quarta-feira, agosto 16, 2006

Saudades dos bons e velhos coquetéis


Uma das maiores disputas aqui do departamento era quem iria cobrir a área de eventos.
Longe do fato de alguém estar louco para trabalhar, ir a um dos eventos (fosse promovido pela empresa ou junto com a equipe da empresa) era a certeza de um farto coquetel, um fartíssimo jantar e boas risadas.
Mas como dizia o velho poeta... o tempo passa e... bem, pelo menos hoje em dia continuam as boas risadas.
Ou, como diz o grande e sempre presente Odair: saudade do tempo em que a gente ia a um coquetel e sabia o que estava comendo.
Já repararam como que, no afã de ser diferente, criativo e "fino", os buffets estão se especializando em oferecer aos convidados uns trecos muito bonitos plasticamente------------ e com sabor igualmente plástico.
E tudo, absolutamente tudo, minúsculo.
Pior é quando vc pergunta ao garçom (normalmente também feito de plástico, pois é incapaz de emitir uma expressão - saudade do Alemão, da Trataria.,... aquilo é que era garçom... "Parla Sergione, come stai caro mio", e vinha abraçando, em seguida já colocava na mesa uma cestinha de pão com alho e soltava "a mesma macarronada di sempre?" - e tinha como não ser? tinha?)... voltando
Pior é quando vc pergunta ao garço o que é aquilo. O andróide te responde com alguma combinação de letras que, muito provavelmente, somente aquela espécie entende
- Luchéte au rofin
- Ah.... e isso - pergunta vc apontando para a outra coisa cor de laranja na bandeja.
- Genrerré di Lop

Quando isso acontece na primeira vez, vc até tem paciência para agradecer e dispensar.
Contudo, na trigésima nona, o estômago já está roncando mais alto que sua educação.

- Meu caro, quiquiéisso?
- Maketa Frattolli
- O que?
- Maketa Frattolli
- Que catso é isso?
- Lascas de dorso de marreco, marinadas no vinho do porto, salpicadas com alecrim virgem, dispostas no damasco ao vapor.

Esse acaba sendo o problema: a explicação é sempre pior que o fato em si. A única pergunta lógica que vc teria a fazer é se aquela coisa é de comer, mas como o dito cujo já se retirou, melhor deixar para lá.

E as bebidas então... outra grande surpresa. O segredo é dar um tempo com uma água para ver que tipo de bebidas serão servidas. Daí, vc se ferra de verde e amarelo pois tudo o que vem são coquetéis azuis.

- Coquetel do que, meu caro?
- É Blue Stovas, sr.
- Blue Istova?
- Blue Stovas. Um coquetel de .............. bem, tem mais bebida misturada naquele cálice do que vc sabia que existia. Como vc já viu dois caras torcendo o nariz, melhor ficar na água.

E chega o jantar. O ponto alto da festa.
O orador faz o discurso de abertura, o convidado especial fala algumas poucas palavras dispostas estrategicamente em 48 minutos e é servido o jantar.
Normalmente, nas mesas, tem um cartão com os pratos servidos. Acreditem em mim, melhor não ler.
Daí vem um prato de folhas e um treco que parece uma esponja de lavar pratos. Você olha ao prato, ao cartão e duvida que aquilo disposto à sua frente seja aquilo expresso no cartão - veja bem, não que vc tenha alguma idéia do que vem a ser qualquer um dos dois itens, mas que um não é o outro, isso é quase certo.
Azeitinho, vinagrete, salzinho, nem pensar.

E vem o prato principal. Pq é que o pedaço de carne da bacana sentado a seu lado é sempre maior que o seu, isso é uma daquelas coisas que nem Freud explica, é uma das imutáveis leis do universo, entenderam? Não adianta questionar, achar que o cara ao lado deu uma caixinha para o garçom, nada adianta: o dele é maior e ponto final.
Se bem que assim que você espeta o garfo na carne acaba achando que a sorte grande foi sua pelo pedaço menor.

E quando tentam servir macarrão? Uma verdadeira lástima.
Macarrão bom ou vc faz em casa ou vai na Taverna di Salerno. Fora isso, esquece cara, não existe.
Se te servirem macarrão fala que é contra sua religião comer massas às terças-feiras.
- Mas hoje é quinta, senhor
- Aqui no Brasil, mas em Shetalla, meu planeta natal, é terça. Desculpe, em honra à Shettibo, não posso colocar massas em meu organismo nas terças.
Ele até vai acreditar... muito provavelmente vai, afinal de contas, esquisitice por esquisitice....

Daí, hora mágica: a sobremesa que é uva entalhada com ricota - uma uva - UMA, disposta em um prato enorme manchado com calda de hortelã.

É nessas horas que vc lamenta não ter armazenado o telefone da pizzaria na agenda de seu celular. Será que eles entregam aqui?

É Oda, saudade do tempo em que, pelo menos, a gente sabia o que estava comendo.... mas, pelo menos as boas risadas continuam.