quarta-feira, maio 31, 2006

Viver em condomínio

Viver em condomínio é sem sombra de dúvidas um dom. Alguns tem, outros definitivamente não.
Como São Paulo simplesmente tem mais gente que espaço para
toda essa gente, a proliferação de prédios de apartamentos, condomínios e outros monstros verticalizados é inevitável. Apenas esqueceram de incluir no currículo escolar a matéria cidadania e convivência - se bem que em certos casos deveria ser incluído no calendário de vacinas.
O ser humano, dizem, foi feito para viver em grupo, bando, turma. Particularmente, eu acho que a grande maioria dessa espécie deve é ser isolada pois não tem condições de conviver com um mínimo de decência com outro da mesma raça.
Daí chega uma construtora e despeja um caminhão de dinheiro na mão de um cara, compra a sua casa e ele, juntamente com a família, vai para um apartamento. É nesse momento que acaba o sossego: dele e dos demais incautos que foram, inadvertidamente, morar no mesmo prédio.
E não adianta escolher. Se o prédio é pequeno, com poucos apartamentos as manias são grandes, os problemas são grandes, as dificuldades são grandes. Se o prédio é grande, com muitos apartamentos, as manias, problemas e dificuldades são... exatamente as mesmas.
No meu prédio - só para contar um caso, pois tem assunto para um mês e meio de crônicas - acontecem umas coisas que, no mínimo, são consideradas, esquisitas.
E as desculpas são, sempre, o bem comum. Engraçado como o bem comum sempre penaliza, restringe, limita... não deveria ser o contrário?
Um dos assuntos mais polêmicos é a realização de serviços nos apartamentos. Pelo estatuto, que algum dia algum completo imbecil escreveu, está estabelecido que a realização de qualquer tipo de serviço nas dependências internas dos apartamentos deve ser realizada de segunda à sexta, das 9h às 17h, sendo vedada a entrada de prestadores de serviços fora desse horário e em finais de semana e feriados.
A desculpa.... ops, razão é, claro, o bem comum, o silêncio, o não atrapalhar.
Pois bem. O engraçado é que, tirando a inútil da síndica daquele condomínio, todos os restantes dos mortais (não, antes que perguntem, sindica não é mortal... a diaba está no cargo mesmo antes do prédio existir e ninguém a tira de lá, portanto, síndico é imortal) trabalham - para pagar a taxa de condomínio - minimamente de segunda à sexta, das 9h ás 17h.
Desta forma, já que também os serviços não podem ser realizados sem a presença do responsável pelo apartamento, você escolhe ou pede demissão aí do teu emprego ou o serviço não pode ser realizado.
Até concordo que se o serviço em questão for provocar barulho ou alterar a rotina do prédio (como fechar a água, por exemplo) não é justo ficar ligando furadeira às onze da noite. Mas e o técnico do computador, que foi instalar um novo programa? pq é que ele não pôde entrar de noite?
- Seu Asdisbardo, bánoite.
- Boa noite, Carmelo.
- Tá quimbácho um moço pra mexê nu seu computadô.... cumé seu nome mêmo?..... O Isfrávio.
- O Luís Flávio, Carmelo. Pode deixar ele subir.
- Podi não senhor.
- Quê?
- Posso dexá ele subi num senhor.
- Como não, Carmelo?
- É quisabi, seu Asdirbardo, já são maisi de oitcho hora e di noite num podi subi istranho nu prédio.
- Não é estranho, Carmelo, é o Luis Flávio, trabalha comigo na empresa, é técnico de computador. Tô falando, pode deixar ele subir.
- Posso não seu Asbirbardo, é as regra. Despois das cinco, nada de subi istranho pra fazê serviço nu prédio. É as regra.
- Tá bom, Carmelo. Faz um favor pra mim. Pergunta pro Luis Flávio se ele está com celular?
- O moço tá di celulá?.... Disse qui tá.
- OK, Carmelo. Obrigado.

Fico até imaginando a conversa que o porteiro teve com o técnico no meio tempo em que fui até a minha agenda, peguei o número do celular dele e liguei.
Daí pedi que ele desse dois passos para trás e voltasse ao prédio, se identificando como Luis Flávio, meu primo.

- Seu Asdisbardo, bánoite.
- Boa noite, Carmelo.
- Tá quimbácho um moço seu primo.... cumé seu nome mêmo?..... O Isfrávio.
- O Luís Flávio, Carmelo. Pode deixar ele subir.
- Brigado, tá subindo.

Vai entender. É como diz o Carmelo: é as regra.

2 Comments:

Blogger MM said...

Passeando por aí, caí nesse texto! Engraçada essa história... sei bem como que é. Hoje moro num condomínio tb, mas numa cidade muito diferente de SP... Não tem esse tipo de problema aqui... Engraçado, sabe que dá uma saudade esquisita! As vezes, olhando em volta, imagino o que o síndico do prédio que eu morava em SP faria aqui!!!

7:02 PM  
Blogger Sérgio Lapastina said...

A questão é essa Márcia... a gente nunca sabe o que é que um desses vai aprontar.... obrigado pela visita e volte sempre. sl

6:54 PM  

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