sexta-feira, junho 09, 2006

Pra que lado eu vou?


- Moço.... ô moço.
- Sinhô
- Por favor, o senhor tem idéia de como é que eu faço para chegar na Estrada da Roseira?
- Xi, moço, tá longe.

Era tudo o que eu queria ouvir. Na verdade não era, mas depois de 40 minutos rodando numa estradeca de terra completamente perdido, ouvindo minha mulher do lado dizendo que o caminho estava errado, que era melhor voltar, que eu tinha entrado na segunda saída e ela tinha dito que era na terceira....
Ela até que dirige bem - quando consegue colocar as duas mãos no volante. O maior problema é conseguir dirigir, passar batom, lápis de olho e buzinar ao mesmo tempo. Dessas quatro opções, logicamente, a menos importante é a primeira: dirigir.

Mas também não é isso que me incomoda. Afinal de contas eu já bati o carro mais vezes que ela, o que para a seguradora é um indicativo de que ela dirige melhor do que eu - aposto que o corretor nunca foi com ela até a esquina, mas como o que vale é a estatística.
O que verdadeiramente me incomoda é quando ela está no banco do passageiros. Ah, nessas horas, a alternativa dirigir é substituída por outras oito ações e a alternativa buzinar continua válida - digam tem coisa pior do que vc estar dirigindo e um imbecil te dar uma fechada, você se virar para não bater o carro em uma manobra de mestre e de repente, vinda não sei de onde, com a rapidez de um raio, surgir um braço no meio do teu colo e tacar a mão na buzina.
Sério gente, você ali se virando para desviar do carro, não bater no caminhão do lado, não brecar para não levar uma chapoletada do carro de trás e não fazer as crianças no banco de trás parecerem um saco de batatas jogadas de um lado para o outro, quando vem a mão e táááááááááááááááá, dispara a tua buzina? O pior é o motorista do caminhão, que viu tudo, que até estava do teu lado, achar que a buzinada é para ele e soltar aquele palavrão cabeludo e você ser obrigado a olhar para ele com cara de pastel.
- É.... ela que fez...
- Te arrebento a cara, ô maluco. Tá querendo levar umas bolacha no meio da fuça?
- Desculpa.
- E você ainda pede desculpas, Asderbaldo? Seja homem.
- Dá pra ficar quieta no teu banco, olha ao zorra que você aprontou.
- Eu? Você que é um pamonha... nem pra buzinar serve.
- Se eu buzinasse tinha batido o carro! Ou buzinava ou desviada do cretino que me deu uma fechada. Qual você achou a melhor?
- Hã....
- E aí ô da buzina? Vai querer encarar?

Mas, como dizia, o que verdadeiramente me incomoda é quando ela está quieta e a gente indo calmamente para algum lugar. De repente, vai saber pq, solta um berro histérico:
- Entra aqui.
Você, ou melhor, eu, que dirigia calmo, ouve um negócio desses e não tem outra alternativa. Entra.
- Ah, não era na entrada seguinte.
E volta a ficar com a mesma cara que estava antes de fazer a ..... a...., é, antes de fazer o que fez.
Obviamente, uma vez que você entrou sa saída que a........., ufa.... que ela te indicou, o próximo retorno fica há.... há... bem, não há retorno. Agora você tem que seguir por esse caminho que vai dar sabe-se lá aonde.
- Era só dar uma rézinha e voltava para a estrada principal.... não foi pq não quis.
- Como dar uma rezinha? No meio do cruzamento? Tá maluca?
- Hã.... se tivesse deixado eu dirigir...
- Mas não deixei. Quem está dirigindo sou eu.
- Então pq não faz o caminho que sabe? Ninguém mandou entrar na saída errada.
- Você deu um berro na minha orelha. Entra aqui. E eu entrei.
- Pq quis.
- Pq você berrou.
- Não grita comigo!
- Não estou gritando. Estou dizendo que você é quem berrou para entrar na saída errada e....
- Olha. Ou você dirige ou vai entrar de novo na saída errada. Melhor prestar atenção na estrada.
- Tem horas que acho que é de propósito.
- O que? Você pegar a estrada errada?

Mas, retomando o momento do início da crônica.
- Longe quanto?
- Óia, moço... bem longinho.
- Sabe o que é moço... ele entrou na saída errada da estrada e agora está perdido.
- Dá pra parar?
- Mas entrou mesmo.
- Vou ter que repetir a história do berro?
- Pronto, vai começar a reclamar.
- Eu não reclamo. Você berra na orelha para entra e agora eu é que reclamo.
- Asderbaldo.
- Que é?
- O moço.
- Que moço?
- Aí, fora, o moço que tá olhando para essa tua cara de pastel.
- Ah, desculpa... é, o senhor disse que é onde mesmo a Estrada da Roseira?
- Falei não sinhô. Só disse que tá longe.
- E, por obséquio, o senhor sabe, pelo menos, qual o melhor caminho para se chegar na Estrada da Roseira?
- Não seja cínico com o moço que ele só está querendo ajudar.
- O melhó caminho é entrá na saída do bar do Tião e i até cruzá com o caminho dos tropêros.
- Meu amigo, eu não conheço absolutamente nada aqui na região.
- Si mi sigui eu tô indo pro bar do Tião e o sinhô pode vir atrás.

Apenas um pequeno, quase desnecessário detalhe que vou contar aos leitores: o moço estava a pé.

- Dá uma carona pro moço Asderbaldo.
- A gente nem conhece o figura.
- Vai querer ir atrás dele?
- Aceito a carona, si o sinhô num simportá.

Em resumo. O raio do Bar do Tião ficava a menos de cinco minutos naquela mesma estrada. Pura linha reta. Nem que eu quisesse não tinha como errar.
Paramos e o moço desceu.
- Agora é só virá aqui e i até o caminho dos trôpero.
- E a Estrada da Roseira?
- Fica logo depois, no caminho dos trôpero o sinhô entra às direita que num tem como erra.
- Obrigado então, heim.

- Você devia ter pelo menos pagado um cafezinho para o moço, Asderbaldo. Ele foi tão gentil.
- Gentil o que... foi uma besta. Se tivesse dito que era só ir reto, virar no bar e a direita na tal estrada dos tropeiros...
- Caminho dos tropeiros, Asderbaldo. Depois entra errado e fala que a culpa é minha.
- Não vou discutir.
- Mas está.

Para encurtar. Nos perdemos. Nunca achei o tal caminho dos tropeiros. Acabamos caindo numa estrada que nos levou de volta para a primeira estrada que estávamos (aquela, antes do berro Entra aqui!!!!!) e horas depois chegamos no hotel da Estrada da Roseira.
Na entrada, pasmo, dou de cara com o rapaz que deixei no Bar do Tião.
- Como é que você chegou aqui?
- Lá do bar do Tião.
- Mas era do outro lado do mundo!
- Do ponto in qui o sinhô me perguntô era. Do bar do Tião é um tirinho dispingarda. Só anda in frente mais um tantinho.
- Em frente?
- É, sai quasi aqui.
- E pq você me disse para entrar na saída e ir até a estrada dos tropeiros que nunca chegou?
- Caminho dos tropeiros, Asderbaldo, caminho.
- Hoje eu .....
- O moço, Asderbaldo.
- Que moço?... Ah, o moço....
- O sinhô perguntô o melhor caminho. Era aqueli mesmo. Tinha o indo in frente, até é mais curtinho, mas uma buraquêra só. Si o sinhô já tava perdido ali, cum us buraco intão...

Na hora lembrei da minha aula de Gestão do Conhecimento..... eu pedi para o moço uma informação.... se tivesse pedido o seu conhecimento....