segunda-feira, setembro 25, 2006

Desisto de relógios


Decididamente tem uma coisa que eu desisti completamente de tentar entender - não, antes que venha algum engraçadinho dizer que sou metido a entender de tudo: eu não entendo de tudo, mas raramente desisto de tentar entender alguma coisa. Portanto, se eu desisti dessa é pq não tem como entender.
Já escrevi alguns textos sobre a questão do tempo, mas agora, oficialmente, desisto de entender os relógios.
Já há algum tempo desisti de usar relógios. Foi um antigo editor meu que disse que naquele fatídico momento em que coloquei um "X" na opção Comunicação Social - Jornalismo, no vestibular, estava na verdade abdicando de tudo que fosse relacionado a tempo - a não ser o horário de fechamento do jornal, da revista, do programa: desse nenhum jornalista escapa.

Mas, voltando ao ininteligível objeto que marca as horas (o que já é um conceito relativo, tendo em vista que, a partir do momento em que cada relógio marca uma hora diferente, é um objeto além de tudo no qual não se pode confiar - sim, hj estou a fim de acabar com essa raça chamada relógio), cheguei a conclusão de que a única coisa para qual ele serve é para nos lembrar que estamos atrasados - e, como todo bom virginiano, como eu odeio estar atrasado, não me agrada nem um pouco algo que fique me lembrando do atraso.
Ah, dirão, mas o atraso é culpa sua, não do relógio.
Pois não é não, respondo. Hoje de manhã, por exemplo, o estrupício do despertador não tocou e se não fosse algum anjo passar e me acordar, muito provavelmente estaria até agora debaixo das cobertas (o que até não seria uma má idéia, mas.... como tenho contas para pagar no final do mês...).

Levantar atrasado, em plena segunda-feira é o caos anunciado. É um tal de pular da cama, tropeçar, quase cair de boca na porta do banheiro, se jogar dentro do box e ligar o chuveiro e somente então lembrar que a água leva uns segundinhos para esquentar.
Obviamente, depois de todo o estardalhaço que você fez e do palavrão que soltou debaixo da água fria, o resto da família (e muito provavelmente do prédio, quiçá do bairro) nem mais precisa de despertador.
O banho é mera força de expressão e somente quando você tenta colocar a camisa é que se lembra que não enxugou as costas. Fala sério, alguém aí já tentou colocar uma camisa com as costas molhadas? É impossível.
Mas, graças a seu senso de planejamento (na segunda? de manhã? semi ressacado? atrasado? aí forçou heim....) vc consegue se aprontar em tempo.
Com os dois minutos que você ainda tem não custa nada ver pq é que essa porcaria do rádio relógio não despertou. A hora? Tá certa. A hora do alarme? Tá certa. O volume do rádio? Certo.
Enfim, vc chega à única conclusão lógica possível: ele não tocou pq não quis tocar.

Daí, vc chega no trabalho... felizmente sem atraso e qual a primeiro e-mail que recebe: um fiel leitor de seus textos, que viu sei lá aonde que lançaram um relógio todo esquisitão, que tem os números dispostos como se fosse uma cartela de bingo e que vai mudando de cor conforme passam os minutos e as horas.
Como vc não consegue imaginar como deve ser essa traquitana, guarda o link para, na hora de escrever a crônica, ser mais preciso com os leitores.

Exatamente na hora de escrever vc percebe que, na pressa se esqueceu de copiar alguma parte do link e a internet simplesmente não acha a página. No site de busca (deixo no genérico que não ganho para fazer propaganda gratuita do Google) vc coloca relógios e encontra um monte de modelo maluco... incrível mas parece que relógio é meio que fetiche, meio tara, meio compulsão, meio obsessão... quem começa a gostar de um, não para mais.

Por isso, meus caros, a partir de hoje quero decretar minha independência dos relógios e que não mais vou me importar com as horas e desta forma poder viver mais....

Quê? Já é tão tarde...
Olha, desculpa gente, tenho que ir, amanhã termina a crônica, desculpa heim...
Pô, custava alguém ter me avisado que já era tão tarde....
Vocês também, heim.... que coisa...