quarta-feira, outubro 11, 2006

Meu bairro


Hoje é dia de textos da Confraria dos Cronistas.
Tema do dia: Meu bairro.


Meu bairro - Sérgio Lapastina
Não sei se alguma outra cidade do Brasil ou do mundo tem tanto o sentimento de bairro como São Paulo. Pelo que vejo em filmes, parece que Nova Iorque tem, mas sei lá... São Paulo é especial.
Uma outra coisa que tem SP é que quem nasce em uma região pode até mudar, mas não adianta: as raízes ficam. Não digo nem o bairro, mas a região como um todo, pq em São Paulo onde começa um bairro e termina outro é uma coisa que nem o pessoal que faz o guia de ruas sabe direito.
Eu, por exemplo, diferente dos confrades deste espaço (aliás, diga- se de passagem, um de nossos compromissos é não ler o texto um do outro antes de publicá-lo, é melhor... dá mais emoção e ou um fala completamente o contrário do outro ou concorda ou muito pelo contrário... e falando nisso, a Confraria é aberta viu gente, quem quiser entrar para mandar textos sobre o mesmo tema basta avisar... a gente não é um grupo fechado não, basta uma singela contribuição semanal - normalmente em espécie comestível ou bebericável - e um pequeno triplo teste: perder um set de tênis do Wagner, assistir uma aula do Manfredini e fazer o Lapastina parar de falar em uma palestra... conseguiu isso capaz até de virar líder da Confraria)... mas disse isso mesmo pq? ah, sim, só para dizer que - cumprindo as regras - não li os textos dos confrades, mas apenas vi de quais bairros eram oriundos... voltando então.
Eu, por exemplo, diferente desses outros aí, sou da Zona Oeste, nasci em Perdizes, mas logo com 4 anos fui para a Pompéia. Uma diferença de poucas quadras que apenas me fez assumir que Zona Oeste é Zona Oeste.
Alguém aí já ouviu alguma relação com o Antigo Leste? Com o Ancião Sul? Com o Acabado Norte? Pois todo mundo gosta de filmes do Velho Oeste... uma prova de que é a melhor região da cidade.
Sou da época da Pompéia (aliás, nome épico, que remete à antigas glórias...) em que para se dar o endereço se falava o nome da rua, quantas quadras ficava da Av. Pompéia e depois o número da casa.
Melhor, da Pompéia que se falava que sua casa ficava ao lado da Adega do Seu Joaquim ou do Bazar do Toninho, perto dos Armarinhos Bovero que antigamente era a Casa do Sérgio - pasmem, esse Sérgio era eu, pois a minha mãe tinha um armarinho e colocou o nome do filho... daí veio minha irmã, minha mãe mudou de ramo mas a Casa do Sérgio até hoje é ponto de referência vital da Zona Oeste..... como? menos? ah, tá bom vai...
Da Pompéia da Banca do Léo, da Papelaria Caraibas (que nunca ninguém soube se era Caráibas ou Caraíbas... o que também nunca fez a menor importância) - que foi a papelaria que minha mãe montou depois da Casa do Sérgio que era.... tá bom.... ô gente...
Da Pompéia do Zuleica, do Miss Brownie, do Sagradão... ah e me deixa explicar: sou da parte de cima da Pompéia, da parte que odeia que se fale que na Pompéia fica o Parque Antártica... fazer o que né, nenhum bairro é perfeito...
Da Pompéia que guardou muito de sua história, de seus amigos, mas que tal qual toda Zona Oeste e toda SP, perdeu muito. Perdeu a Adega, o Bazar, a Papelaria, o Armarinho. A Banca ainda está lá, mas não é mais do Léo e os colégios ainda existem com os mesmos nomes, mas sem o mesmo brilho.
Da dó de ver a Pompéia hoje ser indicada invariavelmente por rua tal, número tal, apartamento tal. Se quando derrubaram a casa do meu avô doeu fundo, quando foi a casa do Augusto, do Henrique, do Paulão... foi algo diferente. Foi a certeza que se tinha acabado a época de vender pipa no portão do jardim, do Sérgio... esse o carteiro que era nossa amigo, do moço do gás, dos lixeiros que meu avô mandava deixar o portão aberto toda terça e quinta para que pudessem entrar e beber água na torneira do jardim.
Não sei se os jovens de hoje tem esse sentimento de bairro ou de região que a gente que já está na idade terminada em "enta" (ou melhor "enta e") teve e ainda tem.
Sinto que eles não vão ter a Adega, a Banca, a Papelaria, o Armarinho ou mais um monte de coisas muito legais que o tempo fez esquecer. Mas duro mesmo não é saber o que eles não terão: é ter a dúvida do que é que eles vão ter.


Meu Bairro - Wagner Mekaru

Sou paulistano, nasci na Zona Leste lá era uma terra de bravos.
Quando meus pais chegaram no Parque Santa Madalena havia só mato. Eles foram bandeirantes desbravadores, montaram um pequeno comércio onde nada havia.
Com o tempo outras famílias passaram a habitar o bairro e também surgiram as favelas além de outros comércios. Hoje quem passa por lá vê um cenário muito modificado, com grandes varejistas e rede bancária, infra-estrutura que atraiu muita gente ocasionando em uma explosão demográfica que empurrou os que eram menos favorecidos para bairros mais distantes como Cidade Tiradentes ou Terceira Divisão (alguém sabe onde fica?), invadindo inclusive áreas de proteção ambientais e mananciais.
Em 1996, após uma transação imobiliária mudamos para Zona Sul, na Saúde, lugar mais chique e com infra-estrutura bem apoiada, contudo sem o ar provinciano da Zona Leste.
Nesse bairro tudo fluía (literalmente) mais fácil já que havia uma estação de metrô, que facilitava muito os deslocamentos (para se ter uma idéia, quando morávamos na região do Sapopemba, a estação mais próxima de metrô, que era o Belém ficava a 50 minutos de ônibus!), aliás, a questão de deslocamento geralmente é um item que afeta muito o valor imobiliário nos bairros (veja as propagandas de grandes empreendimentos imobiliários: Ex.: a 5 minutos da Via Imigrantes).
Hoje resido na Zona Norte (quando houver possibilidade mudo para Pinheiros e completo meu tour pela cidade), mais precisamente na Cachoeirinha, um bairro periférico da capital, mas com boa estrutura, necessitando, claro, como todo bairro de algumas melhorias. Apenas para citar: via pública e passeio estão horríveis e o segundo nada uniforme. Ainda neste ponto não é apenas uma questão estética, mas sim de segurança, já que alguém pode vir a se acidentar (veja como alguns bairros tem a calçada mais uniforme e não necessariamente cartões postais como a Av. Sumaré, visite por exemplo Pirituba e verá que em alguns pontos a calçada não é uma "colcha de retalhos").
Acho que seria muito interessante que nossa cidade fosse melhor planejada para não haver discrepâncias populacionais, nem, conseqüentemente estruturais, já que quando determinada região começa a ficar "inchada", os serviços passam a ficar mais precários, necessitando uma ampliação de sua estrutura.
Uma grande iniciativa, principalmente de bairros mais pobres: as associações de bairro, que quando sérias, podem ajudar, em parcerias com órgãos governamentais, ou até mesmo empresas privada com programas sociais, que venham a contribuir em relação a educação, lazer (neste caso também esportes, mantendo crianças em atividades físicas que não malabares no semáforo) programas de saúde preventiva entre outros. Trata-se da valorização do bairro, que sempre é benéfico a coletividade.
Por falar no que é coletivo, lembro de algo muito importante que me parece oportuno mencionar: o que é público é de todos, portanto todos têm responsabilidade e deveriam ter zelo, mas sabemos que não funciona assim.
Como num passe de mágica, o rapaz que acaba de abrir uma bala, joga o papel que a embrulhava para fora do carro, transformando a via pública num grande lixão e, se questionado vai dizer ironicamente que está gerando emprego ao gari.Completando o ciclo do papel, sabemos que se todos assim pensarem, os lixos vão se acumular, entupir as bocas de lobo e em conseqüência, numa chuva um pouco mais forte teremos uma enchente certa, gerando grandes perdas materiais, quando não humanas, além é claro das inúmeras doenças trazidas pelo lixo devido a ratos e baratas.
Há outros inúmeros exemplos a mencionar, como os telefones públicos, reatores de energia (que muitas vezes sobem no poste para roubar o cobre para vender, arriscando a vida para tal), banheiros, etc.
No bairro também há a peculiaridade dos pequenos comércios onde o dono conhece a vizinhança, chamando pelos nomes, muitas vezes acompanhando gerações de famílias a se transformar, o famoso fiado, (anotado devidamente na caderneta), demonstrando um aspecto mais humanizado que muitas vezes é difícil encontrar nos hipermercados (fiado com certeza não, mas parcelado no cartão...).
Enfim, todo bairro tem seus aspectos bons e por outro lado pontos a melhorar, mas sua valorização e melhoria, como tudo na vida, dependem muito do esforço de cada um, seja cobrando ações do governo, ou unindo-se a outros moradores ou junto à iniciativa privada.
Se gostas, vista a camiseta: Amo meu bairro.



Meu bairro - Carlos Manfredini

- Oh, meu!
- O qui é que tem na Mooca?
- ...?
- É com você mesmo, pô, não adianta olhar pros lados!
- Comigo?
- Isso mesmo, cê mora lá, não mora?
- Moro!
- Então, cês ficam falando que lá é bom, diferente, especial, coisa e tal, então explica isso aí!
- Bom especial é mesmo, tem algumas coisas nela que são bacanas, que diferem dos outros bairros, a começar por sua origem e constituição, por seu nome, pela característica dos seus primeiros habitantes, concluindo com o atual estágio em que se encontra.
- ...? Agora fui eu que fiquei confuso! Do que cê ta falando?
- Calma, explico melhor!
- De início saiba que ela completou 450 anos e o fato foi comemorado com muitas festas e com a oficialização, pela Lei 14.170, da bandeira do bairro contendo seu brasão, que já era adotada informalmente desde 1991.
- O nome Mooca e de origem indígena ao qual se atribui dois significados: faz casa ou ares secos, enxutos.
- Aliás, sua grafia correta deve ser feita sem acento, segundo o mooquense prof. Pasquale.
- Meu, cê fica falando, mas pelo que sei, lá "os caras" são metidos a "italiano" e só fazem ir comer pizza e tomar vinho no sábado à noite!
- Bom, nisso, em parte, você tem razão! Temos dezenas das melhores pizzarias e, mesmo quem não é "oriundi" nem nasceu no bairro, ao se mudar para ele vai adquirindo, aos poucos, os costumes, um jeito característico de falar e gesticular com as mãos, a pessoa "pega" o nosso sotaque.
- Mas me deixa seguir contando um pouco mais da nossa história.
- Sabe a razão da Rua do Hipódromo ter esse nome? É que ali foi criado o Clube Paulista de Corridas de Cavalo, hoje Jóquei Club, aonde chegava, pela Rua dos Trilhos, um ramal da recém inaugurada estrada de ferro.
- O desenvolvimento agrícola e industrial de São Paulo trouxe para o bairro os colonos italianos, depois os espanhóis, portugueses e hungareses.
- Aqui ficava a "Imigração", atual Memorial do Imigrante, ou Museu da Imigração, que recebia e hospedava os recém chegados do mundo.
- Aos poucos, as muitas chácaras existentes por aqui foram dando lugar às nascedouras fábricas e indústrias e, por minha conta própria, destaco a criação, em 1891, da Cia. Antártica Paulista. Maravilha!
- Diversas e importantes tecelagens iniciaram suas atividades por aqui e como empregavam grande quantidade de mão-de-obra feminina, nas saídas de cada turno de trabalho suas portas eram os melhores locais para a "paquera", onde se apinhavam os marmanjos em busca das beldades operárias.
- Dentre essas empresas cito o Cotonifício Crespi que possuía o Clube Crespi do qual se originou o atual Clube Atlético Juventus, nosso "moleque travesso".
- Por falar em molecagem, lembro da "Escuderia Pepe Legal" que azucrinou a vida de muita gente nos outros bairros. Aonde a turma ia o lugar fervia e o "pau quebrava", por puro prazer de folia.
- O êxodo industrial da cidade faz com que, atualmente, os locais das fábricas cedam espaço para novos e modernos empreendimentos imobiliários, mudando totalmente nossa característica predominância industrial, que passa a ser fortemente residencial.
- A Mooca é quase uma cidade do interior, temos nossos próprios políticos, jornais, revistas, teatros, clubes, igrejas, festas de padroeiros, atividades culturais, sociais e esportivas, shoppings, hospitais, livrarias, restaurantes, churrascarias, barzinhos e as melhores casas de chope, além de ambiente alegre, aconchegante, acolhedor e apaixonante.
- Não é preciso sair daqui para se divertir e ter vida social. Tudo é uma beleza!
- Ser da Mooca é algo difícil de explicar, é um estado de espírito, um jeito característico de ser e de viver.
- Orra meu! Me diz pra mim! Cê tá me entendendo agora bello
?