sexta-feira, outubro 27, 2006

Coincidências


Hoje é dia da Confraria de Crônicas, Contos e Causos do Cotidiano

Coincidências - Sérgio Lapastina

Se existem ou não, na verdade não sei e também não faz a menor diferença, o que sei é que coincidências acontecem e ponto final.
Uns chamam de destino, outros de karma... o que sei é que cada vez que acontecem, ou a gente tem muita calma ou literalmente pira.
Pois vejam: hoje a noite alguém tem algo para fazer? Não? Pois então, eu também não. Mas sexta que vem não somente tenho um, mas três eventos para ir.
Custava marcarem um em cada dia... não tem que ser tudo junto, tudo para atrapalhar.
Qual rapaz que não ficou maluco buscando convencer a menina a sair no sábado a noite e justamente quando consegue, aquela colega linda do colégio, a amiga da prima, a prima da vizinha e a vizinha da irmã...todas juntas...uma a cada vez... ligam querendo "pegar um cineminha". Coincidência?
Claro.... pura coincidência.
O pior é que a vida da gente é feita de coincidências. O desafio que temos é percebê-las e aproveitá-las.
Vejam por exemplo uma menina que passou a infância toda na Pompéia... mas que eu, nascido e crescido lá, nunca a vi.
A mesma menina que, coincidentemente, passou um ano na mesma faculdade que este escriba que - preocupado com outras coisas - não a viu, nunca a viu.
A mesma menina que passou férias no mesmo hotel em pelo menos duas oportunidades, que eu poderia ficar aqui contando uma meia centena de coincidências nunca aproveitadas... Mas que, pelo menos, antes tarde do que nunca, um dia, cansado o destino deu(me) um chute e disse: dá para olhar para a frente?
E eu? Fiz o que?
Ah, dessa vez não bobeei... olhei. Olhei e peguei.
Peguei e não solto mais.
Coincidência ou não... ela conta a mesma história, dizendo que quem me pegou foi ela.
Admitir não vou jamais,... mas ela tem toda razão.
Coincidentemente, como sempre tem....
Fazer o que né?

Coincidências - Wagner Mekaru

Coincidências não existem, esta é a minha opinião.
O tema deste texto surgiu quando o Manfredini comentou que a esposa dele, que é professora, foi apresentada a uma trilogia de Crônicas (Meu Bairro), por um colega de trabalho: o Professor Paulo Lopes.
O Paulinho foi meu professor de Sociologia no colégio e é leitor das crônicas.
Eis que um dos autores da trilogia era um tal de Manfredini e a colega de meu ex-professor é casada com um cara que tem o mesmo sobrenome e quis saber se o autor do texto era parente dele. Mundo pequeno: era o próprio.
Entendo que o modelo lógico-racional o qual insistimos em seguir é sempre interessante (e controlado – esta é a intenção), contudo, entendo que não se possa negar o universo simbólico contido nas "coincidências."
Não se trata de esoterismo (engraçado, no dicionário essa palavra está grafada com "x"), ou algo místico, mas sim uma conexão perceptível a algo que é invisível, mas que sabemos, está lá; algo que talvez não caiba mesmo explicação, que permeia um nível de consciência mais profundo ao qual não estamos acostumados.
Tem gente que fala em premonições, surgem os deja-vus, enfim, não desconsiderando absolutamente nada, acredito que exista alguns traços no destino de cada um, não exatamente maktub como dizem os árabes (estava escrito), mas alguns fenômenos ou acontecimentos que tem de ocorrer na vida de determinada pessoa, talvez até para que esta aprenda ou absorva algo dessa experiência.
Neste ponto talvez uma intersecção com a concepção de Karma que o Budismo nos ensina, que por sua vez o "amai-vos uns aos outros", idéia presente no Cristianismo, a meu ver fala de idéias muito semelhantes, afinal, aprendemos a não fazer ou desejar aos outros o que não queremos a nós mesmos. Coincidência? Responda você.
Ainda para tentar ilustrar essa idéia, vou pegar um exemplo que vi outro dia num curso sobre atendimento ao cliente que participei, onde a consultora falava de uma situação de trânsito, onde o marido da mesma reclamava e buzinava de um carro mais lento a frente e ela de maneira assertiva começou a indagá-lo sobre o motorista a frente que parecia com o pai de seu marido (descrevendo e comparando fisicamente o motorista com o sogro), ou seja, se numa situação dessas fosse realmente o pai do motorista reclamante o sentimento seria outro? (os palavrões com certeza) Certamente que sim; então porque não mudar o foco da projeção?
Nada acontece ao acaso.
Vou procurar não me alongar muito nesse texto, até porque todos temos histórias de "coincidências" pra contar, só vou relatar basicamente duas bem curtinhas.
A primeira é que descobri há alguns anos que o irmão de meu avô havia nascido no mesmo dia e mês que eu (e por um dia quase meu sobrinho nasceu na mesma data). Bom aí você me pergunta: e daí? Daí nada, é apenas um fato, mas acredito que haja um plano maior para todos nós e que assim como influencia em acontecimentos e pessoas que passam pela nossa vida, também ajuda a determinar em que família nascemos, apoiado talvez em questões astrológicas (daí a história das datas).
A segunda história refere-se a uma pessoa que conheci no mundo corporativo, mas que por duas vezes ocorreu de a gente ter se esbarrado. A primeira e mais próxima foi durante o colégio, ou melhor, quando eu estava terminando e ela chegando, nessa época inclusive sua melhor amiga namorava com um grande amigo meu: o Caio, mas não chegamos a nos conhecer. A segunda oportunidade foi na faculdade, a mesma faculdade, com um diferença de alguns anos. Por fim vim encontrá-la aqui. Ops, quer dizer, já não a encontro porque ela saiu.
Essa história, ironicamente me faz lembrar o título daquele filme da Sofia Coppolla: Encontros e Desencontros.
Bom, enfim, o tema é longo e dava para escrever muito mais, mas o poder de síntese é algo que as vezes se faz necessário vou encurtar.
O fato é que no Cotidiano vivenciamos muitos acontecimentos que atribuímos o nome de "coincidências", mas que por vezes nos deixam com uma ponta de desconfiança, exatamente por achar que há um "quê" a mais (traídos e atraídos pela racionalidade).
Não vejo o "destino" como algo escrito e imutável, talvez até escrito no rascunho a lápis, mas ao passarmos a limpo com a caneta do livre arbítrio podemos escrever diferente.
Ninguém é vítima das circunstâncias e como disse também aquela mesma consultora do curso que mencionei, há caminho e há trilho, sendo este último fixo e levando apenas a um lugar, já o caminho é você que faz.
Tudo muda, até a árvore já foi muda.
Não é hora, a hora é agora.



Coincidências - Carlos Manfredini

O que são coincidências?
Segundo o dicionário, identidade ou igualdade de duas ou mais coisas. Ocupação do mesmo espaço; sobreposição; simultaneidade de dois ou mais acontecimentos.
Não gosto de nenhum desses significados como resposta à questão! Lhe tiram o encanto, a magia.
Será que o Todo Poderoso, ao verbalizar a criação do universo previu as situações coincidentes, ou elas são mera coincidência?
Vejamos!
Não deve ser coincidência o fato de a infância ser a época de maior energia da nossa espécie. Já pensou um homem maduro com todo aquele vigor físico infantil, não querendo mais brincar, nem pular e correr todo o tempo, sem temer a autoridade materna?
Provavelmente todo seu potencial seria canalizado para a violência.
Um caos!
Será acidental ocorrer a maior produção de hormônios na juventude, onde mesmo os mais feiosinhos representantes dessa fase são considerados fisicamente belos, principalmente quando comparados com as pessoas idosas – as quais, particularmente, acho todas lindas?
E a natureza, quando se prepara para receber os filhotes dos pássaros e animais, os brotos das árvores e plantas, será por acaso que isso ocorra exatamente no momento em que o clima é mais ameno e favorável aos organismos frágeis que despontam para a vida?
Devemos imputar à casualidade o encontro entre um homem e uma mulher que decidem, após breve troca de olhar, seguir juntos por toda a vida construindo uma história?
Podemos considerar mero acidente do destino a Lua, satélite árido e sem vida, inspirar romances, amores e paixões, tornando-se centro de belas canções, poesias e odes ao amor?
De outro modo, coincidência poderia ser um conjunto de causas imprevisíveis e independentes entre si, que não se prendem a um encadeamento lógico ou racional, e que determinam um acontecimento qualquer.
Como por exemplo, quando você, solitário no meio da multidão, cisma de olhar para um ponto determinado e enxerga, misturado a muitos estranhos, o amigo que não via há anos.
Ou, quando, ao mudar o rotineiro caminho de volta ao lar, chega, liga a TV e fica sabendo que lá, no exato momento e no local onde você deveria passar, ocorreu um acidente fatal.
Sabe aquela prova, cuja data havia esquecido e minutos antes de fazê-la, em desespero dá uma olhada num único ponto e ele é o objeto das perguntas?
E nas vezes em que, ao conversar com um desconhecido, identifica alguém com idéias e ideais semelhantes aos seus.
Recorde daquele dia, você tristonho por uma coisa qualquer, ao abrir o e-mail recebe uma mensagem cheia de energia e otimismo repassada por engano por um desconhecido.
Que sorte ter recebido a inesperada promoção justamente no momento em que planejava se casar, não é mesmo?
Acontecimentos fortuitos, acidentes de percurso, eventualidades?
Penso que não!
Nada acontece por acaso!
Encontros e desencontros são circunstâncias previamente conspiradas em algum lugar e tempo desconhecidos por nós, por quem nos conhece e compreende profundamente, e que domina os processos criativos com precisão.
Contudo, o acionamento somente ocorre e só pode ser efetuado por nossa mente, quando ela está em paz.