sexta-feira, novembro 24, 2006

Toda vez que olho, me lembro


Hoje é dia de Confraria de Crônicas, Contos e Causos do Cotidiano - desfalcados do confrade Manfredini, mas - como dizia o velho taxista - sempre no ponto.

Toda vez que eu olho, me lembro - Sérgio Lapastina
Nunca fui de usar agenda. Verdade... tirando telefone, data de aniversário e idade, o resto sempre fui de lembrar de cabeça.
Poderia inventar um monte de desculpas, asneiras e auto-bajulações para isso, mas em verdade é que - apesar de virginiano - sempre fui desorganizado demais para organizar uma agenda. Portanto, sem escolha, ou lembrava ou lembrava, não tinha outra escolha.
Desta forma, acabei desenvolvendo (já entrando na auto-bajulação) uma forma de ajudar a memória. Como sempre fui bom (e nem ainda cheguei no ápice da auto-bajulação) visualmente ficava associando coisas aos compromissos.
Traduzindo: sempre deixava algo à vista para me lembrar que tinha que fazer alguma coisa. Daí era o seguinte: ou fazia ou a coisa fica ali e acumulava outra coisa e mais outra e eu tinha que fazer para querer voltar a dormir na minha cama algum dia.
Teve uma vez que eu até comprei uma agenda... pena que não consegui colocar alguma coisa que me lembrasse de anotar as coisas na agenda.... Na época eu pensava, que perda de tempo, se é para anotar na agenda que tenho que fazer, faço e pronto.
Prático. Eficiente e bonito.... até que pela primeira vez esqueci um compromisso.
E o que foi pior, não esqueci o compromisso propriamente dito. Sabia que tinha que fazer alguma coisa, que estava na hora de algo acontecer e não conseguia me lembrar o que era.

Sabe, tipo quando vc liga para alguém para contar alguma coisa e depois dos prolegômenos vc simplesmente não lembra pra que é que ligou para a figura... Não adianta enrolar. Esqueceu.

Daí a coisa aconteceu. Uma, duas, três vezes. Desespero total e... como?... não senhora não estou ficando velho.. por exemplo, ainda lembro que seu nome é Adélia... Amélia, claro.. é que é parecido, entende.. Adélia, Amélia... praticamente o mesmo nome... muda uma letrinha de nada...

Na verdade o que acontece é que a memória da gente vai ficando seletiva. Tem tanta coisa acontecendo o tempo todo que não dá para ficar atento e lembrando de tudo. Daí o melhor a fazer é realmente esquecer.

O melhor contudo que não esqueçamos dos amigos, dos amores, das paixões...

Talvez seja por isso que gosto muito de fotografia... pois toda vez que olho, me lembro que estive ali, me lembro que vivi aquilo e que hoje, se sou feliz, se sou tudo o que sou, é pq, posso me lembrar com orgulho que te conheci e que não quero te esquecer jamais.

Que jamais esquecerei o dia que nos conhecemos... no meio de.. de março... maio, claro. E você entrou com aquela calça jeans... saia? vc estava de saia?.. é... mas a tua blusa branca era a mais reluzent... vc jamais usaria saia com blusa branca?
Bem, mas pelo menor era você.



Era...Não era?




Toda vez que eu olho, me lembro - Wagner Y. Mekaru

Toda vez que olho para trás me lembro e percebo o quão longe estou do ponto de partida.
Um caminho que não tem volta, um chão que pede para ser pisado, distâncias que pedem para ser eliminadas.
Você sabe, há sempre choque, há sempre dor, tudo é parto e nada é fácil.
O Medo é uma sombra que sempre beira esse caminho, por mais que se corra, ele sempre está lá. Entretanto, quando a pisada se torna mais firme e a Luz vira horizonte, a sombra fica para trás.
No começo era mais difícil, eu concordo. Mas hoje o urso de pelúcia, a chupeta, aquele cobertor, a turma e o guarda chuva não tem mais sentido; você anda inclusive, a pés descalços em cima de brasa ou mesmo de cacos.
E eu olho com carinho para a estrada.
À medida que a poeira se levanta todos os flashbacks aparecem na tela do meu pensamento. Momentos alegres e tristes. Não há espaço para lamentos, todos eles compõem a sinfonia de minha vida, feita a vários movimentos.
Quando olho as fotos antigas me lembro que um dia já fui magro, já não posso abusar como os adolescentes que comem e não engordam, nem do açúcar, que nessa época queimava-se fácil. Hoje tudo se acumula e torna-se peso a arrastar pelas ruas.
As paredes a pintar me lembram que tenho onde morar.
Os pais e irmãos me lembram que tenho a quem retornar.
Nos momentos de angústia é pro alto que se volta meu olhar.
Sou sim, como você um eterno Mutante a se transformar.
E o caminho?
Caminho longo, caminho de pedras, caminho íngreme, mas as placas dizem para não parar.
Tornar-se melhor, saber aceitar as diferenças, entender que o outro também tem suas expectativas e caminha.
Quero sim me ajudar e assim ajudar o próximo. Não há beleza na miséria. Miséria maior é a miséria de espírito.
Mande embora o que está guardado no armário e você não usa mais. Aquelas roupas que já não te vestem, os sapatos apertados, isso tudo ocupa muito espaço.
Jogue fora aquele velho sentimento ruim que se alojou no peito e não tem razão de ser. Aprenda a perdoar.
Rancor, ódio, ressentimento, etc nada disso vai valer e é apenas fardo a carregar e como diz a música: "quem carrega pedra tem juízo mole..."
Sim, somos sim eternos aprendizes e a vida não cansa de nos ensinar; o problema é que às vezes cochilamos na aula e não percebemos como aquilo era importante. A ficha só cai depois, mas você ligou a cobrar.
No fim o teu olhar se volta pra estrada novamente e só há um caminho. No fundo você sabe e acredita que vai chegar. Tome um fôlego, continue a caminhar, mas quando olhar para estrada, lembre-se: você nunca está sozinho, você tem companhia nessa viagem, talvez isso te encoraje.