quarta-feira, março 22, 2006

Dia da Água - Primo Carbonari

Duas coisas importantes no dia de hoje.A primeira, vital, essencial, sumariamente básica: o dia mundial da
água.Água que para cada cidadão é uma mágica: basta colocar uma
torneira na parede que dela sai água, pura, cristalina, tratada.Água que cada um passa na Marginal, olha para o Tietê e balança a
cabeça em desaprovação ao estado das águas, ao mesmo tempo
em que pega no console uma bala de hortelã e joga o papel pela
janela. "Ah, problema de outro varrer aquela rua..." ou então, "a
chuva lava depois". Claro que lava, lava e leva para o rio, por sinal
o mesmo rio que você acabou de desaprovar pela sujeira.Água que no supermercado custa um real o copinho e você liga para
a Rádio Capital reclamando que está pagando dez reais por dez mil
litros entregues na sua casa e esse preço é um absurdo.Água que fica parada na sua caixa d'água que não é lavada há cinco
anos - aliás, precisa lavar a caixa d'água?, mas isso não
interessa... interessa escrever para o jornal Agora contando que ela
sai amarelada de sua torneira.Água que usada vira esgoto, o mesmo esgoto que quando você dá
a descarga, transborda pelo ralo do banheiro e daí você chama a TV
Globo e mostra o coitadinho que é por ter o imóvel todo esmerde...
enlameado (perdão) - mas não conta que na privada você, junto
com o "número 1" e o "número 2", também completa toda a
calculadora, com o cabelo da escova, bituca de cigarro, fralda
descartável, absorvente, papel, tampa de frasco de shampoo,
cotonete....Água que você vê, caindo nas cataratas do Iguaçu, no Pantanal, no
Amazonas e não entende pq é que São Paulo está tão longe de
tudo esse mundo líquido.Água que a gente só lembra que tem quando falta. E quando falta
lembra o quanto ela faz falta.
A segunda coisa importante do dia - e já pedindo perdão por
chamar isso de importante, foi a passagem para "o lado de lá" de
Primo Carbonari. Talvez os mais jovens não tenham a menor idéia
de quem era essa, mas afirmo que talvez tenha sido o maior
documentarista brasileiro: ele sem dúvida importantíssimo.Lembro, rapidamente, de um dia quando este cronista,
desempregado, na esquina da vida, pegou um freela de produção
de um documentário e acabou em uma reunião com um bando de
malucos do meio do cinema, dentre esses uma figura que (tal qual
eu) se amarrassem as mãos provavelmente não articularia uma
palavra: o próprio.Lembro de quando ia ao cinema Havai, na rua Turiassu, na velha
Zona Oeste paulistana - que hoje virou um bingo (o cinema, não a
Zona Oeste, se bem que o que tem de jogatina nessa região,
posso estar exagerando, mas de forma alguma sendo impreciso), e
antes de entrar o filme, lá vinha o curta do Primo Carbonari.Na época não tinha a menor idéia de quem seria esse - que,
repetindo, na época, não passava de um chato que fazia o filme
demorar para começar; ainda mais que um dia estaria sentado na
presença dele.Hoje vejo que sem Carbonari e sem outros que contaram, no filme
e não na fita, a vida do Brasil, talvez o Brasil fosse menos do que
é.Ao Primo Carbonari, as desculpas pelo sentimento de minha
juventude, as escusas pela perplexidade de minha imaturidade e
meus extremos respeitos por tudo que realizou.

terça-feira, março 21, 2006

Vai haver amanhã - eu acho....


Plagiando o excelente Tutty Vasquez (que pode ser acompanhado diariamente no site NoMínino - http://nominimo.ibest.com.br/), está confirmado: vai haver amanhã.
Ou, pelo menos, nada até o presente momento, indica que, por algum motivo não vá haver amanhã.
Caso esta afirmação não se torne verdadeira, amanhã publico uma errata: "diferentemente do anunciado ontem e conforme pôde ser verificado por todos, não houve a data de hoje - citada na crônica de ontem como amanhã. O cronista pede desculpa aos leitores que, motivados pela afirmação que no momento da redação parecia correta, firmaram algum compromisso, assumiram responsabilidades ou deixaram para amanhã, no caso hoje, o que poderia ter sido iniciado ontem, que era hoje e, na inexistência do hoje, que era amanhã, acabaram impossibilitados de realizar o intento desejado. Devido ao vácuo temporal causado pela inexistência da presente data, o cronista opta por não prometer que haverá o dia de amanhã, conforme afirmado sobre a data de hoje no texto de ontem. Caso amanhã exista o dia de amanhã, a normalidade dos textos será retomada. Contando com a compreensão de todos, hoje (mesmo não existindo, bem entendido), amanhã (mesmo na dúvida da vindoura data) e sempre (conceito altamente comprometido devido ao vácuo estabelecido). Atenciosamente. SL"

Contudo, permitam-me algumas pequenas, porém cruciais colocações:
- em não havendo a data de amanhã, na eventualidade de chegar o depois de amanhã, a data de hoje pode ser chamada de ontem ou permanecerá anteontem, mesmo com o lapso criado?
- caso o amanhã venha a não se confirmar, como aliás já estão achando alguns de nossos leitores, os vencimentos de contas serão automaticamente transferidos para o primeiro dia útil pós-evento?
- o apontamento do cartão de ponto será como data inexistente ou simplesmente descontado? pode ser abonado?
- para os que, por algum motivo, optam pela leitura da Crônica do Dia no dia seguinte à sua produção, ou seja, fazem a leitura da crônica de hoje, amanhã; em não havendo amanhã, o texto de hoje passa a não ser mais de ontem e dessa forma não será o amanhã que não existirá, mas sim o hoje, não o hoje do texto, que é ontem conforme já explicado, mas o hoje do dia que não existe. Certo?
- se não existir o amanhã, como é que vou publicar a errata? Se não der para publicar a errata amanhã, mas somente depois de amanhã, preciso mudá-la em alguns detalhes:
- o ontem passa a ser anteontem
- o hoje, conforme o caso, passa a ser ontem,
- alguns hoje devem continuar a ser hoje da mesma forma
- o amanhã, conforme o caso, passa a ser hoje, mas não o hoje que passou a ser ontem ou o que ficou como hoje, mas um hoje que era amanhã
- outros amanhã permanecem como amanhã mesmo
- o restante dos amanhã passam a depois de amanhã

Em assim sendo, até amanhã.
Claro se houver amanhã, pq se não houver amanhã o que disse hoje fica valendo para depois de amanhã ou no primeiro dia útil que seguir-se ao dia de hoje, que passa a ser ontem ou anteontem ou pode ser grafado simplesmente como o último dia... sem querer dizer que não haverá mais dias, sem pânico tá?

segunda-feira, março 20, 2006

Anulação de casamento

Da série: a vida é real, acredite você ou não, meu caríssimo amigo e companheiro da seara jornalística Amando, envia o resultado de uma singela e inusitada pesquisa.
Homem de boa fé, casado - muito bem casado, progenitor assumido de três rebentos cuidados a pão-de-ló, compreendedor como poucos dos meandros da arte expressa em tintas sobre telas, de palavras sobre o papel, da internet e da teoria de aplicações financeiras, Amando tem lampejos de brilhantismo como nessa pesquisa.
Apenas, vou adiantando, se for ligar para ele não o trate de Armando: "não, meu senhor, é Amando, gerúndio do verbo amar"
Na verdade não tenho a menor idéia pq ele foi procurar os motivos pelos quais as pessoas anulam o ato do casamente. Até mesmo pq ele sabe, tão bem quanto eu que descasar é um muito mais dispendioso (seja financeiramente, seja emocionalmente, seja qual mente vocês quiserem) do que o casar propriamente dito. Afora o fato de que, na frente de um juiz sempre com cara de poucos amigos, você vai ter que dizer o pq está querendo largar a cara metade.
E é justamente nesse ponto, que a pesquisa de meu amigo se fixa, com pérolas como as que reparto convosco:
ANULAÇÃO DE CASAMENTO - Erro essencial quanto à pessoa do outro cônjuge. Mulher que tinha comportamento sexual promíscuo e ignorado do seu parceiro, muito mais velho que ela e com quem veio a se casar. Comportamento que se evidenciou ao aparecer ela grávida dois meses após o casamento, certa a impotentia generandi do marido. Interpretação do art. 219 do CC. Negatória de paternidade. Filho adulterino a matre. Registro de nascimento feito pela mãe, declarando o marido como pai da criança. Marido portador de impotentia generandi, tornando certa a impossibilidade da paternidade que lhe foi atribuída, tal como se confirmou em prova pericial.
- comentário do cronista: como é que será que foi feita tal prova pericial da impossibilidade da paternidade do ancião?

ANULAÇÃO DE CASAMENTO - Comprovado que, por ocasião do casamento, a mulher ignorava que o marido tinha um filho havido de relações sexuais com outra mulher, resulta caracterizado o erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge que justifica a anulação do casamento.
- comentário do cronista: um caso inédito e chama a atenção o fato de que o mario tinha um filho provindo de relações sexuais com outra (pasmem) mulher....

ANULAÇÃO DE CASAMENTO - IMPOTENTIA COEUNDI - ERRO ESSENCIAL - A impotência instrumental coeundi do cônjuge-varão, desconhecida e anterior ao casamento, caracteriza erro essencial sobre a pessoa do marido. Assim, constatado que a mulher se encontrava virgem, inobstante a vida em comum mantida pelo casal há quase dois anos, caracterizado está o defeito físico irremediável, autorizando a anulação do casamento.
- comentário do cronista: peraí, uma coisa é o cônjuge-varão não manter a vara em riste, outra coisa é o já citado ter defeito físico irremediável... uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. E vem cá, a cônjuge-varoa (ou seria varã?) só descobriu isso depois de dois anos? aí tem...

Anulação de Casamento - Ação de anulação. Erro essencial quanto à pessoa do outro cônjuge. Alegação de impotentia coeundi. Descaracterização. Cônjuge que se interessa somente pelo coito anal, não praticando sexo normal. Fato que, por si só, não traduz incapacidade instrumental para o congresso carnal, mas pode configurar injúria grave a ser aferida em outra ação.
- comentário do cronista:.... é.... bem.... vocês tem que entender que...... deixa essa sem comentário (mas que é ótima, isso é.. quanto tempo depois de casado será que ela percebeu que somente estava praticando .... ou melhor não praticando o normal... e nessas horas, meus caros: o que normal?)

quinta-feira, março 16, 2006

Decote com led


Mulheres uni-vos: está resolvida uma das maiores e mais complexas situações do relacionamento com o público masculino.
Para você, mulher, que sempre reclamou que os homens não te entendiam, não te escutavam, não prestavam atenção no que você queria dizer acaba de ser lançada a blusa com leds no decote

- Pausa cultural: para quem não sabe, led é aquela luzinha vermelha pequenininha que existe em painéis eletrônicos e que, conforme uma combinação de leds que acendem e leds que ficam apagados, forma desenhos ou letras que - pasmem - se colocadas em alguma ordem lógica, formam palavras. Ou seja, você com total e absoluta certeza já viu um led em sua vida e se não sabia que o led tinha esse nome, agora já sabe que a luzinha vermelha se chama led e para de enrolar ô escritor que a crônica é sobre o decote e não sobre o led.... -

A tal blusa tem um painel de leds arrematando o decote. Neste podem ser exibidas mensagens com até oito letras. Como? oito letras não são suficientes? é pouco para o que vocês mulheres tem a dizer para nós homens? Pode até ser, mas vejam bem, a partir do momento em que estivermos olhando para seus voluptuosos decotes, não vai dar para ler muito mais que isso mesmo... Afora o fato de que, para algumas, tem letra até demais nesse decot.... ai, Gláucia, para...Pô é brincadeira, não precisa chutar a canela... Doeu... que coisa... não pode nem brincar que vocês já ficam nervosinhas....

O tal decote (tá doendo a canela, viu!) vem pré-programado com algumas mensagens: TODAS COM 8 LETRAS (viu como dá para escrever com 8 letras.... vai ficar roxo...). A maioria dessas mensagens é de cunho educativo, social, ambiental, filosófico ou religioso, sempre alusivo ao local geográfico no qual está localizado esse detalhe das blusas, ou seja, sobre o decote e seu conteúdo. Todos em inglês, mas fontes deste jornalista dão conta de que mensagens em português, espanhol, italiano e sânscrito já estão sendo produzidas para a alegria dos marmanjos e to.... num chuta.,.. não chuta.....não belisca... beliscão não....

Enfim, para vocês nobres senhoras, que sempre acharam que os vossos vassalos somente estavam interessados em detalhes mais voluptuosos de seus corpos, agora podem nos ajudar e enquanto mergulhamos em vossos decotes, nos aculturem sobre a relação, seus desejos e outros detalhes do universo feminino que nos seja porventura ainda desconhecido.

....vou ter que passar alguma pomada.... olha aí, tô mancando... que agressividade....

O fabricante dessa maravilhosa invenção já anunciou para a próxima temporada, blusas com painel de leds nos decotes com a possibilidade de 10 e 12 letras e, conforme o manequim da usuário, até com 20 letras, o que aufere ao universo feminino uma maior possibilidade de expressão, de manifestação, de... NÃO PUXA A ORELHA... ai, ai ,ai,,,, solta... que? ler o seu decote?... ai.... V-A-I L-A-V-A-R A L-O-U-Ç-A..... hã.... tá bom "morzinho"
Gente, amanhã tem outra crônica,,, agora preciso ir, tá bom...

quarta-feira, março 15, 2006

Pernilongos


Olha gente, vou ser sincero. Odeio quando isso acontece.
Quando acordei hoje pela manhã, tinha em mente que neste 15/3, por ser o Dia do Consumidor, seria interessante um texto sobre direitos e deveres de todos aqueles que realizam a troca do dinheiro por bens ou serviços. Claro que, crítico como sou com todos os que exaltam, idolatram, veneram e reverenciam os direitos do consumidor, iria me ater aos deveres. Podem até reclamar, mas para mim somente tem direito aquele que cumpre o seu dever.
Contudo, devido ao volumoso, gigantesco, colossal, avassalador, retumbante e inimaginável retorno que tive da crônica de ontem, nem tanto pelo tema da dita cuja, mas pela indignação geral da sociedade pelos pernilongos, não vejo outra alternativa a não ser esquecer o Dia do Consumidor e - após matar esse bicho irritante que acaba de entrar na minha sala - retornar ao anseio popular.
Há algum tempo escrevi alguma coisa a respeito que juro que não sei aonde enfiei - o que é ótimo pois me dá a oportunidade de reescrever.... coisas de jornalista maluco... não repara não, um dia sara.

Após passar anos tentando entender a razão da existência dos pernilongos e os motivos pelos quais eles tinha predileção pelo meu sangue, em detrimento dos outros disponíveis no mesmo cômodo, casa, rua, bairro, cidade, estado, país ou mesmo planeta; acabei por identificar algumas variações sobre o mesmo tema. Enfim, não sei se repararam, mas tem tipos e tipos de pernilongo - absolutamente todos 100% inúteis.

Gordo: apresenta alguma dificuldade em alçar vôo devido à imensa quantidade de sangue usurparda de algum pobre ser. Não que, sem a pança repleta seja pequeno, pois é naturalmente engrandecido. Ao pousar em alguma superfície parece desafiar-nos à matá-lo e, em caso de ato bem sucedido, origina um borrão imenso de sangue e fluídos no local que nem raspando a parede sai a mancha. Caso morto no tapa pode causar enjôos imensos, principalmente no universo feminino.

Fininho: lépido, nervoso, algo trêmulo, esta variedade tem apito agudíssimo. Não busca se esconder, ao contrário fica zapeando na sua frente, como a desafiá-lo a conseguir ser mais ligeiro que ele para matá-lo. Aliás, ato que somente pode ser feito no tapa pois dificilmente pousa. Geralmente está acompanhado por um bando da mesma laia.

Fantasma: nunca ninguém viu, você não acha nem desmontando o quarto, mas sabe que ele está lá, pois já o ouviu zunir em seu ouvido e sua pele está repleta de picadas altamente coçantes. Completamente imune a todo e qualquer tipo de balançada, ventarolada ou o que quer que seja que você tente para retirá-lo de seu esconderijo. Ah, também não adianta apagar a luz e ficar pé ao lado da cama imaginando enganá-lo (ô ceninha ridícula, meu Deus do céu....), uma hora você terá que acender a luz e aí, dançou, ele sumiu. Reza a lenda que também é imortal, mas como nunca ninguém o viu....

Matutino: você o ouviu a noite inteira, ele te picou a noite inteira, você o procurou a noite inteira, até mesmo achou que fosse o da variedade Fantasma anteriormente explicada, mas basta o despertador tocar, você levantar e abrir a janela para dar de cara com ele pousado bem na sua frente. Alguns relatos dão conta de que ele, inclusive, é educado e dá bom dia. Normalmente, nessa ocasião é fácil matá-lo, mas o ódio é tanto que você acaba quebrando algum utensílio do quarto, além de acordar a esposa, as crianças e o cachorro, causando alguma balbúrdia logo no começo do dia e imaginar como é que vai ser o resto do período.

Clone: você já o matou... sério, já matou esse maledeto pelo menos umas duas vezes somente essa noite, mas olha ele ali no canto. Não... não tem como ser ele... você o matou... matou mesmo.,... morte morrida... ou será que não....Serei eu Napoleão ou Ptolomeu? És tu Cleópatra? Ó Julieta, minha doce Julieta....

Teletransportador: a janela está fechada, a porta está fechada, você colocou até mesmo esparadrapo no buraco da fechadura e fita isolante na base da porta, está um calor insuportável no quarto, um ambiente próximo ao vácuo pois não entra nada de ar... de ar amigo, pq o pernilongo entrou. Por onde ninguém sabe. Com total e absoluta certeza ele se teletransportou para dentro do cômodo.

Sacana: você o ouviu, levantou, procurou e achou: sentado na bochecha da tua esposa que ainda dorme. Não, ele não a está picando. Está simplesmente pousado, plácido, calmo, tranqüilo sobre o seio facial de sua amada. Absolutamente não há o que fazer. Se a acordar ele voa e volta a te incomodar. Se não a acordar ele voa e volta a te incomodar. Lembra que o padre falou na alegria e na tristeza, na saúde e na doença? Pois é, ele não citou o pernilongo. Coragem, pega o travesseiro e enfia nela: nada que flores, bombons, jóias e um cartão de crédito sem limite não resolvam.
olha.... deve ter mais umas duas dúzias de tipos... com certeza vai chover mais e-mails e acho que essa eu vou continuar... acho até mesmo que - assim que matar esse que tá voando aqui - vai valer a pena... vem cá... maldito.... te pego....

terça-feira, março 14, 2006

Tomada giratória


Da série: o que seria de mim se isso não existisse.

Finalmente inventaram aquilo que todo tarado eletrônico estava desejando: uma tomada que gira 360 graus e permite 18 posições para plugar os aparelhos eletrônicos.
Deu no indispensável Blue Bus:
"Plugs grandes demais que tornam inúteis as tomadas vizinhas às quais estão conectados são um problema para quem tem aparelhos eletrônicos e usa réguas ou tomada dupla. A americana 360 Electrical viu nessa situação um mercado a explorar e criou tomadas que giram. Elas rodam 360 graus nas duas direções - sem prejudicar a passagem da energia - e oferecem 18 opções de posições para que plugs de formatos grandes e incômodos possam ser acomodados."

Explico: sabe aquela tomada dupla, na qual você pode colocar dois aparelhos (ok pode ser a tripla para três... chato!), mas que em um deles o plug - pausa

- Momento cultural: tomada, caro leitor, é aquilo que está grudado em vossa parede, contendo buracos para introdução. O que fica na ponta do fio de alimentação elétrica de seu aparelho eletrônico é plug. Enfim, tomada recebe, plug introduz. Revendo, tomada leva, plug enfia.
E antes que precisem tirar as crianças da sala, pois essa crônica está levemente erótica, continuemos -

Então, como dizia, em um dos aparelhos o plug é grande demais e atrapalha a introdução do plug do outro na tomada. Pois bem, com essa soberba invenção, basta virar o sentido da tomada para que ela receba, suave e mansamente, todos os plugs necessários ao seu deleite.
A matéria do Blue Bus continua exemplificando que a geniosa invenção é a solução definitiva para aqueles que servem-se de protetores em pastilhas contra mosquitos e que tem em casa somente tomadas na posição vertical, ocasionando a constante queda das pastilhas e conseqüente o desproteção ao ataque pernilonguístico.

- Gente, deu uma vontade de escrever sobre pernilongo que não foi mole, mas deixo essa pra outra ocasião. Apenas uma pergunta: alguém, nessa terra feita por Deus, sabe pq raios é que existe pernilongo. Qualquer explicação, mesmo a mais besta serviria. Cadeia alimentar do sapo, do pintassilgo, qualquer coisa.,... mas pra que é que serve esse bicho?
É nessas horas que posso até concordar que Deus é perfeito, mas também acho que Ele deu uma sacaneada legal na gente ao inventar o pernilongo.

Mas tergiverso, retomemos às vantagens da tomada giratória.
Apesar do fabricante insistir no manual de instruções (aliás, outra bela pauta para uma crônica, alguém aí lê manual de instruções?...ops. retergiverso) que a tomada pode ser girada interminavelmente, não aconselhamos sob risco de dar um nó nos fios internos de sua casa, igual ou pior ao emaranhado que existe atrás da sua estante, de onde caem os fios da tv, do dvd, do videocassete, do receptor da tv a cabo, do videokê, do videogame e do ventilador.

Ahá, se reconheceu né mané.... pois é amigo, traseira de estante é igual, só muda de endereço.
Agora, pra que é serve o pernilongo ninguém me disse né?

sexta-feira, março 10, 2006

Fantasma....

Algum dos estimados leitores destas linhas acredita em fantasmas?
Não digo espíritos ou em manifestações espíritas de qualquer espécie... digo fantasmas mesmo, propriamente ditos... Alguém aí acredita?
Na definição da pergunta de hoje, fantasma é aquele ser, encarnado ou não, que existe (?) com a única e exclusiva função de atormentar alguém ou alguma coisa.
Sabe aquela pessoa que parece não ter outra coisa para fazer na vida a não ser atrapalhar qualquer coisa que você faça? Pois bem, é desse tipo de fantasma ao qual estou me referindo.
E você pode até nunca ter visto um, mas que eles existem... ah, amigo, isso existem.
Tem cara que parece inclusive se divertir te atrapalhando. Esse infeliz deve acordar todos os dias e, antes mesmo de abrir os olhos, começa imaginar o que é que vai fazer para transformar todo e qualquer segundo seu um verdadeiro inferno.
Tem aquele fantasma que parece carregar uma nuvem preta em cima: está tudo bem e basta o cara chegar no lugar que quebra a cadeira, cai a luz, trava o micro, liga o cobrador, dispara a descarga, torce o pulso... já repararam?
Verdade, quando o Genivásio não vem parece que dá tudo certo, fechamos o contrato, chegou a encomenda, liberaram verba, a mulher liga dizendo que quer jantar fora "só nós dois", a filha liga dizendo que tirou 10 em matemática e o filho que foi convocado para a seleção do colégio.
Daí chega o Genivásio.... "olha aquele contrato... tá tudo certo, viu... mas falta a certidão negativa dos débitos do BNH de 1962"; "seu Sérgio, a incomenda chegô, mas acho que tá quebrada, viu,... tem um barulhinho de viudro dentro..."; "meu caro assistente, conforme seu pedido a verba de investimentos foi liberada, contudo houve necessidade de se promover uma redução de 98,7%", "olha amor, já que estamos só nós dois aqui jantando, nesse restaurante tão romântico, preciso te confessar uma coisa... eu estourei seu cartão de crédito"; "pai tirei dez em matemática, que somados com o dois do trabalho dá média 6 e eu fiquei de recuperação"; "pai, tô na seleção do colégio... você precisa comprar sapatilha na segunda".
Esse é o Genivásio...... reconheceram?
E daí, como é que a gente se livra do fantasma. Exorcismo está fora de cogitação, pois o maledeto é tão ruim que já escapou de três atropelamentos, quatro atentados, doze pragas...Bem, se descobrirem me avisem, pq os fantasmas daqui já tentamos de tudo e nada deu certo.
Outra coisa que não existe é ex-fantasma: aquele cara que sempre foi asa negra e de uma hora para outra quer ser amigo, simpático.... foge. Uma vez fantasma, sempre assombração..
Sabe como é dessas que não deixam a gente terminar o texto.... ficam ligando a toda hora, daí a gente perde o fio da meada e não consegue terminar pq já começou umas vinte e duas linhas de pensamento e não terminou nenhuma.................
desisto..... Fala Genivásio, que é que você quer?

quarta-feira, março 08, 2006

Um anjo cuidando do Jornalismo


Do essencial Jornalistas & Cia de meu amigo Eduardo Ribeiro:
"A despedida da centenária Elsie Dubugras
Aos cem anos de idade, numa singela homenagem, Elsie Dubrugas compareceu à 1ª edição do Prêmio Comunique-se, em 2004, recebendo dos quase 800 convidados uma verdadeira aclamação. Elsie, esquecendo a idade que tinha, continuava trabalhando normalmente, como diretora da revista Planeta, função que ocupou praticamente até às vésperas de morrer, na última 5ª.feira (2/3). Quiseram o destino e as coincidências da vida, que ela morresse no dia de seu aniversário, ou seja, no dia em que estava completando 102 anos de vida. E partiu em decorrência de problemas respiratórios.
Jornalista temporã, começou a militar na imprensa já na maturidade e só na Planeta estava há mais de 30 anos.
Escrevia principalmente sobre parapsicologia, espiritualismo e religião. Em homenagem que fez na edição que está nas bancas, a revista IstoÉ lembra uma passagem que ela teve com o médium Chico Xavier, de quem era amiga.
Ao ouvir dele a afirmação de que o "Brasil era o coração do mundo e a pátria do evangelho", ela retrucou: "Pare com essas bobagens, Chico. O Brasil é um país como outro qualquer e cheio de problemas".

Tive a honra de estar presente naquela noite, em 2004, e vi como Dna. Elsie entrou em um palco, ladeada (vejam bem, ladeada, não amparada) por seu neto e sob um verdadeiro mar de aplausos. Centenas de jornalistas presentes naquela noite, profissionais renomados, graduados, famosos, caras conhecidas, todos aplaudindo um exemplo de vida, de empenho, um dos últimos exemplos do verdadeiro jornalismo... aquele feito por amor às palavras... palavras que levam informação... informação que proporciona formação... formação que cria pessoas melhores... pessoas que se relacionam e que acreditam umas nas outras... foi por isso que Dna. Elsie era jornalista... é por isso que sou jornalista, claro que não como foi Elsie Dubrugas... mas é nisso que acredito.

Quando Luiz Pelegrini, editor da Planeta, esteve aqui na Sabesp, em palestra para a equipe de Comunicação, falou de tudo: um pouquinho de jornalismo, muito de vida, muito de experiências, muito de Dna. Elsie. Em suas palavras, mais do que carinho: admiração, gratidão

Quando uma arte, como o Jornalismo, perde um expoente, como perdemos Elsie Dubrugas, ficamos pensando várias coisas, muitas bobagens, mas prefiro imaginar que cabe agora, a mim e aos outros que sobraram (vamos e venhamos, perto de Dna. Elsie, de Vlado, de José Hamilton Ribeiro, vivo, heim, esse muito bem vivo e aprontando, somos sobras), fazer o Jornalismo sobreviver, quem sabe renascer, novamente ser a linha de frente das conquistas da sociedade, das vitórias, da paixão, da credibilidade.

Hoje, apesar de triste, renovo meus votos ao Jornalismo, meu compromisso com a verdade, minha paixão pela palavra, minhas desculpas à família pela falta de horário, meu orgulho pelo papel pintado, pela voz, pela imagem, minha reverência pela informação, minha dependência do conhecimento e minha informidade constante... sem a qual nada adiantaria, nada valeria.

Vamos em frente Jornalistas, nas redações, nas assessorias de imprensa. Vamos em frente, pq agora temos mais um anjo a nos inspirar - e de inspiração, admitamos, esse anjo entende.

terça-feira, março 07, 2006

Enigma

Uma coisa vocês tem que concordar comigo: algumas das coisas inventadas pelo 2o Reich Alemão foram simplesmente fantásticas. É o tipo da fase da história humana que se tivesse sido usada para o bem e não liderada por um louco demente maldoso, poderia ter sido caracterizada como um período de avanços inigualáveis.Provas disso não faltam. Uma delas seria toda a base da propaganda e do marketing moderno, mas não é disso que quero falar hoje mas sim de um sistema de códigos inventado pelos alemães que mostra-se eficiente até hoje: o Enigma.A Enigma M4 era semelhante a uma máquina de escrever e foi utilizada pelos nazistas para enviar mensagens durante a Segunda Guerra Mundial. O código criado por esta máquina era tão preciso que apenas no final do mês passado, 63 anos após o final do conflito, uma das três mensagens ainda codificadas foi decifrada utilizando uma rede de nada mais, nada menos do que 2,5 mil computadores.Vários filmes já foram feitos sobre a Enigma e suas utilizações e, pelo me lembro, o código era criado e recriado a cada escrita, sempre em blocos de quatro caracteres e enviados por palavras cruzadas de um jornal diário.Ou seja, bastava alguém comprar o jornal, fazer o jogo de palavras cruzadas, decodificar e tinha em mãos uma mensagem de guerra. Admitam: simples e eficiente, até mesmo pq seria impossível que os "inimigos" comprassem toda a tiragem de um jornal. Ou seja, a mensagem iria chegar ao destino.Como a cada digitação a Enigma embaralhava as letras de forma aleatória era preciso não somente o código decodificador para entender a mensagem, mas também uma paciência e, claro, a esperança de que o resultado não fosse algo do tipo: o que você tem em mãos é uma bomba que vai explorir.... seria tarde demais...Segundo a notícia da decoficação da mensagem, os 2,5 mil levaram mais de um mês para processar 150 milhões de permutações e desvendar o enigma. A mensagem encriptada era a seguinte:
NCZW VUSX PNYM INHZ XMQX SFWX WLKJ AHSH NMCO CCAK UQPM KCSM HKSE INJU SBLK IOSX CKUB HMLL XCSJ USRR DVKO HULX WCCB GVLI YXEO AHXR HKKF VDRE WEZL XOBA FGYU JQUK GRTV UKAM EURB VEKS UHHV OYHA BCJW MAKL FKLM YFVN RIZR VVRT KOFD ANJM OLBG FFLE OPRG TFLV RHOW OPBE KVWM UQFM PWPA RMFH AGKX IIBG
Depois de decifrado, ficou assim (traduzido do alemão):
Forçado a submergir durante ataque. Dispositivos anti-submarino. Posição do inimigo 0830h AJ 9863, 220 graus, 8 nós. seguindo. queda de 14 mb, norte-nordeste, 4, visibilidade 10.
Pelo que consta na história a mensagem, enviada em 25 de novembro de 1942, era do comandante do submarino alemão U264, que afundou mais tarde no Atlântico norte em fevereiro de 1944.
Ou seja, a mensagem não foi entendida a tempo.....Fica o mistério sobre duas outras mensagens, ainda ininteligíveis que podem ter desde uma orientação de submarino ao código da vida... algum dia a gente pode ficar sabendo.

sexta-feira, março 03, 2006

No supermercado 3

... terminando.
O que? Pensaram que o suplício tinha terminado no caixa. Ledo engano. Mas não se preocupem, eu também achei que tinha acabado, que a partir daquele momento seria só alegria.O que esqueci? Ou melhor, esquecemos? Simplesmente do maior de todos os problemas que envolvem o processo de compras em um supermercado: chegar em casa e guardar as compras.Vejam bem... chegamos no supermercado, tira da prateleira e põe no carrinho, tira do carrinho e põe na esteira do caixa, tira da esteira do caixa e põe no saquinho, põe o saquinho no carrinho, tira do carrinho e põe no porta malas do carro, tira do carro e põe no carrinho que fica na garagem do prédio (o que? a senhora mora em casa? tá bom, pula essa parte), leva o carrinho para o elevador, sai do elevador com o carrinho e para na porta do apartamento, tira do carrinho e põe no chão da dispensa (tem gente que pula essa parte, já guardando direto do carrinho na dispensa, mas é uma sacanagem pois fica segurando o carrinho mais tempo do que o necessário, né Dna Marta?), leva o carrinho de volta para a garagem (viu Dna Marta!!!), tira as coisas do chão da dispensa, abre o saquinho e começa a arrumar na dispensa, na geladeira, na fruteira, no armário, no banheiro, no buffet.................................Sem contar que o raio da seleta de legumes já descongelou, o saquinho das latas de leite condensado rasgou, a caixa de uvas ficou embaixo do melão, a embalagem de limpa-limo vazou, a caixinha do cd quebrou... sem contar esses "acidentes de percurso", a minha mulher parece que sentiu saudades das embalagens que - coitadinhas - ficaram estressadas com todo o movimento e, enquanto fica guardando-as em seus devidos lugares, volta a bater papo com elas.Só que dessa vez o tom da conversa é diferente, é algo mais íntimo,... afinal de contas, minha gente, já estamos em casa.- Agora você aqui... atrás delas... você aqui na frente... não, melhor ali de lado.... hummm você aqui na frente que amanhã, logo cedo, volto pra te pegar....Juro que se alguém, que não sabe essa história e apenas escuta essa parte, pensa que tá rolando a maior suruba no apartamento e eu não estou dando conta do recado....e a minha moral no bairro, como é que fica?E nessa de levar um pra lá e outro pra cá, a patroa (agora que já está em casa, vira patroa mesmo... no supermercado era dileta esposa, queridinha, meu amor, xuxuzinho) retoma a leitura dos carboidratos, lipídeos, protédeios, strepalopotídeos e outras esquisitices. De repente surta:- Eu sabia... fui escutar aquela broaca gorda do caixa.. Esse creme de leite tem mais gelatoricina do que a marca que eu ia comprar. Que ódio? E aí, lembra que eu, já todo suado (claro, quem vocês acham que fez toda aquela maratona de tira e põe, põe e tira?), estou ali parada abaixando e pegando as compras.- E você, né, nem falou nada. Ficou quieto, nem para me defender. Com certeza estava mais interessado nos peitos da menina do caixa do que em me ajudar a comprar as coisas mais saudáveis para nossa família. Imprestável!E eu, que jurava por tudo quanto era santo que o caixa aonde passamos era um menino, razoavelmente simpático, atencioso e que atendia pelo nome de João Carlos - pelo menos era o que estava escrito no crachá que ele usava... Eu que não tinha e continuo não tendo a menor idéia do que é um jolopídeo ou os malefícios de um pão-de forma com mais glutamato de bicarotódio do que outro lembro do começo da crônica, anteontem, e admito: sou uma besta, quem mandou ir no supermercado com a mulher durante o regime?
Gente, na verdade a Gláucia não é assim não ... pelo menos não em tudo... principalmente na parte do xuxuzinho, que o dia em que eu a chamar assim, provavelmente levo a gelatina diet sabor tangerina, o iogurte de frutas cítricas, a seleta de legumes e o pão de forma na testa, durmo na varanda e ainda pago a conta do supermercado.
agora acabou... pelo menos até a próxima ida ao supermercado.

No supermercado 2

... continuando
O trauma da gelatina diet sabor tangerina até que foi superado rapidamente. Ficou, claro, uma pontinha de ciúmes que alguns especialistas dizem que é até saudável que haja nos relacionamentos. Dizem que sentir ciúmes é sinal de que há amor....Aposto que a mulher deles nunca fez um carinho escuso em uma caixa de gelatina diet sabor tangerina... mas continuemos o passeio.Ah, felizmente tinhamos pela frente a área de frutas, verduras e legumes que são - Aleluia! - vendido a granel, sem embalagem, ou seja, ela não ia ter o que ler...(imaginem, caros leitores, aquela risadinha satânica, esfregando as mãos...cara de louco com camisa de força...conseguiram? grato!)Mas, oh destino ingrato, oh amargo sabor da derrota, oh corvo que pousa sobre o umbral de minha esperança para entoar seu canto agourento e derramar pela terra o suor do meu espírito tombado na batalha, vinha em seguida a área de frios e produtos gelados. Todos, absolutamente todos com milhares de centenas de indicações na embalagem. Aí, caros, foi minha desgraça. Não bastasse aquela para a qual um dia disse que sim, passaria a seu lado a eternidade, na felicidade e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias de minha vida; sim esta mesma completamente se esquecesse de minha presença (diria mesmo que de minha existência) e iniciasse um diálogo com o pote de margarina, com o pack de seis potes de iogurte com polpa de fruta (ah, destino ingrato, com este, a exemplo da já malfadada gelatina diet sabor tangerina, tive a certeza de que era traído, pois não somente ela pegou-o, como alisou-o e este, despudoradamente, maliciosamente mostrando o quanto o agrado o havia agradado, deixou rolar uma gota por sua tez rosa-avermelhada repleta de figuras de morangos, cerejas, amoras e outras frutas sexualmente ativas).Acreditem, ela conversava algo longamente com um pacote de salsichas. - Hummm... sem corante! diminuiram as calorias! que bom, mas será que continua com o sabor de sempre? espero que sim... vamos ver, vou levar.Em resumo, pelo menos 45 minutos de minha vida foram gastos vendo minha mulher levar altos colóquios com caixas de hamburguer, nugts, batatas fritas semi-prontas e, pasme, até com um marreco congelado recheado....Pensam que o martírio acabou? Pois enganam-se. Faltava a punhalada final, o golpe de misericórdia: o caixa.Algum dia alguém me falou que iam botar nos supermercados a mesma lei que determina tempo limite para as filas. Não sei se colocaram, mas se implantaram esqueceram de avisar os supermercados lá do meu bairro. Para o desespero de todos os maridos ali presentes as filas estavam quilométricas, mas acreditem, para todas as mulheres estavam até curtas. É incrível a capacidade feminina de fazer amizade em fila de supermercado.E é um tal de uma dizer para outra que a marca X daquele produto tem menos likitropédios do que a que está no carrinho. Como fazem? Não sei, mas quando a gente percebe todas estão conversando sobre o que está escrito nas embalagens.Mas, ahá, pensaram que tinha acabado o suplício? Eu também, mas não. Pois não é que quando alguma delas fala que a marca F de seleta de legumes tem menos coloropedilina do que a outra, a minha simplesmente pega os pacotes já pingantes de seleta de legumes e me olha com aquela carinha de "amorzinho do meu coração": vai lá e troca?Vou com o treco pingando na calça. Acho a tal da marca com menos seiláqueporraéessa do que a outra. Troco. Volto para o caixa e lá está ela com o pacote de pão de forma:Troca pelo azulzinho?
... continua

No supermercado 2

... continuando
O trauma da gelatina diet sabor tangerina até que foi superado rapidamente. Ficou, claro, uma pontinha de ciúmes que alguns especialistas dizem que é até saudável que haja nos relacionamentos. Dizem que sentir ciúmes é sinal de que há amor....Aposto que a mulher deles nunca fez um carinho escuso em uma caixa de gelatina diet sabor tangerina... mas continuemos o passeio.Ah, felizmente tinhamos pela frente a área de frutas, verduras e legumes que são - Aleluia! - vendido a granel, sem embalagem, ou seja, ela não ia ter o que ler...(imaginem, caros leitores, aquela risadinha satânica, esfregando as mãos...cara de louco com camisa de força...conseguiram? grato!)Mas, oh destino ingrato, oh amargo sabor da derrota, oh corvo que pousa sobre o umbral de minha esperança para entoar seu canto agourento e derramar pela terra o suor do meu espírito tombado na batalha, vinha em seguida a área de frios e produtos gelados. Todos, absolutamente todos com milhares de centenas de indicações na embalagem. Aí, caros, foi minha desgraça. Não bastasse aquela para a qual um dia disse que sim, passaria a seu lado a eternidade, na felicidade e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias de minha vida; sim esta mesma completamente se esquecesse de minha presença (diria mesmo que de minha existência) e iniciasse um diálogo com o pote de margarina, com o pack de seis potes de iogurte com polpa de fruta (ah, destino ingrato, com este, a exemplo da já malfadada gelatina diet sabor tangerina, tive a certeza de que era traído, pois não somente ela pegou-o, como alisou-o e este, despudoradamente, maliciosamente mostrando o quanto o agrado o havia agradado, deixou rolar uma gota por sua tez rosa-avermelhada repleta de figuras de morangos, cerejas, amoras e outras frutas sexualmente ativas).Acreditem, ela conversava algo longamente com um pacote de salsichas. - Hummm... sem corante! diminuiram as calorias! que bom, mas será que continua com o sabor de sempre? espero que sim... vamos ver, vou levar.Em resumo, pelo menos 45 minutos de minha vida foram gastos vendo minha mulher levar altos colóquios com caixas de hamburguer, nugts, batatas fritas semi-prontas e, pasme, até com um marreco congelado recheado....Pensam que o martírio acabou? Pois enganam-se. Faltava a punhalada final, o golpe de misericórdia: o caixa.Algum dia alguém me falou que iam botar nos supermercados a mesma lei que determina tempo limite para as filas. Não sei se colocaram, mas se implantaram esqueceram de avisar os supermercados lá do meu bairro. Para o desespero de todos os maridos ali presentes as filas estavam quilométricas, mas acreditem, para todas as mulheres estavam até curtas. É incrível a capacidade feminina de fazer amizade em fila de supermercado.E é um tal de uma dizer para outra que a marca X daquele produto tem menos likitropédios do que a que está no carrinho. Como fazem? Não sei, mas quando a gente percebe todas estão conversando sobre o que está escrito nas embalagens.Mas, ahá, pensaram que tinha acabado o suplício? Eu também, mas não. Pois não é que quando alguma delas fala que a marca F de seleta de legumes tem menos coloropedilina do que a outra, a minha simplesmente pega os pacotes já pingantes de seleta de legumes e me olha com aquela carinha de "amorzinho do meu coração": vai lá e troca?Vou com o treco pingando na calça. Acho a tal da marca com menos seiláqueporraéessa do que a outra. Troco. Volto para o caixa e lá está ela com o pacote de pão de forma:Troca pelo azulzinho?
... continua

No supermercado 1

Eu absolutamente concordo com vocês: o errado sou eu. Quem é que mandou, depois de tudo, voltar a fazer supermercado com a esposa?Sabe como é, feriadão, cidade vazia, supermercado sem filas, a gente sem pressa, sem stress, quem é que poderia imaginar que algo pudesse dar errado?E eu, que pensei que conhecia absolutamente tudo do comportamento feminino em um supermercado, acabei descobrindo que sou um completo ignorante no assunto e que, decididamente, definitivamente, para sempre, não dá para entender como é que elas conseguem.O mais novo impropério supermercadístico é o colóquio com os produtos. Isso mesmo, a criatura mantém, com alguma emoção, uma conversa com a lata de ervilha, uma prosa com vidro de mostarda, bate um papo com o saco de lentilha. Mas permitam que conte a história do começo.Logo que chegamos no mercado ela vai avisando: "olha, dessa vez não vou sair do regime. Você me ajuda?"Primeiro, penso, o que seria ajudar a não sair do regime? Mas, asseguro-lhes que a pergunta fica no pensamento. Claro pq se ousar verbalizá-la corro o risco de escutar durante as próximas cinco horas: tá vendo, você não ajuda mesmo, num posso contar com você pra nada... Melhor ficar quieto.Entramos.As primeiras prateleiras (sim, meu amigo, eu sei que não são prateleiras, são gôndolas, mas hoje quarta-feira de cinzas, dá um desconto, vai.... pode ser? obrigado) até que são suplantadas com alguma lepidez, o que me deu uma esperança que seria possível percorrer toda a extensão do local ainda nesse semestre.Mas, vã e fria esperança, chegamos na área de alimentos e aí, justamente aí foi que iniciou-se uma nova fase em minha vida: a fase de fiscal de composição nutricional de alimentos e afins.Como sempre, passei no corredor das latarias e fui colocando para dentro do carrinho o que me interessava e o que precisava, ou melhor, tentava colocar, pois bastava esticar o braço para alcançar alguma latinha que vinha aquele ser, linda, maravilhosa, com quem decidi passar o resto dos meus dias e começava a ler a embalagem.Mas o pior, ela não lia a embalagem para mim ou para qualquer outro ser humano do estabelecimento: ela lia a embalagem, para a própria embalagem.- Não acredito, olha a quantidade de carboidratos que você tem... Deixa eu ver essa outra aqui... nossa... tem ainda mais... vocês não tem vergonha, como é que vou manter meu regime dessa forma. Nada feito, volta agora para a prateleira. Vamos amor.Bem, pelo menos o amor foi para mim...Nas primeiras vezes achei que fosse brincadeira. Em outras que era pegadinha, impossível, tinha que ter câmeras escondidas. Mas depois de 48 minutos e o carrinho ainda semi vazio graças às descrições nas embalagens comecei a acreditar que o negócio era sério.Tão sério a ponto de começar a me preocupar com o jantar daquela noite. Claro, pelo andar da carruagem quem ia ficar de regime era eu (não que não estivesse precisando, mas quem iria decidir seria eu e não o rótulo de uma lata de atum).O mais engraçado é que ela tratava todos os produtos com absoluta intimidade. Aos mais calóricos ou com maior quantidade de carboidratos era dirigida uma bronca que beirava à descompostura. Cheguei mesmo a ouvir um: será que você não tem vergonha, que adianta... sei que você é gostoso, mas não adianta, com tudo isso de calorias, sinto muito, não dá pra te levar.Imaginei o produto clamando pela atenção, tentando se explicar, contra-argumentando a quantidade de prolipídeos e asterlopídeos, implorando: me leva e me come só um pouquinho, vai...Que baixaria!Já aos produtos ditos saudáveis ela só faltava acariciar. Faltava? Que nada, não é que a bandida fez um carinho, algo sensual no pacote de gelatina diet sabor tangerina antes de colocá-lo no carrinho com um sorriso que só vi naquelas noites mais calientes? Não minha senhor, não cheguei a ter ciúmes da gelatina, pelo menos não da de sabor tangerina, talvez um pouco da de frutas vermelhas.. sei lá, acho que foi a cor...
continua....