segunda-feira, agosto 28, 2006

A pitada


Nesse final de semana decidi retornar ao forno.

Na verdade cozinhar é uma dos grandes prazeres da minha vida.
Posso não saber fazer um arroz decente (a não ser aqueles de saquinho que já vem prontos.,... e sinceramente acho uma delícia), mas em termos de molhos e assados, me viro muito bem obrigado.

Há algum tempo eu estava com vontade de fazer uma coisa que minha vó, que foi quem me ensinou a cozinhar, disse para nunca fazer - e a besta aqui, só pra contrariar, estava louquinho pra fazer...

Aliás, engraçado, como minha vó cozinhava extremamente bem, minha mãe não sabia fazer um ovo frito e eu, que ficava ajudando, acabei saindo com dotes de forno e fogão (além, claro, dos apetitais). E eu não sou o único exemplo disso, parece que as habilidades pulam uma geração em todas as famílias... qualquer dia pesquiso isso melhor...

Mas, voltando, uma coisa que minha vó dizia para nunca fazer era seguir receita. Ela dizia para dar uma olhada, respeitar as características de cada alimento, de cada ingrediente, de cada etapa do processo de preparação, mas nunca fazer exatamente o que a receita mandava.
Segundo ela, o grande risco estava no prato sair com gosto de receita e não com o gosto que você queria dar: afinal de contas, o grande segredo está no seu jeito de fazer.

E o pior é que ela estava absolutamente certa. Pois, mesmo me esforçando para seguir à risca a receita do que estava fazendo, chegou uma hora que mesmo que eu quisesse seguir o que estava escrito no livro, seria impossível.

Lá dizia: uma pitada de sal.
Oras, três ovos são três ovos, nem dois nem quatro, três. Meio litro de leite é meio litro, 500 ml. 700g de farinha são 700g, agora, meu caro, quanto é uma pitada?

No próprio dicionário (olha até onde vai a neura de uma pessoa: eu fui até o dicionário buscar a definição de pitada... fala a verdade, só internando e jogando a chave fora... tem cabimento isso?), pitada quer dizer pequena porção de alguma coisa.

A regra culinária diz que para obter-se a pitada, deve-se esticar o dedo indicador juntamente com o polegar, enquanto manten-se os dedos restantes levemente dobrados. Os dois dedos não devem estar rígidos, mas esticados com suavidade.
Introduza a ponta destes dois dedos no recipiente com a substância que deseja obter a pitada até um terço da unha - caso deseje uma pitada mais substancial, pode introduzir até metade da unha, mas aconselha-se a repetir a pitada de um terço caso a quantidade pitada na primeira vez venha a ser insuficiente.
Em seguida feche os dedos com uma leve pressão, assegurando que uma quantidade da substância tenha ficado presa entre eles.
Erga cuidadosamente a mão e leve os dedos com a substância presa até a vasilha aonde deseja despejar a pitada.
Lá chegando, esfregue, com movimentos constantes e suaves os dois dedos, de forma a espargir a substância pela superfície desejada.
Continue a seguir a receita.

Observações importantes:
- caso a pitada seja parte integrante da receita, tal como sal, açúcar ou outra substância, mescle com o restante do conteúdo até obter uma forma homogênea
- caso a pitada seja posterior à receita, tal como orégano, açúcar de confeiteiro ou chocolate granulado, assegure-se de conseguir um efeito visualmente uniforme, não deixando acúmulo sobre a superfície pitada.

Derivações:
- se, na receita estiver determinado que alguma substância deva ser "a gosto", pode-se utilizar a mesma técnica da pitada, apenas assegurando-se que a pitada seja, como descrito, a gosto.

Gostaria de deixar claro, para a posteridade que, finalmente entendi pq é que minha vó deixava o livro de receitas como peso de porta.