segunda-feira, junho 12, 2006

Dom Quixote em Quéchua


Para quem acha que eu só vou atrás de coisas inusitadas em sites de comunicação, a extraordinária notícia de hoje eu achei no igualmente obrigatório Valor Econômico (bem entendido, obrigatório como todos os outros jornais, revistas, emissoras de tv, de rádio e sites.... pq informação, conhecimento e cultura, é sempre obrigatório, é sempre muito bom, muito edificante).

Caso você tenha olhado sua biblioteca recentemente e achado falta de uma obra, sinta-se feliz, pois acaba de chegar às livrarias a obra máxima de Miguel de Cervantes, Dom Quixote, traduzida fielmente do original em espanhol para o quéchua.

Como? O que é quéchua? Como assim? Não acredito que você, justamente você não saiba o que é o idioma falado por mais de 20 milhões de pessoas em todo o mundo? Quéchua, meu caro, é o idioma falado pelos antigos incas.

Este cronista (e todos os que leram a edição de hoje do Valor), teve acesso à frase de abertura do livro. Nas edições escritas em português é assim: "Num lugar da Mancha de cujo nome não quero recordar-me".
Esta maravilha literária, em quéchua ficou assim: "Huh K'iti Mancha Suqupi Chaypa sutinta mana yuyanyta Munanichu".
Não é maravilhoso? (se vocês tivessem idéia de como foi difícil copiar isso do jornal....).

Agora, falando sério. A iniciativa não merecia uma nota em um caderno interno do Valor (que está de parabéns por tê-la informado), mas sim capa das revistas semanais, matéria de fechamento dos telejornais, sei lá, o que de mais nobre e importante existir no jornalismo.
Não pela valorização da cultura, não pelo resgate de um idioma, não por nada a não ser o fato de que é preciso, seja como for, em espanhol, português, quéchua, tupi-guarani... é preciso fazer o povo ler - e nada melhor do que um texto magnífico como Dom Quixote para ser lido.

Não foi Dom Quixote que ganhou uma versão em quéchua, foi mais uma chance que foi dada à humanidade de ser melhor, de ser mais unida, de ser mais humana.
Já imaginaram poder sentar com um inca e rir das agruras do Fidalgo De La Mancha, do amante de Dulcinéia, do dono de Roscinante, do mestre de Sancho Pança, do louco defensor da verdade, da honra e da galhardia.... quem sabe, ao ler o livro, o inca tenha a chance de entender - se é que dá para entender - o que lhe foi feito por um conterrâneo de Quixote (cujo nome verdadeiro, seja em espanhol, português ou quéchua, era Alonso Quijano), um tal de Cortez.