segunda-feira, setembro 18, 2006

As Chaves



Ao contrário de meu colega, Prof. Dr. Wagner Mekaru - cuja crônica os amigos terão a oportunidade de ler logo abaixo - o meu problema não está exatamente na quantidade de chaves que sou obrigado a carregar diariamente. Não que sejam poucas, mas a principal questão é que o chaveiro que tem a chave da porta que eu preciso nunca é exatamente o que se encontra no meu bolso.
Tentei, como ele, separar as chaves por similaridade de uso... vã tentativa, pois de alguma forma ou de outra todas as chaves acabam se relacionando. Incrível como a chave do cadeado do carrinho de compras do meu prédio tem tudo a ver com a chave do armário de remédios do escritório... por favor, não me perguntem agora como é que foi que cheguei nessa relação, sei que, após algumas horas as duas tinham que estar juntas para o bem da humanidade e, separadas, minha vida praticamente não tinha mais sentido.
O mesmo se deu com as chaves do cofrinho do meu filho. Sua relação com a chave do cadeado da corrente do porta-bicicletas era algo praticamente palpável... como é que eu não tinha reparado antes?
A solução era carregar todas... o que se mostrou fisicamente impossível. Não pela falta de bolsos nas calças - aliás, escapando rapidinho do tema, alguém já reparou no absurdo de bolsos que as calças tem hoje em dia? Até poderia ser legal, mas qualquer dia preciso perguntar pq é que as calças que mais tem bolsos são justamente as de elástico na cintura... e, bem, a equação bolso + conteúdo = peso, não combina com elástico... se é que me entendem.
Outra coisa sobre chaves que me intriga é se existe ou não alguma estratégia de segurança para elas. Algo do tipo, não carregue a chave da porta da frente de sua casa com a da entrada de serviço - se vc perder uma, sempre vai poder entra em sua casa. A desvantagem é que, invariavelmente vc vai subir pelo elevador errado: se estiver com a chave da frente vai pegar o elevador de serviços e vice-versa.
Bem, então vamos carregar as duas juntas.... mas se eu perder fico de fora de casa.
Mas peraí: tanta preocupação pq? Quantas chaves vc já perdeu na vida? Seja sincera, não deve ter sido um número absurdo.
E, falando a verdade, o pior de tudo não é perder uma chave, mas achá-la. Sabe quando vc, depois de alguns anos, decide fazer uma limpeza na gaveta de seu armário... qualquer gaveta e lá no fundo, bem lá no fundo, encontra uma chave.
Uma chave qualquer, simples, sem absolutamente nenhuma marcação de onde, nenhuma dica de qual porta, gaveta ou caixa ela um dia serviu para abrir.
Independente da poesia, seu primeiro ato é abandonar a arrumação da gaveta (ufa... escapou) e sair enfiando a chave em tudo que é fechadura que encontra pela frente. Sem contar os comentários
- Mas isso é chave de gaveta, não de porta.
- De forma alguma, eu já vi essa chave é de alguma caixa mais ou menos desse tamanho e que estava dentro do armário lá da casa da minha avó, em Pirapora do Bom Jesus.
Como é que uma chave do armário da casa da avó de seu cunhado iria parar no fundo de sua gaveta de meias é algo que você decide ser melhor não descobrir...
Em resumo, após algumas horas e diversos debates familiares, você volta ao quarto e, deitado, fica olhando para aquela chave até jogar ela num canto do quarto e esquecer do assunto.
Dois dias depois você está que nem um retardado, de barriga no chão do quarto tentando pegar a chave que foi parar debaixo da cama pq lembrou que aquela porcaria era a chave da caixa de seu jogo de damas. E quando finalmente consegue, sai procurando a chave do armário onde está o jogo - encostado desde que a chave da caixa foi perdida.

Ah, só para terminar... a chave não era da caixa do jogo de damas...


Sérgio Lapastina está em http://slapastina.blogspot.com/

As Chaves - Wagner Y. Mekaru

Já reparou quantas chaves carregamos?
Da casa, do portão, do cadeado da janela, do escritório, do carro, etc, etc.
Eu, particularmente carrego um molho onde estão as chaves do escritório, da minha casa e da porta do meu prédio, que raramente uso, pois esta última costuma estar trancada somente de madrugada. Carrego também um chaveiro onde vai a chave do carro e o alarme.
Os chaveiros também tem um sentido interessante; algumas pessoas não ligam, mas a maioria gosta de um belo chaveiro mesmo que seja brinde ou algum tipo de propaganda.
Voltando a saga do claviculário, tenho também um chaveiro do Perú, onde nunca fui, mas ganhei de um grande amigo que me trouxe como lembrança de viagem. As chaves que lá estão abrem o agora mais organizado armário e gaveteiro do escritório.
Num outro chaveiro de Porto Seguro, onde também não estive, (constatação: preciso viajar mais), estão as chaves do portão e da porta da casa de meus pais. No singelo chaveiro do "Caracol", (antigo projeto aqui da empresa sobre educação ambiental voltado para alunos do ensino fundamental), está a chave do cadeado da garagem desta última casa.
Por falar em pais, há uma história engraçada sobre chaves. Costumo visitá-los aos finais de semana e lembro-me que certa vez, logo quando mudei de casa, esqueci as chaves de casa lá e só me dei conta quando cheguei na porta do apartamento (detalhe: moro na Zona Norte e meus pais na Zona Sul). Como não carrego cópia das chaves no carro, tive que fazer todo o trajeto de volta e isso num domingo a noite.
Claro que esse episódio num sentido simbólico poderia ilustrar alguma dificuldade que tive na adaptação para morar sozinho, mas isso que hoje é engraçado lembrar é página virada.
Atualmente há também um outro tipo de chave: as senhas que são chaves virtuais.
Faça um pequeno exercício e verifique quantas senhas você possui; irá se impressionar com certeza já que a cada dia o mundo pede mais.
Eu, para evitar grandes confusões procuro padronizar algumas delas, mas sempre fica aquela pulga atrás da orelha, aquele senso paranóico que diz não ser muito seguro tal procedimento.
Bom, aí saindo do concreto e invertendo o jogo, pergunto: a quem confiamos nossas chaves?
Se chaves são elementos que abrem e fecham portas entre outros e, assim, dão acesso a uma outra "dimensão", em quem você confia as suas chaves?
Recordo de um chaveiro que tinha uma forma de coração e no meio havia um corte em forma de "serra" de uma chave com os dizeres: "aqui só entra quem tem a chave". Um pouco piegas, claro, mas detentor de um sentido simbólico fatal.
Vem a questão novamente:a quem damos o direito a essa chave?
E nós mesmo, lembramos qual era a chave que abria? Num molho de inúmeras chaves que usamos para nos trancarmos, as vezes nem sabemos mais qual possibilita tal acesso.
Muitas pessoas do lado de fora continuam a tocar a campainha, sem saber que do lado de dentro há alguém procurando as chaves, ou com medo, observando pelo "olho mágico".
Cansados, muitos desistem e vão tocar outras campainhas. Outros, cientes das dificuldades do outro, aguardam a porta abrir (possivelmente porque também são possuidores de grandes molhos e assim cultivam a paciência até que a porta se abra).
Ainda trabalhando por analogias, questiono o que queremos ser: carcereiro ou zelador?
Um carcereiro é aquele que prende e tem a função de manter alguém ou algo aprisionado. Tudo bem, todos vão falar que o carcereiro também solta e isso é fato, porém se a palavra "carcereiro" for pronunciada, o primeiro pensamento associado será o de prisão, correto?
Já o zelador é aquele que confiamos... ok, ok, nem sempre é assim, concordo, contudo na mesma proporção da explicação sobre o carcereiro, imagine que você trabalha a semana toda e irá receber alguma encomenda, ou então está com reforma em seu apartamento, a ponto de não haver ninguém para acompanhar, a quem você pede o obséquio de receber? Sim o zelador.
Este profissional também quando você não está em casa costuma ser consultado de visitas fora de hora pelo pessoal da portaria e comumente barra, numa espécie de triagem quem ele acha que não "deve ter acesso a você", já que não deixou nenhuma instrução ao sair.
A palavra "zelador" deriva de zelo, que é o mesmo que cuidado; acho que é um pouco disso, quando nos permitimos o acesso a "outros lugares".
Pense um pouco, veja se não há um excesso de chaves no seu molho e tente perceber que função está tomando em sua vida a de carcereiro ou zelador.
"E vamos abrir as portas da Esperança."