segunda-feira, junho 19, 2006

Com ou sem risadas?


Ah, tinha certeza que hoje você ia escrever sobre o Bussunda.
Mas peraí, gente, não é exatamente sobre o Bussunda - profissional que eu até achava bem competente em seu ramo de atuação. Em termos de humos gosto de tiradas rápidas, tipo sacadinha, que não muita chance de pensar ou responder. Humor não é para pensar, é para fazer rir. A piada pode se excelente, mas se for longa, esquece, perde a graça.
E nisso a turma do Casseta & Planeta é muito boa. Em suas personificações acaba apertando o botão certo do humor com escárnio, de uma forma que se o parodiado se sentir agredido é pq efetivamente lhe serviu a carapuça e, assim sendo, não tem do que reclamar.
Contudo, não quero usar este espaço para falar do Bussunda ou dos Cassetas, mas para concordar com o Emílio Surita (esse mesmo, o do Pânico) em seu excelente texto publicado nesta segunda-feira na Folha de São Paulo.
No artigo... ops, na verdade uma carta endereçada ao Departamento de Vivos e Mortos do Céu, ele dá um verdadeiro esculacho no cara que determinou a passagem do colega humorista. Texto para ser lido, guardado, aplaudido, bem construído e, mais do que tudo, digno.
Pô, nos últimos tempos (pelo menos desde o início desta temporada de crônicas), tivemos a passagem do Arrelia, do Carequinha, do Ronald Golias, do Rogério Cardoso, agora do Bussunda e vai saber de mais quantos que estou esquecendo.
O que é que está acontecendo? É para parar de dar risada? Acabar com a alegria aqui da Terra?
Gostem ou não desses nomes (ou dos que esqueci), tal qual eu mesmo não era exatamente fã de alguns, os caras tinha um trabalho incrível para tentar - nem que fosse tentar - dar alguns minutos de desestressamento para o povo.
Gostem ou não desses nomes (e dos que esqueci), esses profissionais dedicaram suas vidas a mostrar um outro lado que, real ou ficção, era construído para cada um de nós.
Gostem ou não desses nomes (além dos que esqueci), esses artistas se juntam a tantos outros que, quando se foram, não tiveram seus trabalhos apagados. Apenas nos deixaram com saudade de uma época que podíamos dar mais risadas.
Com certeza, conforme escreveu Emílio Surita na Folha de S. Paulo de hoje, tinha gente que merecia ter ido antes.
Opa, dirão alguns, peralá, não dá para discutir isso.
Concordo, direi, não dá para discutir, mas dá para não entender.
Minha avó dizia que a morte não torna ninguém santo. Sábia, muito sábia. Disse isso quando viu o enterro de um cara que (permitam-me não citar quem) pintou e bordou em vida e ao descer do esquife ao túmulo, diziam que ia-se lá um exemplo de ser humano, marido amoroso, pai amantíssimo e amigo fiel. Lembro que ela olhou de lado e perguntou-me: confere aí se a gente está no enterro certo, acho que erramos de defunto.
Agora, não me venham querer dar uma de puritanos. Quem é que nunca soube de uma boa pessoa que passou desta para melhor e não pensou: e tem tanto bandido solto por aí.
Mas, voltando à minha sábia avó, que das coisas nada sabia, mas da vida tudo entendia - principalmente de como driblar uma dificuldade e de como transformar absolutamente qualquer gororoba que se colocasse no forno e no fogão em uma delícia de lamber os beiços - quem é que disse que a morte é punição para alguém? Morte, muitas vezes é reconhecimento, é mérito, é prêmio; principalmente se for calma, se for sem dor, se for para acabar com uma dor.
Problema na verdade tem quem fica, não quem vai. Mesmo aos que chegarem lá - seja esse lá o que e onde for - e tiverem que, na prestação de contas, constatar que ficaram devendo, poderá ser dada uma nova chance.
Tinha uma outra frase, desta vez da filha da minha avó - também chamada de minha mãe - que era mais ou menos assim: aqui se faz, aqui se paga... e torça sempre para conseguir pagar aqui, pq se sobrar algo para pagar do outro lado, nunca se sabe em qual moeda vão lhe cobrar o saldo devedor.
E, completando a carta do Emílio, da Folha de S. Paulo de hoje, já que vamos ter que nos esforçar para pagar aqui o que aqui fizemos, dá para deixar pelo menos alguns humoristas para a gente dar uma risadinha de vez em quando ou vai ter que ser a seco mesmo?