sexta-feira, setembro 22, 2006

Dia do Tietê

Hoje é o dia do rio Tietê. Em praticamente todos os veículos de comunicação, espaços foram abertos para a questão, sendo que a grande maioria foi muito correta na abordagem da questão: algo que me faz abrir a crônica com um agradecimento e com esperança.

Agradecimento, pois, até há pouco tempo, há muito pouco tempo, bastava falar sobre o rio Tietê que tudo o que se lia, via ou ouvia era poluição, descaso das autoridades, investimentos feitos em vão e a necessidade de uma maior cobrança por respeito à sociedade e ao meio ambiente.
Bem, de forma alguma quero dizer que qualquer um destes itens não seja mais realidade e não seja mais necessário - aliás, muito ao contrário - contudo, é reconfortante verificar que depois de quase dez anos batendo na mesma tecla, os concretos e verdadeiros resultados das ações realizadas estão aparecendo e alguns outros vilões estão sendo cobrados.
Depois de US$ 2,5 bilhões (sim, isso mesmo, dois bilhões e meio de dólares) convertidos em canos e tubulações, em estações de tratamento e em sistemas de esgotamento sanitário, o rio tem menos poluição.
E, além disso, após prêmios e reconhecimentos, o Projeto Tietê - considerado um dos programas ambientais mais bem gerenciados de todo o mundo - tem a sua continuidade assegurada.

Mas como é que esse cronista tem a cara de pau de falar isso, será que ele não passa na marginal e vê que o rio inteiro ainda é um grande esgoto a céu aberto?

A resposta é que sim, eu ando na marginal e vejo que o rio Tietê na área urbana, quando cruza São Paulo, mais ou menos até Pirapora, ainda está completamente poluído, atrapalhando a vida na cidade.
Mas também vejo que a mesma pessoa que me fez a pergunta, joga papel de bala na rua pela janela de seu carro e não me admiraria em saber que, a fim de economizar alguns poucos reais, não tem ligação de esgotos em sua casa, deixando que estes sejam jogados na sarjeta.

A poluição do rio Tietê tem três fontes: esgotos domésticos, esgotos industriais e sujeira de ruas.
A primeira está sendo atacada de frente e com responsabilidade - só não vê quem não quer ver. Agora, não adianta não jogar esgotos no rio em São Paulo, se o Tamanduateí e outros rios e córregos que desaguam no Tietê chegam nele totalmente poluídos...
A segunda, os esgotos industriais, também está com um bom controle, pois as leis ambientais estão mais rígidas (por vezes até demais) e hj em dia, empresa irresponsável ambientalmente não tem seus produtos comprados na prateleira do supermercado.
Já a terceira, a sujeira das ruas, depende sim de uma ação efetiva de limpeza pública, mas também depende fundamentalmente de uma mudança na atitude das pessoas.
Ou será que alguém acha que o papel de bala jogado pela janela do carro vai ser abduzido por algum disco voador que limpa a cidade?
Quando é que os estudiosos, os doutores cientistas, ao invés de ficar falando mal do trabalho de despoluição, vão usar suas tão sublimes inteligências para descobrir uma forma mais lógica de disposição de lixo que não um saco plástico na rua à espera de um caminhão para recolher?

Um dia, um grande amigo me disse que o rio é o termômetro da qualidade de vida de uma cidade. Hoje em dia fico contente em ver que, se isso for verdade, São Paulo está menos doente - mas ainda inspira cuidados.
O que queremos com o Projeto Tietê: que o rio Tietê volte a interagir com a sociedade de forma positiva, talvez nem venhamos a nadar ou pescar, mas que seu leito possa voltar a ser utilizado para transporte, suas margens para lazer e que o metro quadrado na marginal seja valorizado.

Isso depende da continuidade do trabalho que está sendo realizado, mas também depende de você, de mim, de todos nós. Depende de entendermos que temos nossa parte, que esgoto na sarjeta é poluição no rio, que sujeira na rua é poluição no rio, que carro com escapamento desregulado é poluição no rio, que educação é vida e esperança de vida melhor.

Não sei se concordo muito com a máxima que o mundo que nossos pais e avós nos deixaram, mas sim acredito que tenhamos que nos preocupar com qual o mundo deixaremos para nossos filhos e netos - pode ser que dê na mesma, mas me faz pensar no futuro e não olhar para o passado.