sexta-feira, dezembro 08, 2006

Envelhecer

Hoje é dia de Confraria de Crônicas, Contos e Causos do Cotidiano. Ainda sem o Manfra, mas já com o contrato dele renovado para a temporada 2007

Envelhecer - Sérgio Lapastina

Quando tinha 15 anos achava que uma pessoa com qualquer coisa mais de 30 era um absurdo.
Hoje, com quarenta e poucos, acho que era um absurdo eu achar aquilo.
Sempre gostei de ouvir histórias. Hoje gosto de ter histórias para contar. Adoro aquelas coisas de "Você se lembra?" e vem um montão de fotos do Atari, da revista Manchete, do Falcon, do Genius, do Ultra Man, Ultra Seven...
Minha última mania (que deve durar até a próxima, portanto, acalmen-se) é andar de bengala. Não aquela bengala de apoio, mas - como definiu a Fernanda que trabalha aqui comigo - daquelas pretas com cabo prateado, de 1720, Inglaterra, que somente os gentlemen usavam com cartola e luvas.
A Gláucia acha que é coisa de velho. Pensando bem... Deveria agradecer.

Se um dia quis ter meu avô para contar histórias do que lhe tinha acontecido - independente de serem ou não verdade, tais como as minhas... O que mais me importava era que tudo aquilo era real na cabeça dele e que, por trás de cada palavra tinha uma mensagem.
Será que entendi todas?

O que quero, um dia, é poder continuar a contar histórias - independente de serem ou não verdade, tais como as de hoje... O que mais me importa é que quem estiver ouvindo acredite que por trás de cada palavra existirá uma mensagem.
Será que vão entender todas?





Envelhecer... - Wagner Mekaru

Na empresa em que trabalho está em vigor um programa de aposentadoria incentivada. Tenho visto a movimentação de muitas pessoas. Gente que trabalhou 30, 40 anos, as vezes até mais do que isso e hoje busca descansar.
Gosto de ouvir as histórias que as pessoas mais velhas tem para contar, são aventuras, alegrias, tristezas, gargalhadas e lágrimas que marcam a saga de cada um deles.
Paradoxalmente em nossa sociedade é comum associar o envelhecer a idéia de declínio, fracasso, etc.
Acredito que esta idéia esteja fortemente associada a uma dificuldade do homem frente a Morte (sim, com letra maiúscula, essa autoridade), é realmente muito difícil aceitar que vamos morrer, muito embora saibamos desde pequenos e cada passo que damos mais nos aproximamos dela, afinal cantamos nos aniversários: "mais um ano de vida..." e é menos um ano, mas claro mais um ano é pedido, porque na verdade também estamos falando de 365 dias passados e de preferência bem vividos e assim se renova a esperança de novos belos 365 dias.
Se morrer é certo, viver não é assim, afinal viver não é o mesmo que existir e, se é que podemos assim definir, socialmente bem sucedido é aquele que conseguiu ser feliz. E a felicidade de uma pessoa é construída ao longo do tempo, por inúmeros fatores que vão de família, trabalho, espiritualidade, "conquistas", aprendizado, etc.
Nosso corpo muda desde sempre, mas costumou-se dizer grosseiramente que o corpo fica feio ao envelhecer (esquece-se que o envelhecimento é constante, desde a concepção) é quando as rugas aparecem, o cabelo se torna grisalho, a pele flácida, enfim parece que defrontamos com um quadro apocalíptico, mas isso se deve também ao valor que a sociedade atribui a estética, onde a ditadura da beleza cada dia mais exige que sejamos verdadeiros seres biônicos, providos de "corpos perfeitos", mas com o tempo isso muda, assim eu espero. Esperança.
Assim como o vinho ou um bom malte que melhoram com o passar do tempo, ao envelhecer espera-se que as pessoas tornem-se melhores, afinal não é costumeiro dizer-se: "você não cresceu não é?", denotando a clara expectativa de uma evolução no comportamento deste.
Acreditando na questão da evolução do espírito, a criança está próxima da Criação por uma questão de tempo, o velho também está mais próximo da origem e do Criador, já que para este deve retornar, logo, é lógico entender que há sabedoria naquele que tanto já viu e agora está mais próximo daquele que inquestionavelmente é perfeito. Não é nosso intuito sermos perfeitos, mas evoluir sim e para isso somente vivendo e experimentando a dor e a alegria de sermos o que somos, eternos mutantes.
Falando em tempo, o passado é o único momento do qual não podemos mais nada fazer, o futuro é envolto de expectativas e esperanças, dos quais talvez tenhamos êxito desde que consigamos aproveitar da melhor maneira possível o presente e presente é pra desembrulhar.
E para fechar a celebre frase de um ex-presidente norte-americano: "E no final o que importa não são os anos de sua vida, mas sim a Vida de seus anos".