segunda-feira, janeiro 30, 2006

Adeus elementais


Meus caros e querido amigos, seres da natureza. Elfos, fadas, duendes, gnomos, salamandras, sílfides, faunos, centauros, grifos e companheiros elementais. É chegado o momento de partir.
Durante séculos vivemos nesta terra, cultivando-a, respeitando-a, tirando das plantas, do ar, da água, do fogo e do coração nossa força; usando nossa magia para criar e para fazer desse espaço um lugar melhor para se viver e imaginávamos que era bom e seria para sempre.
Usamos rocha, terra, forjamos metal, moldamos fibras, enfim o que nos era permitido fazer, fizemos e quando os homens chegaram, pensamos que eles estavam vindo para se unir a nosso grupo e fazer dessa terra um lugar ainda melhor para se viver e nela criar nossas gerações.
Cantamos nossas canções, tocamos nossas flautas, batemos nossos tambores, dedilhamos nossas cordas e erguemos nossas vozes até onde vento a levou. Acordamos os irmãos e irmãs que dormiam, despertamos os animais e as aves com a balbúrdia de nossas festas.
Cozinhamos nossos bolos e doces. Destilamos nossos vinhos, nosso néctares e nos embriagamos, certos de que após cada Lua viria um novo Sol para nos aquecer e mostrar o caminho de, mais uma vez, deveríamos seguir
Mas, em nossa embriaguez de vida, esquecemos de um pequeno detalhe. Esquecemos que somos pequenos, que dependemos de acreditarem em nós, de nos deixarem fazer parte do delicado processo da realidade.
Deixamos que nos levassem o dom, que nos esvaziassem a alma, nos cortassem as asas, nos tirassem o brilho, nos calassem a voz. Mas o pior de tudo foi que tudo o que foi feito foi com nosso consentimento, com nossa permissão.
Em nossa boa vontade de ajudar, de estar presente, de dar-lhes chance e capacidade para evoluir, não vimos que estávamos na verdade nos apagando, deixando de lado nossa força, murchando nosso desejo. A cada passo deles, um de nós era enterrado, não morto, mas esquecido - o que para nós é pior do que a morte.
Não nos resta escolha, irmãos e irmãs, é agora preciso partir. Sei que é duro deixar para trás o torrão da terra com o qual moldamos nossas existências, mas o risco que corremos é de que nossa própria existência não mais tenha lugar nessa terra.
Um dia podemos até voltar. Um dia essa terra e seus novos ocupantes irão perceber que precisavam de nós.
Até lá, vamos nos recolher e esperar que quando for para voltar, eles nos tenham deixado um torrão de terra para construirmos nossas casas, umas folhas para o teto e a luz de um sol e de uma lua, para ouvirem novamente nossas canções.