quarta-feira, agosto 30, 2006

A pitada - mais uma resposta

E não é que a pitada está rendendo....

Sou de uma geração onde as meninas faziam no então SESI, o mui concorrido curso de artes culinárias, coisa do tempo em que culinária era uma arte e no qual se aprendiam, também, as noções básicas de como cozinhar.

Na época, tal qual tocar piano, fazia parte da cultura de uma mocinha os dotes de forno e fogão.

Bem, foi justamente naquele tempo que comecei a transcrição de tudo o que fazia em vários cadernos que, ao passar do tempo foram mudando de forma. Quando cheguei à adolescência, a mudança maior: tudo ficou de lado, quase uma parte esquecida que depois de uns anos a gente percebe que não deve fazer parte do currículo profissional.

Era tempo em que cozinhar era coisa totalmente brega, fora de moda, e não uma linda forma de carinho e demonstração de amor para com quem é convidado a degustar o que normalmente quem faz acredita ser o manjar dos deuses.

Alguns anos depois veio a era da informática e eu, tal qual outras amigas, estávamos na fase inicial do casamento e querendo impressionar os maridos - ou como dizia a vovó, pegá-los pelo estômago - reviramos os armários e baús procurando aonde é que estavam aqueles cadernos que, um dia, tivemos o cuidado de escrever. Muitas de nós, até hoje não os acharam...

Mas, como eu, muitas encontraram e recomeçaram a sua utilização. Passamos as receitas das mães, tias, avós, receitas do açúcar União e do Dona Benta, tudo para o computador da época. Era época em que cada página equivalia a um arquivo e se imprimia uma página de cada vez.

Bom voltando as receitas, geramos um montão de arquivos que foram devidamente impressos e encadernados, e nos as meninas ficamos com uma cópia cada uma.

A informática evoluiu e nós, consciente ou inconscientemente, não fomos atualizando as versões do Caderno de Receitas. Os softwares foram mudando e nada de transformar os arquivos. Trabalho, filho, responsabilidades, outro filho, dores de cabeça, mais um filho - será que nunca vem menina?, separação (graças à Deus não a minha!), desquite, divórcio da Mara - Deus do céu? A Mara separou? Esse mundo está perdido!, a Graça ficou viúva, a Ju casou com o ex-da Mara e não se falam mais, nem tentei mais a menina... e o caderno de receitas, bem muitas vezes foi substituído pelo cardápio da pizzaria delivery, mas vira e mexe pego o dito cujo.

Sabe o que é pior? É que outro dia me deu uma vontade louca de atualizar tudo. Juntei nesse tempo umas receitas anotadas em folhas avulsas, recortes de revistas, anotações rápidas do programa da tv... bem, estava na hora de atualizar o caderno de receitas.

Num assombro de sorte achei o disquete com os arquivos, fui colocar no micro e....uai, o disquete não cabe no micro.

Era aqueles disquetes antigos, quadradões.

Ah, mas com certeza alguém da Informática lá da empresa saberia o que fazer. Souberam mesmo.

Acharam um micro que aceitava o disquetão e deram um "enter" e abriu... abriu... vai abrir....nada: o programa em que escrevi as receitas não existe mais, não é mais compatível. A Informática lá da empresa sabia realmente o que fazer: jogar aquele treco fora e digitar tudo de novo.

Qualquer dia vou começar a fazer... é bom, pois minhas sobrinhas já começaram a pedir as receitas da tia, minha secretária quer saber o segredo do empadão de palmito...

Ah, só para constar, o empadão de palmito era receita da minha avó, do caderno dela, que passou para o da minha mãe e que vai em frente, igualzinho... e lá alguém tem coragem de mudar aquela maravilha?

Da amiga, Cida Rivelli, claro que com umas "pitadas" minhas.