terça-feira, agosto 29, 2006

A pitada - uma resposta


Meu caro Sérgio;
Agora posso morrer em paz: já sei como fazer "uma pitada" de alguma coisa.
Nunca tinha lido (nunca mesmo) um procedimentos de como fazê-la.
Vou levar pra minha mãe colocar no caderno de receita dela.
Aliás, esse caderno tem história.

Meu pai - adepto incondicional de informática - decidiu introduzir minha mãe nas facilidades que o mundo virtual proporciona. Ele a convenceu passar para o "Word" as receitas escritas à mão em um caderno encapado com todo capricho que uma professora de primário tem.
Nem preciso falar da letra dela, né? Letra de professora que ensinou os outros a escrever, a entender o que estava escrito e que até hoje reclama que o filho, jornalista, tem uns garranchos que não sabe de onde saiu... coisas do destino.

Pois é, quando fiquei sabendo disto, foi difícil imaginar minha mãe intercalando o olhar entre o monitor e o liquidificador - para ser extremamente sincero, foi difícil imaginar que minha mãe (ou qualquer outra, na verdade) tivesse um computador na cozinha, mas... que seja.

Depois de algumas semanas, em um daqueles almoços de domingo na casa dos pais, voltamos ao assunto e minha mãe foi buscar o caderno de receitas para me mostrar.

Mas, peraí. As receitas não eram para estar no computador? Será que ela estava tão avançada que tinha um laptop?

Então, chega minha mãe, com seu precioso caderno. Ela abre as primeiras páginas e nada de novo, somente aquela letra de professora impossível de imaginar como foi feita.
Até que chega ao ponto do assunto do almoço. Em determinada parte do caderno, as páginas escritas à mão começam a se transformar em folhas impressas em "Arial 12, Títulos em Negrito, Sublinhado" recortadas e coladas nas páginas do caderno.

A expressão de meu pai foi impagável. Uma espécie de "não teve jeito" ou "desisto" ou até "nunca mais me meto nisso".
Depois que consegui recuperar o fôlego por causa das gargalhadas, peguei o caderno e fiquei lendo aquelas receitas (só a parte escrita à mão).

Sou obrigado a admitir que aquelas receitas ficam mais saborosas com a letra dela.

Vou levar a receita da "pitada" para colocar naquele caderno.


Texto do amigo, companheiro e jornalista Jorge Fernando Jordão - com algumas pitadas minhas.