quarta-feira, novembro 01, 2006

Criatividade


Hoje é dia de Confraria de Crônicas, Contos e Causos do Cotidiano

Criatividade - Sérgio Lapastina
Criatividade não é uma qualidade: é uma exigência.
Criatividade não é um desejo: é uma necessidade.
Seja para trabalhar, para amar, para viver enfim. Ou se é criativo ou não se é nada.
A base da criatividade é a inconformação. Verdade: quem se conforma, aceita, para e o tempo passa.
E para se inconformar é preciso coragem, é preciso motivo, é preciso motivação. Enfim, para ser inconformado é preciso ser criativo e para ser criativo é preciso ser inconformado.
O que pode parecer algo oriundo da teoria do caos, é na verdade uma grande verdade (lindo, isso ficou lindo).
O ser criativo inova e para inovar é preciso não se estar contente com alguma situação atual, com o status quo, com a mesmice... é preciso querer o novo, querer melhorar e para melhorar é preciso se olhar adiante, é preciso ter coragem para mudar e mudar para melhor. O melhor só se consegue sendo criativo.
Se alguém tiver idéia de fazer algo novo, que pelamordedeus, o faça direito. Fazer por fazer, fazer da mesma forma que todos fazem, sem acrescentar... meu caro, desocupa a moita que tem gente querendo usar.
Informar-se é fundamental. Acreditar que a informação gera desejo de conhecimento, que gera mudança que promove a evolução. Tudo isso é muito bonito, mas se for para piorar, deixa como está.
Ou melhor, se for para deixar como está, sai da frente que eu quero passar.
Criatividade era o que muitos profissionais da minha geração ofereciam quando se candidatavam a algum emprego. Engraçado... é como uma empresa vender qualidade, transparência e segurança.
Nunca vi empresa alguma vender má qualidade, admitir que não fala o que precisam saber sobre ela e que seus produtos são inseguros. Assim como nunca vi profissional nenhum admitir que trabalha sem ser criativo.
O que temos que ter cuidado é para sermos criativos sem sermos mentirosos. Eu sou criativo, mas para exercer minha criatividade preciso disso, disso e de mais isso.
Ter idéias todos tem, o que faz a diferença do profissional criativo é que ele as coloca em prática tendo ou não as condições.
O chato de ser criativo é que vc também precisa aprender a não se deixar derrubar a cada barreira que encontra pela frente.... e como se encontram... pois nada mete mais medo em alguém do que a criatividade.
Temos é que ser criativos para superar todas as barreiras à criatividade e, voltando à teoria do caos, saber mudar.



Criatividade - Wagner Mekaru
Criatividade é uma qualidade que todos nós temos, uns em maior expansão, outros, manifesto de maneira mais tímida.
Acho inclusive que se não fosse a capacidade inventiva de alguns seres humanos o progresso em si não existiria.
Graças a preguiça, associada a criatividade, o homem criou a roda, tirou os pés do chão, pode alcançar sonhos, o céu, o espaço e o controle remoto para zapear a programação televisiva.
Brincadeiras a parte, a criatividade e a capacidade cognitiva dos humanos já nos trouxe tão longe que mal percebemos.
Vamos tentar exemplificar com uma pequena história:
"Você acaba de desligar seu computador e com uma pequena flexão de joelhos afasta a cadeira giratória para trás, pega sua mala, caminha em direção ao estacionamento, onde seu veículo está guardado; com um toque na chave o alarme é destravado e permite que você abra a porta. Você não se deu conta, mas não fechou corretamente a porta e um alarme dispara no painel avisando que além do cinto faltou mais alguma coisa a ser feito".
Seguindo para casa já está escuro e as luzes da rua começam a se acender; no semáforo vermelho você passa a contemplar as inúmeras vitrines da avenida. O luminoso do Bingo todo colorido anuncia que em algumas horas chegarão pessoas para tentar a sorte.
O trânsito não anda e entre uma buzinada e outra você aperta um botão que sobe os vidros das duas portas, depois aciona o ar condicionado, liga o som e na discografia completa da Enya contida no seu I-pod, seleciona o último álbum dela: Amarantine, assim o ambiente fica mais tranqüilo.
Passado 15 minutos e 50 metros num para e anda constante você resolve mudar para o rádio, numa música mais agitada, provavelmente música eletrônica que confudem estilos e instrumentos musicais.
Após mais 50 minutos finalmente chega em casa. Entra no apartamento cujas luzes acendem-se devido a sua presença. Na secretária eletrônica o apito avisa que há uma mensagem a ser ouvida: "Asderoldo (sim, o primo de segundo grau de Asderbaldo, personagem do criado pelo Lapastina), chegarei mais tarde, tem lasanha no congelador, é só colocar no micro-ondas."
Diante dessa informação de sua esposa você pega uma cerveja na geladeira liga a TV no canal que está passando o VT de Flamengo de Guarulhos X Radium de Mococa e vai tomar um banho, deixando tudo na sala."
Bom, poderia continuar a narrar o desenrolar da história, mas fica para a próxima. O intuito é apenas que pensemos como seria essa cena toda sem o progresso, fruto da criatividade e da necessidade humana.
Impensável, não é? Pois é e não precisamos ir muito longe. Imagine apenas sua vida sem energia elétrica, não é um caos quando "acaba a força?"
Ou quando falta a água? Até que você tenha água na caixa ou no galão tudo bem, mas depois que acaba o estoque complica.
Nada disso chegou a nossa casa se não fosse a necessidade a capacidade de criação do homem.
É interessante notar que essa engenhosidade que o homem tem, apesar de trazer grandes benefícios trouxe também seus efeitos e aspectos colaterais. Já ouvi falar que a pólvora inicialmente fora inventada para fins que não os de destruição. Reza a lenda também que a depressão que culminou no suicídio de Santos Dumont foi devido a sua desilusão ao saber que sua invenção (o avião, não o relógio de pulso) seria usada para fins bélicos, (cuja palavra não tem nada de belo).
Claro que tudo tem dois lados, mas creio que a imaturidade espiritual do homem leva-o a ser predador dele mesmo.
Como diz a música: "o homem criava e também destruía, homem primata..."
O ser humano é capaz de realizar coisas fantásticas, mas não pode esquecer que é a imagem e semelhança dos outros também e portanto tem responsabilidades tanto no que diz respeito a si mesmo quanto em relação ao outro.


Criatividade - Carlos Manfredini

A capacidade de dar existência a algo novo, único e original, atendendo a determinado objetivo, denomina-se criatividade e pode ocorrer de duas maneiras:
- Pela invenção, a partir da associação de dois ou mais elementos, por vezes díspares;
- Pela descoberta, ou seja, por meio da percepção de algo existente de que não se tinha noção e que, uma vez encontrado, concretiza-se.
Simples, não?
Não mesmo!
Contudo, o processo criativo pode ser tranqüilamente equacionado e normalmente segue quatro estágios:
- A preparação, que consiste em rever o conhecimento e organizá-lo em função do objetivo;
- A incubação, onde processamos tudo que sabemos, de modo inconsciente;
- O insight, o surgimento da nova idéia;
- A manifestação, onde se produz a transformação exigida pelo insight.
Quando o insight não surge, deve-se repetir todo o processo.
Ficou mais fácil?
Não?
Realmente não é!
As pessoas não gostam muito de esquematizações, até por que existe a suspeita de que, quando alguém se propõe criar seguindo esses passos pode ser que fique travado e não consiga gerar coisa alguma.
De outro modo, muitos consideram que a atividade, assim conduzida, rouba toda a magia, o misticismo e o encanto que supõem envolver a obra dos seres criativos.
Assumem uma postura confortável, utilizando subterfúgios, falsos paliativos, saídas rápidas, expedientes escusos, com a desculpa que estão buscando "inspiração".
Nada de estudar, compreender e trabalhar com afinco, com dedicação para gerar algo novo e bom.
O resultado, regra geral, é o oposto do engenho, dando abertura à invasão da mediocridade que assola os mais diversos setores da vida, onde se toma por inventividade coisas completamente sem relevo, ordinárias, vulgares.
Exceção feita a alguns poucos gênios – pois a maioria deles conseguiu seus resultados positivos depois de enorme esforço – os demais mortais devem seguir, mesmo que de forma não planejada, o roteiro produtivo descrito de início.
Só quem está preparado, conhece e sabe, consegue enxergar coisas que os outros não vêem, avaliando-as com critério, compreendendo intuitivamente a situação, a solução do problema, a nova oportunidade.
Depois, é preciso bastante disciplina, força de vontade, perseverança e trabalho para concluir a gestação, transformando a idéia nascitura em algo real, plausível.
O amadurecimento da mente, adquirido pelo pensamento treinado na análise de proposições para questões não solvidas, em qualquer área do conhecimento, sejam elas quais forem, é o único sustentáculo da criatividade.
Quem sabe faz!
Nós outros devemos procurar aprender a fazer, não nos contentando mais com o "nivelamento por baixo" imposto pelo modernoso, que fica por aí expelindo contracultura, má política, administração incompetente, arte de péssima qualidade, música sem harmonia, textos sem conteúdo, mensagens vazias, falsa pesquisa, insipiente produção científica, saber duvidoso, conduta amoral, comportamento antiético, etc.etc.