segunda-feira, agosto 14, 2006

Sem resposta certa... sem razão certa

Poucas vezes algo mexeu tanto com o Jornalismo como o seqüestro do colega Guilherme Portanova, da TV Globo, juntamente com o técnico Alexandre Calado. Uma ação que, mais do que um crime, foi uma demonstração do pouco caso que se está tendo com a vida, afinal de contas eles foram, tão e simplesmente, uma moeda de troca para a exibição de uma mensagem dos marginais pela televisão.
Ou seja, durante algumas horas, bastava pegar a tabela comercial de inserções da TV Globo para saber o valor da vida de um profissional, de uma pessoa - pelo menos, a tabela da Globo não é barata...
Hoje, após a divulgação da fita e, o mais importante, a libertação de Portanova, a opinião pública se dividiu. Muitos, até mesmo alguns editorialistas de jornais, criticaram fortemente a Globo por ter cedido e divulgado a matéria. Outros disseram não apoiar o fato, mas diante das circunstâncias concordam em afirmar que a emissora não tinha escolhas.
A decisão da Globo era efetivamente complexa, mas eles decidiram por um fator: tinham que assegurar a integridade de seu repórter e trazer ele com vida.
Até mesmo pq, com a visão aguçada que um jornalista tem, a chance de se realizar um reconhecimento dos bandidos era enorme - tal qual já foi feito e alguns nomes já foram identificados.
É o jornalismo contribuindo com a segurança, tal qual pode e deve ser feito.
Na linha dos que criticaram a ação, chegam argumentos de que ao ceder uma vez, agora todos os profissionais de jornalismo estão sujeitos ao risco de se tornarem moedas de troca.
"Ah, pega um jornalista qualquer e manda eles divulgarem a fita"

E, quem garantiu que, ao mostrar a fita, eles soltariam o refém?
E, mesmo exibindo a imagem, quem garantiria que eles não fariam o pior com o refém?
Ah, então era melhor não ter mostrado? Arriscar com uma vida?

Impossível saber. Impossível uma resposta certa.

Muitos hoje me perguntaram o que eu faria.
Creio ser impossível dar uma resposta correta.
De bate-pronto, assim de sopetão, creio que chamaria a reportagem, mas - em um ato tresloucado - pediria aos telespectadores que mudassem de canal, que não assistissem ao que iria ser exibido tão somente por exigência de bestas feras que dão tanto valor à vida, quanto a um DVD muito mal gravado.
Diria que sim iria exibir, pq queria ter meu amigo de volta, mas que durante aqueles minutos, por favor, que a sociedade de São Paulo desse sua resposta e mudasse a sintonia para a Cultura, SBT, Record, RedeTV, Gazeta, Bandeirantes, Rede Vida, MTV, Rede Mulher ou qualquer canal de tv a cabo, que fossem ler um livro, curtissem a família, o luar, sei lá, que fossem fazer xixi, mas que por favor, dessem a menor audiência da história da televisão mundial - preferencialmente zero, absolutamente zero.

Pior é que, como o ser humano é eminentemente curioso, capaz do tiro sair pela culatra e todo mundo sintonizar somente para ver o que era.....