quarta-feira, maio 17, 2006

Aproveitar a Imprensa

Um último texto sobre isso (espero).
Uma última menção de bom trabalho precisa ser feita (espero que ainda tenha muitas a fazer, mas por motivos menos dolorosos).
Somente hoje foi possível fazer uma análise da cobertura jornalística dos eventos que macularam São Paulo e ainda não cicatrizaram.
Alguns jornais trouxeram estatísticas de tempo em que os noticiários ficaram no ar, número de acessos à Internet, volume de informações que eram colocadas à disposição, enfim, ficou a pergunta: a Imprensa cumpriu seu papel?
Em minha humilde opinião, digo que sim, com problemas, com falhas, com tropeços sem sombra de dúvidas, mas acredito que tenha sim feito o que precisava ser feito. E, se mais não fez, foi pq ela também foi pega de surpresa e pq precisava de um pouco mais de apoio para fazer.
Ouvi algumas pessoas que, assim como eu, ficaram com a tv ligada o tempo todo, zapeando canais em busca de fatos. Entendam, busca de fatos, não de comentários, não de análises, não de provocações, não de críticas: o que queríamos era saber o que estava acontecendo e orientações. Acho que no segundo item houve falha, mas a culpa não foi (somente) da imprensa.
Erros? Sim, muitos erros, o que é normal em um momento delicado como esse. Mas é importante que nós, as fontes, saibamos compreender e analisar e - acima de tudo - aproveitar. Em um momento em que a imprensa precisa de informações, que abre seus espaços para a notícia, tirando do ar novelas, filmes, programas de auditório e outras coisas, é hora de não deixar as redações sem o que colocar no ar.Caso contrário, duas alternativas: o lado de lá aproveita ou voltam as novelas, os filmes, os desenhos, o programa de vendas por telefone...É preciso ressaltar o trabalho que foi feito pelos repórteres, que se colocaram nas ruas para levar a imagem, a foto e o fato. É preciso ressaltar o trabalho que foi feito pelos produtores, que usaram toda a sua agenda de telefones para achar quem falasse, orientar os repórteres nas ruas e fazer o jornal acontecer.
Contudo, volto à pergunta: souberam as fontes aproveitar o espaço aberto? Depois reclamam essas mesmas fontes que o jornal não dá a sua versão. Em um momento em que absolutamente todas as portas, de absolutamente todos os veículos de comunicação estavam abertas, escancaradas, com tapete vermelho, souberam essas fontes ocupar seu espaço?
Páginas e páginas de jornais, horas e horas de televisão e de rádio, telas e telas de sites, todos ávidos por informações, por fatos, por conteúdo para ser preenchido e os produtores tendo que buscar comentaristas, analistas e outros "istas"...
E esses espaços se fecharam? Não, muito pelo contrário, continuam abertos, continuam a espera dos fatos, pois cabe à Imprensa, muito mais do que a qualquer outro poder, a qualquer outra instância, dar à sociedade a certeza que pode levar seus filhos à escola, que pode ir ao trabalho, que pode fazer compras no supermercado, que pode ir ao cinema, que pode dormir e acordar no dia seguinte. Não dá para criticar a Imprensa. Dá sim para aproveitá-la, para trazê-la para o seu lado e colocar toda a sua enorme, gigantesca, colossal força em prol de um trabalho conjunto. Ah, dirão alguns, mas a imprensa só se interessa por fatos negativos, por tragédias, por catástrofes.
E para esses responderei: será que é a Imprensa que só se interessa por isso ou são os clientes da imprensa que só querem comprar isso? Pergunte a si mesmo pq você lê o jornal pela manhã, pq escuta o noticiário no rádio, pq assiste ao telejornal, pq acesso os sites de informação, pq compra as revistas no final de semana e seja - pelo menos tente - ser sincero. Tudo bem, pode ser sincero, somente você vai saber a resposta, mais ninguém.
Será que você lê faz isso tudo para se informar ou para ver a tragédia?
Claro é para se informar, responderão todos em uníssono. Claro.
E então permitam-me apenas mais uma pergunta:
Tal qual na segunda-feira, hoje vocês (tirando a hora do jogo do Barcelona com o Arsenal) ficaram com a tv ligada? Em quantos sites entraram? Ouviram muitos noticiários nas rádios?
Pois saibam que, talvez não tanto quando na segunda-feira, aconteceu coisa pra caramba em São Paulo e se você estivesse, realmente, em busca de informação, teria sabido.
Mas, retrucarão vocês, para que eu iria querer saber o que se passou em São Paulo hoje, se São Paulo teve um dia normal?
Daí, direi, para terminar de vez com isso, que a Imprensa está certa em só noticiar a tragédia: a gente não se interessa e, em verdade, nem sabe o que fazer com o normal.
Pena.