dela está programado na memória 27 e quiser saber, em detalhes, quem são as 26 vagabundas para as quais você liga antes dela, seu cachorro, ingrato....
E assim fui colocando os números... um a um... e programa...confirma.... digita... programa... confirma.... e agora? Memória 32 vai o número do...Ah, do Carlão, claro.
Tudo bem que a última vez que você ligou para o Carlão foi há sete anos, que você não tem a menor idéia se aquele ainda é o número do Carlão, mas a chance de você algum dia chegar na memória 32 do aparelho é igualmente pequena. Então, tudo bem.
Confirma.
E a memória 33? Bem, trinta e três lembra coisa de médico. Ah, o telefone do dentista da sogra. Não, peraí, aí também é fim de carreira. Programar o telefone da sogra ainda é algo perdoável, mas do dentista dela? Também, não vamos baixar o nível. Não tanto.
Em resumo. Das 40 memórias programáveis, até hoje tenho somente 32 colocadas (certo que de úteis mesmo, se der umas 14 é muito). Das 24 teclinhas da frente do aparelho, apenas 12 estão em uso - se bem que tem uma que insiste em piscar... meu amigo Faustino (que coloquei na memória 27) acha que estão me grampeando e diz que devo chamar a telefonia para pedir uma averiguação.
Até liguei, mas eles disseram que para fazer isso teriam que apagar as memórias do aparelho. Daí pensei, o que? e eu teria que reprogramar tudo de novo? nem pensar......
Semana que vem a mesma área de telefonia já mandou cartinha e disse que vai trocar o celular. Segundo eles, o novo aparelho irá facilitar substancialmente os processos de comunicação móvel e blá-blá-blá, por isso colocarão à disposição um aparelho que, além das funções de isso e daquilo terá 102 memórias programáveis de acesso e....
- O que? 102? Alguém aí tem um número para eu programar? Aceito doações....