quarta-feira, maio 31, 2006

Viver em condomínio

Viver em condomínio é sem sombra de dúvidas um dom. Alguns tem, outros definitivamente não.
Como São Paulo simplesmente tem mais gente que espaço para
toda essa gente, a proliferação de prédios de apartamentos, condomínios e outros monstros verticalizados é inevitável. Apenas esqueceram de incluir no currículo escolar a matéria cidadania e convivência - se bem que em certos casos deveria ser incluído no calendário de vacinas.
O ser humano, dizem, foi feito para viver em grupo, bando, turma. Particularmente, eu acho que a grande maioria dessa espécie deve é ser isolada pois não tem condições de conviver com um mínimo de decência com outro da mesma raça.
Daí chega uma construtora e despeja um caminhão de dinheiro na mão de um cara, compra a sua casa e ele, juntamente com a família, vai para um apartamento. É nesse momento que acaba o sossego: dele e dos demais incautos que foram, inadvertidamente, morar no mesmo prédio.
E não adianta escolher. Se o prédio é pequeno, com poucos apartamentos as manias são grandes, os problemas são grandes, as dificuldades são grandes. Se o prédio é grande, com muitos apartamentos, as manias, problemas e dificuldades são... exatamente as mesmas.
No meu prédio - só para contar um caso, pois tem assunto para um mês e meio de crônicas - acontecem umas coisas que, no mínimo, são consideradas, esquisitas.
E as desculpas são, sempre, o bem comum. Engraçado como o bem comum sempre penaliza, restringe, limita... não deveria ser o contrário?
Um dos assuntos mais polêmicos é a realização de serviços nos apartamentos. Pelo estatuto, que algum dia algum completo imbecil escreveu, está estabelecido que a realização de qualquer tipo de serviço nas dependências internas dos apartamentos deve ser realizada de segunda à sexta, das 9h às 17h, sendo vedada a entrada de prestadores de serviços fora desse horário e em finais de semana e feriados.
A desculpa.... ops, razão é, claro, o bem comum, o silêncio, o não atrapalhar.
Pois bem. O engraçado é que, tirando a inútil da síndica daquele condomínio, todos os restantes dos mortais (não, antes que perguntem, sindica não é mortal... a diaba está no cargo mesmo antes do prédio existir e ninguém a tira de lá, portanto, síndico é imortal) trabalham - para pagar a taxa de condomínio - minimamente de segunda à sexta, das 9h ás 17h.
Desta forma, já que também os serviços não podem ser realizados sem a presença do responsável pelo apartamento, você escolhe ou pede demissão aí do teu emprego ou o serviço não pode ser realizado.
Até concordo que se o serviço em questão for provocar barulho ou alterar a rotina do prédio (como fechar a água, por exemplo) não é justo ficar ligando furadeira às onze da noite. Mas e o técnico do computador, que foi instalar um novo programa? pq é que ele não pôde entrar de noite?
- Seu Asdisbardo, bánoite.
- Boa noite, Carmelo.
- Tá quimbácho um moço pra mexê nu seu computadô.... cumé seu nome mêmo?..... O Isfrávio.
- O Luís Flávio, Carmelo. Pode deixar ele subir.
- Podi não senhor.
- Quê?
- Posso dexá ele subi num senhor.
- Como não, Carmelo?
- É quisabi, seu Asdirbardo, já são maisi de oitcho hora e di noite num podi subi istranho nu prédio.
- Não é estranho, Carmelo, é o Luis Flávio, trabalha comigo na empresa, é técnico de computador. Tô falando, pode deixar ele subir.
- Posso não seu Asbirbardo, é as regra. Despois das cinco, nada de subi istranho pra fazê serviço nu prédio. É as regra.
- Tá bom, Carmelo. Faz um favor pra mim. Pergunta pro Luis Flávio se ele está com celular?
- O moço tá di celulá?.... Disse qui tá.
- OK, Carmelo. Obrigado.

Fico até imaginando a conversa que o porteiro teve com o técnico no meio tempo em que fui até a minha agenda, peguei o número do celular dele e liguei.
Daí pedi que ele desse dois passos para trás e voltasse ao prédio, se identificando como Luis Flávio, meu primo.

- Seu Asdisbardo, bánoite.
- Boa noite, Carmelo.
- Tá quimbácho um moço seu primo.... cumé seu nome mêmo?..... O Isfrávio.
- O Luís Flávio, Carmelo. Pode deixar ele subir.
- Brigado, tá subindo.

Vai entender. É como diz o Carmelo: é as regra.

terça-feira, maio 30, 2006

Chuveiro


Prezados leitores, solicito vossa prestimosa ajuda para a solução de um dilema que aflige este escriba: qual o melhor critério para a compra de um chuveiro?
Aparentemente um artigo simples, abestalhado até, é um verdadeiro flagelo para ser escolhido. Quem teve a paciência de ir recentemente a qualquer loja de material de construção e passar na área de metais para banheiro sabe o que estou falando.
No meu tempo era bem mais simples. Em 99,9% das casas tinha aquele Lorenzetti cheio de fio atrás. Uma primor de tecnologia, com um controle deslizante Verão e Inverno que regulava a temperatura da água e que, invariavelmente, te dava o maior choque sempre que você tentava mudá-lo de posição.
Em casa era, então, um festival de choques. Eu gostava (como ainda gosto) de banho mais frio, minha mãe de água escaldando, meu avô meio nem lá nem cá e todo mundo tomava choque. Se alguém ficasse escutando não sabia se era um banho ou o ensaio de uma orquestra (pena que mudamos, após todos os anos tomando choques, estávamos até que afinadinhos... poderíamos até montar um conjunto: Os Chocados, Os The Choques).
Mas o tempo passa, as duchas tomam conta do mercado e hoje, em uma simples e modesta casa de material de construção, pairam à nossa frente dezenas de modelos de duchas, chuveiros, com prolongadores, extensores, desviadores, chuveirinhos - esses são os melhores...
Lembram que, nos idos tempos de 1990 (quem houve até parece que faz um tempão) era um cano de borracha, geralmente branca (explico, branca quando era comprada, pois dois dias após a instalação já estava cinza esverdeado), com um apetrecho na ponta que era um chuveirinho com um plug plástico que ia e vinha, abrindo e fechando a água - coisa, literalmente, do arco da velha.
Bem, hoje em dia os chuveiros ou duchas são verdadeiras obras de arte, suas curvas, formas, designs, espaços, são coisas que efetivamente não são para qualquer um.
Tem desde uma duchinhas minúsculas, pequenas mesmo, ínfimas até, mas que prometem uma pressão que - se você não tomar cuidado - vai te grudar na parede do box.
Tem umas verdadeiras caçarolas, enormes, gigantescas, que devem ocupar metade do espaço do box, que promete uma quantidade de água caindo sobre você somente assemelhada a uma cachoeira.
Tem as médias, que dizem ter boa pressão, boa quantidade de água, bom desempenho... tudo é bom... vai saber... bom para mim é uma coisa, para você é outra? será que eles são bons em qual conceito?
Tem uma que parece uma flor. Fico até em dúvida se tomo banho ou fico apenas observando, pensando na vida, no raiar do sol, no canto dos pássaros...
Tem uma que é fantástica, parece para casal, com duas espátulas que se movem. Se o casal estiver de bem dá até para dar uma viradinha para aproximar, mas se estiver de mal, vira para o outro lado que nem se encostam.
Tudo isso para uma coisa que é básica: tomar banho, um ato que de simples higiene, passou a ser um momento de prazer, de descontração, de relaxamento, vilão do uso racional da água, mas uma das melhores coisas da vida.
Parece que o ser humano nasce sabendo tomar banho. Tem que lembrar que existem certas partes do corpo que, tal qual a barriga, as coxas e os braços, também precisam ser limpas, como atrás da orelha, mas, passado um rápido período de adaptação, todo mundo toma banho com um profissionalismo ímpar.
E, apesar de ser uma coisa que todos fazer, dificilmente se encontram comparações: pois saiba que eu tomo banho melhor que você!
- Que nada, você não viu o Fasbindo... esse é que sabia tomar banho.
- Ah, o falecido....que saudade do falecido... ele tomava um banho!
- Meu pai toma banho melhor que o teu.
- Meu filho um dia vai ser executivo de uma multinacional. Verdade, dá para saber só pela forma como ele toma banho.
- Menina, você viu como a filha da Martha toma banho? Vai sair igualzinha a mãe.
- O casamento deles não ia dar certo mesmo. Também, da forma como ele toma banho...
- Vocês viram a nova edição da revista? Mostra tudo sobre o banho dos famosos.
- Olha, banho por banho, eu prefiro o meu, mas sabe como é... gosto não se discute.
E enquanto o povo briga, ou melhor, não briga pelo estilo do banho, os fabricantes de chuveiros e duchas lançam novos modelos de equipamentos para fazer do banho nosso de cada dia um momento ainda melhor.
Taí, nunca tinha imaginado que tinha alguém se preocupando com o meu banho.... nem nesse momento dá para ter um pouco de paz, qualquer dia vão lançar o imposto do banho.

segunda-feira, maio 29, 2006

Como abrir e-mails

Se vocês forem a qualquer livraria irão ver que uma das prateleiras com maior variedade de títulos é a de auto-ajuda. Chega a ser fora do normal o quanto as pessoas buscam ajudar a si mesmas, o quanto de benemerência, de altruísmo, de desapego existe de uma pessoa para com ela mesma. Técnicas e mais técnicas de como, em um período de tempo de 6 a 24 horas, com um intervalo der 7 a 120 passos, de várias maneiras você, meu amigo, meu irmão, acredite, você é seu melhor amigo e você vai ajudar a sua vitória a acontecer - quem quiser saber mais, favor escrever para receber os dados da conta corrente para depósito.

O que, contudo, nenhum desses livros conseguiu ainda ensinar é como fazer para enviar um e-mail para uma (ou mais) pessoa(s) e fazer com que a mensagem seja aberta rapidamente.
Tem gente que fica com o micro conectado o tempo todo. Daí a mensagem chega, o cara com dois ou três cliques resolve tudo.
Mas tem aqueles que se você mandar o e-mail hoje, meu caro, senta e relaxa, pq tua mensagem somente vai ser aberta em uns três ou quatro dias.

A única coisa que já li a respeito de etiqueta virtual (chiquérrimo, não?) foi que você tem que responder ao e-mail recebido, nem que seja com uma mensagem automática. Agora, se você tiver condições de editar sua mensagem automática, por favor, por tudo que você deseja de bom para as futuras gerações do planeta, mude o "recebemos sua mensagem, obrigado. iremos responder o mais brevemente possível".
Sei lá, põe algo mais agradável. Algo do tipo "Olá você! Que bom que você escreveu para mim e que pena que não posso te responder pessoalmente agora. Mas não se preocupe, sua mensagem não irá - ainda - para a lata de lixo. Se for realmente importante o que escreveu - o que sinceramente duvido - liga pra mim, estou aqui sentado trabalhando - coisa que, aliás, você também deveria estar fazendo". Entendeu, algo assim...

Na verdade, não abrir uma mensagem eletrônica assim que ela chega é uma técnica antiquíssima de dissimulação. Com absoluta certeza, em 24 horas (contudo se você der 48 horas, a absolutidão da certeza é mais assegurada), o assunto já se encerrou, foi resolvido por outro babac..... ser e você nem teve que meter as mãos.
E como desculpa, caso venha a ser cobrado pq não fez, ainda pode dizer, com a maior cara de santo que não sabia, que o e-mail nunca chegou e até mesmo ficar nervoso por não ter sido informado do assunto.

Assim, o ideal - já que nenhum livro vai ensinar - é mandar a mensagem e, em seguida, ligar para quem você a mandou e dizer que é para ele abrir a caixa postal imediatamente. A questão é: se você vai ter que ligar, pq é que não combina diretamente com a pessoa, precisa mandar e-mail?
Ah, claro, fica registrado... fica formalizado.
Então, meu caro, sinto dizer que o problema é você: se você tivesse o mínimo de respeito, o cara do outro lado - seja do micro ou da linha - ia trabalhar em conjunto contigo.

Mas, como tudo nessa vida tem solução. Não se desespere. Seus problemas acabaram. Não importa se a mensagem que você tem para passar é positiva ou negativa. Tanto faz se é uma promoção ou uma demissão. Seja notícia de nascimento ou doença. Tudo será imediatamente aberto se você conseguir criar uma frase interessante, impactante no campo "assunto" (que em algumas versões também vem grafada como "subject").
O conceito de interessante é que é interessante. Esqueça o criativo, esqueça o bom, fuja do relevante: interessante é o que traz vantagem e se essa for material, sua mensagem será aberta imediatamente. Agora se além de material, for financeira, meu amigo, seu e-mail será aberto antes do da esposa do cara para quem você enviou.

Claro, se depois o corpo da mensagem estiver uma absoluta desgraça, com uma notícia não tão.... digamos.... alvissareira... bem, aí meu caro, o problema é teu.
Mas, sinto muito, a garantia da dica era até o teu alvo abrir o e-mail e isso ele fez, não fez?
Por falar nisso, não é bom você sair correndo que ele não só abriu tua mensagem, como a leu e está indo para tua sala tirar algumas satisfações?
Se eu fosse você............

sexta-feira, maio 26, 2006

Com que roupa eu vou


O tempo em São Paulo pirou de vez. Na verdade nunca foi muito certo da cabeça, mas esta semana despirocou totalmente.
Logo cedinho, quando a gente acorda.... que? você não acorda assim tão cedinho... tá bom, vamos fazer uma rápida enquete entre vocês leitores.
Quem acorda cedo levanta a mão.
...........
Como assim, o que eu considero cedo? ô gentinha que gosta de detalhes.......
Quem acorda antes das 7h levanta a mão.
..................
Não, minha senhora. Claro que 4 da matina é antes das 7, mas ninguém levanta as 4h....... ah, a senhora levanta... ahã... claro.... compreendo....idade...é.. fazer o que né... sei, um dia vou chegar lá... claro... refarei a pergunta e.. como?... ah, sim,,... falarei um pouco mais alto para o moço aí do fundo.
Quem acorda entre 6h e 6h30, por obséquio, identifique-se.
........
Viram? A maioria dos leitores dessa crônica desperta cedo. Posso continuar? Obrigado.
Democracia.......... humpft!
Parei onde mesmo... ah, claro...

Logo cedinho, quando a gente acorda....ok, para todos?.... então, nessa hora, está um frio de doer.
A gente levanta abre a janela e dá de cara com um tempo fechado. Hoje tinha até nevoeiro. Os telejornais da manhã anunciando temperaturas na casa dos 11... 13 graus no máximo. Enfim: tempo para casaco.
Daí, você se veste, se empanturra de gorros, meias, cachecóis e toda sorte de blusas e sai para trabalhar.
No meio da manhã começa a esquentar. Tira um, dois, três peças.
Quando dá meio-dia você se arrepende amargamente de não ter colocado uma camiseta.
No final do dia, cortando tempo, pois a enquete tomou uma boa parte da crônica, toca se remontar pois volta o friozinho, mas nem de perto o da madrugada.
Então, o que acontece? Você deixa uma blusa no escritório, outra no carro, outra no carro da mulher que usou ontem pq era rodízio do seu e outra.... que?

Não madame, eu não deixo minha mulher andar de ônibus e pego o carro dela em dia de rodízio do meu. Pq seu marido faz isso?
Não senhora. Não foi isso que eu disse, tá ali ó, logo ali na linha de cima...A madame sabe ler? Disse que deixo outra blusa no carro da mulher que usei ontem pq era rodízio do meu.
Eu usei, estive dentro, com ela dirigindo.... Olha dona, não vou discutir. Aprender a escrever direito antes de me meter a o que?.... Olha eu não estou ofendendo ninguém...
Como, que desrespeito aos direitos da mulher? Que atitude machista?
Minha senhora, posso acabar a crônica? Falta só um pouquinho? Sim, depois lhe dou a palavra. Prometo.

Retomando...é....
Olha, o que eu queria dizer é que o fato de ter uma blusa em cada lugar, no carro, no escritório, em casa, sei lá mais aonde, acaba gerando cenas engraçadas da gente procurando um moleton em um lugar e ele estar no outro; descidas até a garagem, ligadas para o escritório e um monte de situações que somente um tempo como o de São Paulo pode proporcionar.
Perguntas se um pegou o casaco do outro...
- Asderbaldo, você viu o meu pulôver bordô?
- Olha, a última vez que vi estava no carro... mas faz tempo.
- Tenho certeza que ele estava nesse armário...
- Já olhou na gaveta?
- O que é que um pulôver bordô estaria fazendo na gaveta?
- Sei lá... se escondendo de vergonha?
- Você só fala isso pq foi a mamãe que me deu. Pois saiba que ele é chiquérrimo, tá. Combina com absolutamente tudo.
- Tá bom... falando nisso, aquela minha jaqueta de veludo preto, você tem idéia de onde foi parar?
- Você não foi trabalhar com ela na terça?
- Fui e não acho mais.
- Vai ver deixou no escritório.
- Não, com certeza lá não ficou.
- É verdade, você foi trabalhar com ela e voltou com um colete azul... Dá para o senhor se explicar?
- O colete eu tinha deixado lá. Esquentou durante o dia, eu tirei a jaqueta e pus o colete.
- Sei... historinha mal contada...
- O que queria saber é onde coloquei a jaqueta.
- Vai ver ela saiu com meu pulôver bordô!
- Ela não faria isso.....
- Pq não? A jaqueta tem melhor gosto que o dono dela.
Sérgio Lapastina está em...que? como quer a palavra?... olha dona, sei que tinha deixado, mas.... olha quer saber? não vai falar nada não senhora. a crônica é minha e chega. se quiser monta um blog pra senhora e vai dar seus xiliquitos lá... ah, num me enche... que saco!... olha eu tô no http.... vai falar não senhora.... no http.... vai nada... no http:/... fique queita ô coisa....http://slapastina.blogspot.com/

quinta-feira, maio 25, 2006

Reforma 3


Daí, um belo dia, nem lembro se terça à tarde, quinta à noite ou domingo de manhã, ouço uma voz dizer.
- Bem, seu Isderbardo, brigadú por tudo, discurpa quarqué côsa. Inté mais.
Era o fim, o the end, o finito. Admito, não era fácil aceitar. Tal qual uma despedida, um adeus, parecia que aquele ser já fazia parte da família. Mas, se era o fim..... o que fazer... resignai-te ó coração, reuni os cacos e ergue-te do amontoado para refazer tua história....
ÊÊÊÊÊÊÊÊbaaaaaaaaaaaaaaa. Acabou, a reforma finalmente havia terminado. Meses após, nem sei quantos, nem sei quantas noites dormindo em colchões estirados no chão, em cômodos diferentes de uma casa que já havia sido minha e que a partir daquele instante voltava ao meu controle.
Claro, tudo estava melhor, mais bonito. Sem dúvida - jamais iriam me obrigar a expressar em voz alta - mas minha mulher tinha sido extremamente competente e feliz em todas as escolhas. Tinha sido porreta agüentando aquele bando, aquela turba de pintores, marceneiros, eletricistas e sei lá mais que tipos estranhos - claro, nada contra pintores, marceneiros e eletricistas, em verdade admiro muito esses trabalhos pois admito minha total incompetência em atarraxar uma torneira, em serrar um cabo de vassoura, em parafusar um quadro, em trocar uma lâmpada, mas... será que precisavam estar todos juntos, em convenção, no meu apartamento?
Mas estava tudo arrumado. Tudo em ordem. Parede nova, quadro novo. Quarto novo, cama nova, armário novo. Banheiro novo, chuveiro novo, privada nova. Cozinha nova. Tudo novo e eu poderia aproveitar todas aquelas novidades... finalmente, voltaria a ser feliz.
O dito cujo, ou melhor, o último dos ditos cujos, saiu e eu pude me deitar no sofá e respirar fundo. Estava finalmente...
- Asderbaldo, o que é isso?
- O que? Isso o que?
- Dá para tirar esses pezões do sofá novo!
- Que pezão? Mas eu sempre deitei no sofá para descansar...
- Deitava, doutor Asderbaldo, deitava. Nem vem que não tem. A partir de agora é vida nova na nova casa. O senhor não vai de forma alguma manchar o sofá.. vai, vai, vai... vai levantando e sentando direitinho.
Preferi levantar. Na verdade estava com sede. Acho que a emoção do final da reforma havia me desidratado. Fui até a cozinha.
- Benhê?
- Fala Asderbaldo?
- Você sabe aonde está o meu copo? Aquele que gosto de tomar água...
- Sei. No lixo.
- Como?
- Aquela coisa era horrível não combinava com a cor do armário.
- Mas o armário é branco e o copo tinha detalhes em branco.... como é que não combina? E o que é que tem a ver o meu copo combinar com o armário?
- Olha Asderbaldo. Vamos começar vida nova. Aquele copo, ou melhor, aquela monstruosidade em vidro já era, foi-se... Toma... agora teu copo de uso diário é esse.
- Esse cálice?
- Asderbaldo...
- Mas eu tomo água muitas vezes por dia e com essa tigelinha...
- As-der-bal-do.
Desisti. Melhor ir lavar o rosto... relaxar.
- Dá para o senhor tirar esse mãozão imundo da parede branquinha.
- Que?
- A mão Asderbaldo. Parece criança. Precisa encostar a mão em tudo que é parede?
- ....
- Môr.
- Fala Asderbaldo.
- Que gosma é essa que está na pia do banheiro?
- Mas o senhor não entende nada mesmo de modernidade. Esse é o novo sabonete líquido artesanal da Imaculada. Erva cidreira, amêndoa doce, polvilho e nutrientes essenciais para a pele.
- Quem é a Imaculada?
- A filha da Tia Norma, esqueceu?
- E desde quando aquela encalhada entende alguma coisa de sabonete?
- Pois saiba que ela fez um curso completo e avançadíssimo nessa área. Foi até matéria de jornal.
- Ela?
- Não o instrutor do curso, um oriental famosíssimo.
- Só se for na terra dele.
- Que foi que disse?
- Nada. Xá prá lá.
Cansaço, tudo puro cansaço. Sabe quando você está muito cansado e dá uma relaxada. Parece que vai desabar. O melhor é dormir e pela primeira vez ia poder dormir sem medo de ser acordado com um eletricista pendurado no lustre, um encanador batendo no banheiro, um marceneiro lustrando armário na minha cabeça, um técnico de tv a cabo pedindo licença para passar cabo por trás da cama.
- Sabe de uma coisa querida? O quarto ficou muito bonito. Olha, vou ter que admitir. Você se superou.
- Ai, que lindo.... Posso aproveitar que você está romantiquinho...
- Claro.... gatona!
- Para, não é nada disso.
- Hummm
- Sabe...
- Que?
- Andei pensando.... e...
- Vai direto, amor. Fala logo.
- Tá bom. As crianças estão crescendo. Logo, logo vão ter namoradinhos, amiguinhos...
- Sei...
- O que você acha da gente mudar para um apartamento maior?
Toca o interfone. Minha filha do meio atende.
- Alô.
- Olha, desculpa incomodar - diz o envergonhado zelador - Mas é que já três pessoas reclamaram que tem um barulho esquisito vindo do seu apartamento.
- Ah, não é nada não. Fala que é meu pai que consegui, não sei como, entrar embaixo da cama. Minha mãe tá falando para ele sair de lá, mas ele tá dizendo umas coisas esquisitas sobre ter jogado pedra na cruz, matado beija-flor quando criança, um tal de carma, que tá pagando pecados de todas as vidas anteriores... mas, se conheço bem ele, logo logo passa. Assim que a mamãe mostrar para ele quem é que manda na casa.
- Tá bom. Ah, e tua vó tá subindo.

Reforma 2

E na mais pura intenção de minimizar problemas, ao invés de trocar azulejos decidimos pintar.
Melhor, permitam-me corrigir
- depois de onde anos olhando para os mesmos azulejos cor de creme, já que a casa estava mesmo uma enorme baderna, ela optou por azulejos brancos;
- para não aumentar ainda mais a gigantesca baderna com uma traumática troca de azulejos, o pintor que não tinha acertado se a tinta do teto era a mesma da parede, se a da parede da entrada seria com brilho ou semi-fosco (sinceramente, juro, é a mesma coisa, mas foi a primeira e única vez que minha mulher e o pintor se entenderam: para dizer que eu não entendia nada de tinta)...
Pois é, esse pintor disse que sabia pintar azulejos. Imagino que, contando cozinha, área de serviço e banheiros, em um apartamento deva ter cerca de 300.... é pouco? 400? ah sei lá, um montão de azulejos.
Bem, o fato que 300, 400, 1768 ou qualquer outra quantidade de azulejos no apartamento era exatamente a mesma quantidade de tons de branco que havia no apartamento. Incrível como nem as fabricantes de tintas descobriram tantos brancos como o pintor lá de casa.
Afora o fato que preciso urgentemente falar com alguém que possa reescrever todos os conceitos existentes de geometria, desenho ou assimilares, pois depois da pintura dos meus azulejos, tudo o que vocês entendiam como sendo uma linha reta foi mudado, o conceito de ângulo reto redefinido e as paralelas nem sempre caminham juntas.

Ao olhar a parede da cozinha, fiquei imaginando se ao invés de um simples pintor, não havíamos contratado na verdade a reencarnação de Kandinsky ou de Van Gogh.


e continua......

terça-feira, maio 23, 2006

Reforma 1


Se eu puder dar uma dica a todos os leitores, só uma, de graça mesmo, juro que não vou cobrar, a dica seria: nunca, jamais, em hipótese alguma façam qualquer tipo de reforma em suas casas. Principalmente se vocês estiverem dentro da casa.
Há alguns meses minha mulher disse que já estava passando da hora de pintar o apartamento. Bem, desse dia em que foi feita a constatação até a data de hoje, além de ter pintado o apartamento três vezes, já trocamos os pisos dos banheiros, pias, fizemos mais armários, tiramos armários - tem um, juro, que tenho absoluta certeza que não tinha nem sido colocado direito e foi decidido de comum acordo que ele teria que sair.
- Tira essa coisa velha daí!
- Mas que coisa velha? Esse armário você mandou colocar anteontem...
- Não vem com coisa. Tira e pronto, nesse canto quero colocar a foto da Tia Erminda.

Como eu nem sequer sabia que tinha na família uma Tia Erminda, deixei para lá, mandei (paguei, bem entendido) tirar o armário sob os olhares do marceneiro que no começo do processo me achava louco, passou por me achar um completo imbecil e nessa altura do campeonato mandou carta ao Vaticano solicitando minha imediata canonização por suportar, ainda de pé, martírios indescritíveis em vida.

E tem o eletricista que foi aumentar o número de tomadas.
- Mas, você não vive encrencando que precisamos baixar a conta de luz? Praqueque (isso mesmo, uma palavra só praqueque) quer mais tomadas?
- Quem aqui vive encrencando? Com o que? Você é que está de má vontade com tudo.

Na tomada de número 56 ele acertou, com precisão milimétrica, o cano de água do banheiro social. Daí, já que ele tinha feito essa esbórnia, trocamos o lustre da sala.
- Mas amor, o que é que tem a ver o tsunami que invadiu nosso quarto com o luz da sala?
- Você que tem mania de chegar em casa e se trancar no banheiro. Se desse mais atenção para sua família ia entender.
- ?

E tem o marceneiro... como senhora? já falei do marceneiro? não o marceneiro a que me referi era o que fazia o armário do corredor. Esse agora é o marceneiro da cozinha - e se agüentarem a leitura, tem o marceneiro do quarto também... esse é uma figura; um espanhol que enrola a língua e diz que a colocação de fórmica do marceneiro da cozinha está uma droga e se ofereceu para refazer o serviço.
Mas como ele não sabe o verbo em português para colocação de fórmica, solta um "formicar", que em portunhol vira fornicar.
- Olhá senhôra, dá pra fornicar aqui. Mas fazê mui chêro... má tambíen é bon a senhôra vê se tudo tái fiucando bon. Intôn se o seu Asderbar saí con as criânca, nóise fornica aqui tudo.

Foi a primeira vez que fui obrigado a sair de casa pq outro homem ia fornicar ali tudo com minha mulher.... Depois perguntam pq que eu sou contra reforma.

Amanhã conto mais.... e como tem mais....

segunda-feira, maio 22, 2006

Coisas de pai e filha


Aviso: não deixem seu filho ler este texto.

Vira e mexe leio em algum lugar que as crianças de hoje em dia conseguem dar nó em pingo d'água. Sem querer parecer pai-coruja as minhas conseguem dar nó de marinheiro, daqueles que a gente não desata nem com reza braba, sabem qual é?
Não sei se as crianças de hoje em dia estão mais espertas, mais safadas ou o que; sei que estão sim mais informadas, mais questionadoras, mais rápidas, mais.... sei lá, sei que eu me achava razoavelmente esperto na minha infância e, perto das crianças que vejo por aí, admito: era um completo babaca - pior, ainda sou, pois as crianças de hoje me deixam completamente desarmado.
Dia desses chamei minha filha do meio, com todos seus 10 anos recém completos (ou como ela mesma insiste em dizer: uma década toda de vida, todinha), para dar uma bronca de pai.
Para quem não sabe como é uma bronca de pai para com sua filha é aquela que entra em cena somente quando a conversa de mãe não resolve. Na bronca de pai há sempre o risco de um tapa nos glúteos, de um olhar com cara de efetivamente nervoso. Não há o grito da mãe, o olhar de gelo que somente uma mulher consegue desferir. Há a respiração mais profunda, os olhos mais avermelhados. Pai conversa sentado, mãe de pé. Pai quando levanta o filho fecha o olho que sabe que vai apanhar, mãe quando senta é para chorar e sensibilizar o rebento.
Devidamente explicado, chamei a dita cuja para a bronca de pai no pior lugar possível para ela recebê-la: o quarto do pai.
Se fosse na sala era mais leve; no quarto dela, algo grave. Mas, no quarto do pai, a coisa é realmente feia. E com a cereja do chantilly da crueldade: porta fechada.
A bronca começa com uma rápida (pai não enrola, vai direto ao ponto; a contextualização já foi feita pela mãe anteriormente) exposição do fato em questão e, sem absolutamente mais delongas, a pergunta: o que significa isso?
Para essa pergunta, desde quando meu avô era criança, nunca teve e nunca terá resposta. Se não tem quando a gente é adulto, crescido, imagina quando se é criança.
Depois de longos sete segundos (todo o tempo que a paciência do pai espera), começa a recriminação, a esculhambação, a chamada à responsabilidade, o exemplo que deve ser dado aos irmãos e a próxima pergunta, tão irrespondível quanto a primeira: o que é que você está querendo com isso?
Novo silêncio, apenas rompido pelo choro que começa a irromper. Um choro não comovido, não de arrependimento, não de nada a não ser uma arma fatal, mortal, cruel usada pelas mulheres (de absolutamente qualquer idade, bem entendido) contra os homens.
Você, pai, tenta não se abalar com o golpe do choro e continua, dessa vez mostrando para sua filha o que ela pode ser na vida, o que ela vai perder se continuar daquela forma, como será trágica sua existência e termina com a terceira pergunta que, em sua pobre mente de pai, você acha que será esmagadora e que a partir daquele segundo sua filha mudará completamente e nunca mais fará nada que o desagradará: me conta, o que é que você quer ser na vida?
Pois é, foi justamente nessa hora, quando eu já emendava a continuidade da bronca de pai (parte na qual são descritos em minuciosos e cruéis detalhes o castigo que será imposto à meliante) que ela olhou diretamente nos meus olhos e desferiu sua resposta:
- Quero ser igual a você pai.... quero se tudo que você é.
Permitam-me leitores dar um salto no tempo, guardando para a parte mais cândida de minha memórias os minutos seguintes a esta frase.
Permitam-me guardar apenas em meus olhos, coração e alma o que aconteceu naquele quarto com portas fechadas.
Permitam-me contar, apenas, muito apenas, que algum tempo depois, quando a mãe entrou no quarto, já preocupada pelo tempo em que pai e filha estavam em uma conversa, na qual - teoricamente - a bronca era pesada e viu os dois deitados, abraçadinhos, assistindo a um desenho, não entendeu absolutamente nada.
Nem nunca vai. Coisa de pai e filha. Mais ninguém, mais nada.

sexta-feira, maio 19, 2006

Acabou a semana.... enfim

A vida da gente, vez por outra, é realmente engraçada - ainda bem!
Uma vez escrevi uma crônica sobre o horário em que gosto de escrever as crônicas. Falava que o final do dia era melhor, por isso e por aquilo.
Pois bem, no dia seguinte era feriado e consegui sair mais cedo. Daí escrevi a crônica no meio da tarde e mandei.
Pronto, um monte de gente me escreveu dizendo que tinha furado a minha regra, coisa e tal. Não teve como: tive que agüentar.
Ontem mesmo a crônica foi sobre reuniões. Dizia que era melhor nunca ser o primeiro a chegar, também nunca ser o último, sempre chegar acompanhado e mais um montão de coisas.
Pois bem, hoje, logo pela manhã, me pedem para representar minha área em uma reunião. Tema calmo, gente conhecida, nenhum problema.
Daí, como me avisaram na última hora, fui o último a chegar. O que ouvi: "ô meu caro, ontem mesmo você disse que não era para chegar em último em uma reunião e agora, que coisa heim, como é que fica?"
Pronto, lá foi minha cara lavada, sem resposta, sem ter como explicar.
E, olha que aconteceu de novo!
Na semana passada, nesta mesma sexta-feira, escrevia que não sabia como é que a semana tinha acabado, que as horas tinham passado muito rapidamente.
Pois bem, hoje estou dando graças a todos os santos pela semana ter acabado. Ô semaninha!!!
Em todos, absolutamente todos os sentidos, a melhor coisa que a semana fez foi ter acabado.
Chega de bagunça, chega de receio, chega de desmarcar compromissos, chega de não encontrar as pessoas, chega de comentários que nada tem a ver atrapalhando o que realmente tem a acontecer, chega de desculpas, chega de explicações, chega de análises, chega de ah se fosse eu, chega de não é comigo, chega de não acredito, chega de você soube que, chega de será, chega de pode ser, chega de culpados, chega de barulhos, chega de liga para os teus conhecidos, chega de liga para os teus amigos, chega de mudar o botão do canal da tv, chega de clicar nesse site, chega de clicar no outro site, chega de volta para aquele site, chega não atendeu, chega de o que será que aconteceu, chega de não acredito.
Enfim basta.
Amanhã vou dormir até tarde, vou sumir para Marte.
Na segunda a semana recomeça, remarco a reunião, refaço a ligação, acabo o texto da apresentação. Semana que vem, estouro a boca do balão.
Mas só semana que vem, pq essa, ufa, acabou.

quinta-feira, maio 18, 2006

Reunião

Algumas mensagens automáticas que a gente recebe por e-mail são totalmente irritantes, mas talvez a mais insuportável de todas seja o "você foi convocado para uma reunião".
Primeiro pq quando diz convocado não te dá lá muita opção de recusa. Convidado é uma coisa, chamado tudo bem, mas convocado, meu caro, sinto muito... tem que ir.
Principalmente pq, normalmente, com raríssimas exceções, que convoca é alguém hierarquicamente superiora a você, o que te reduz as chances de qualquer tipo de reação a praticamente zero.
Mas a coisa somente tende a piorar.
O primeiro passo da total desgraça é quando você vê a data e o horário da tal reunião: invariavelmente você já tem - ou melhor, tinha - alguma coisa agendada para aquele dia, para aquela hora. Geralmente é uma consulta a um médico que você está tentando há oito meses ou - ainda mais agradável - uma outra reunião que você, a muito custo, conseguiu marcar depois de conciliar - sabe-se Santa Genoveva como - a agenda de pelo menos umas cinco pessoas.
Claro que o teu chefe sequer teve a preocupação de ver se a tua agenda estava livre: pra que, ele é o chefe. O dia em que você for chefe pode fazer igualzinho, por vingança, mas por enquanto...
O passo seguinte para o total desespero é quando você lê a pauta da reunião. Após uns quinze ou vinte minutos, você ainda não conseguiu entender o que é que você tem a ver com aquele assunto.
Obviamente, nesse ponto, acabam surgindo algumas questões em sua conturbada cabeça. Será que deixei passar algum relatório? Será que apaguei algum e-mail? Será que não me deram algum recado? O chefe não ia me convocar (e o convocar fica em negrito na tua cabeça) se eu não estivesse nesse processo... mas... quando é que eu entrei no processo? que capítulo da novela eu perdi?
Quem mais foi chamado.... não, convocado para a reunião? Ah, meu Deus....
A lista é imensa e, mais que imensa, é de peso, gente graúda e - o que é o mais desastroso - você não tem intimidade absolutamente nenhuma com nenhum deles para perguntar qualquer detalhe do assunto em pauta.
É desse momento, até o dia e hora da fatídica reunião, que sua vida se torna um verdadeiro inferno. Pesquisas, leituras, apontamentos, anotações (tem diferença entre apontamento e anotação?), enfim, lá vai você esquecendo de todo e qualquer outro assunto e se preparando para a tal reunião.
Chega o dia. Com um trilhão e meio de papéis, pastinhas e outras tranqueiras você vai até a sala de reuniões e respira aliviado: foi o primeiro a chegar. Senta, arruma as coisas em uma forma lógica (para você, apenas para você), toma um copo de água e observa o próximo membro da reunião chegar.
E aí que você percebe que ter chegado cedo foi uma grande bobagem. O segredo para uma reunião não é chegar cedo ou tarde, mas chegar acompanhado. Quem chega primeiro tem que ficar num levanta-cumprimenta-senta, levanta-cumprimenta-senta, levanta-cumprimenta-cumprimenta- sen.. -ops, perdão-cumprimenta-senta, levanta-cumprimenta-senta, que parece que não para mais. Quem chega tarde tem que ficar brincando de ciranda cirandinha em torno da mesa, fazendo todos se levantarem (até que a sacanagem pode ser boa).
Mas o segredo é chegar acompanhado. Você entra conversando, sorrindo como se estivesse passando do quarto ao banheiro de sua casa ou, melhor, da casa de sua mãe. Quem chega sozinho fica olhando para um lado, para outro, para o um lado de novo, sempre na procura de um rosto amigo, de um conhecido para sentar-se ao lado - nem sempre encontra. Por isso amigo, sempre que for a uma reunião, nem que fique parado na porta do lado de fora, espera alguém chegar e entre junto (pela dica, quem quiser mandar sua contribuição, pode ligar para minha secretária que ela passa a conta para o depósito).
E então o chefe chega, acena a todos (vcs não queriam que ele ficasse dando a volta na mesa, não é?) e a reunião pode começar. A primeira fala é, para você, o total desastre: Bem senhores, conforme combinado na última reunião, temos agora que apresentar os estudos sobre o projeto. Nada de assuntos já debatidos, por favor, vamos ser produtivos. Comecemos do ponto em que paramos e, claro, levando em conta as considerações já realizadas. Todos de acordo?
Que última reunião? Já teve alguma reunião sobre esse assunto? Quando? Como? Você não estava. Você nunca esteve. Que considerações? Como é que você vai estar de acordo com algo que você não tem a menor idéia do que é? Pensando bem, a idéia de um colapso cardíaco não é totalmente ruim... o plano de saúda da empresa até que cobriria...
E o sub-chefe (normalmente o senhor de ar altamente antipático e pernóstico, sentado ao lado do chefe) continua: Vamos começar pela área de .....
Enquanto o olhar do sub-chefe corre a mesa você tem absoluta certeza que ele parou em você, abriu um sorriso maquiavélico, com olhos em chamas, o cheiro de enxofre tomou conta do ar e ele sentenciou: pela área de informática.
Ufa, não é a sua. E o dito cujo da informática diz: Claro, sem problemas, tudo certo, tudo em ordem, contudo alguns dos detalhes do sistema a ser empregado se referem a parte do estudo realizado pela área de .................................... engenharia.
Para.. ai que coisa, que martírio, esse cara precisa dar esse espaço todo para dizer que área que tinha que falar? que prazer mórbido em te torturar! e para de morder o dedo, tá dando na cara.
E para de balançar a perna também.
E para de acenar com a cabeça, para de entortar clipes, para de rabiscar no papel de anotação, para de suar, para de quebrar ponta de lápis...
E assim vão se seguindo as apresentações. Uma a uma e nada da sua. A cada nome, a cada área escolhida, você jura que seu coração não vai aguentar. Você já não consegue ouvir mais nada, nenhuma apresentação faz o menor sentido para você, também de tão nervoso não consegue acompanhar nada e
- Asderbaldo.
- Si-sim se-senhor. Da minha parte eu queria dizer que... é..
- Asderbaldo.
- Si-sim, se-senhor, e-eu já digo que no que é que tange o que o.......
- As-der-bal-do.
- S-se-senhor?
- Sendo a primeira vez que você toma contato com o assunto, gostaria que analisasse todas as propostas que foram colocadas e, na próxima reunião, nos apresentasse uma proposta para a divulgação do projeto. Não precisa ser nada muito elaborado, apenas venha com as idéias básicas e, se possível, uma idéia de custos e prazos para que possamos iniciar as discussões da sua parte, ok?
- Hehe
- Ok?
- Hehe...hic.
- Asderbaldo, você está me ouvindo? Asderbaldo... você está branco! Que foi? Ficou maluco filho de Deus?
- Hehe... he.hehe..heeeee.
E a copeira, que estava passando bem atrás de você nessa hora, bate no seu ombro: Chora não, seu Asdibardo... fica bunito não um homão desses chorá qui nem criança!

quarta-feira, maio 17, 2006

Aproveitar a Imprensa

Um último texto sobre isso (espero).
Uma última menção de bom trabalho precisa ser feita (espero que ainda tenha muitas a fazer, mas por motivos menos dolorosos).
Somente hoje foi possível fazer uma análise da cobertura jornalística dos eventos que macularam São Paulo e ainda não cicatrizaram.
Alguns jornais trouxeram estatísticas de tempo em que os noticiários ficaram no ar, número de acessos à Internet, volume de informações que eram colocadas à disposição, enfim, ficou a pergunta: a Imprensa cumpriu seu papel?
Em minha humilde opinião, digo que sim, com problemas, com falhas, com tropeços sem sombra de dúvidas, mas acredito que tenha sim feito o que precisava ser feito. E, se mais não fez, foi pq ela também foi pega de surpresa e pq precisava de um pouco mais de apoio para fazer.
Ouvi algumas pessoas que, assim como eu, ficaram com a tv ligada o tempo todo, zapeando canais em busca de fatos. Entendam, busca de fatos, não de comentários, não de análises, não de provocações, não de críticas: o que queríamos era saber o que estava acontecendo e orientações. Acho que no segundo item houve falha, mas a culpa não foi (somente) da imprensa.
Erros? Sim, muitos erros, o que é normal em um momento delicado como esse. Mas é importante que nós, as fontes, saibamos compreender e analisar e - acima de tudo - aproveitar. Em um momento em que a imprensa precisa de informações, que abre seus espaços para a notícia, tirando do ar novelas, filmes, programas de auditório e outras coisas, é hora de não deixar as redações sem o que colocar no ar.Caso contrário, duas alternativas: o lado de lá aproveita ou voltam as novelas, os filmes, os desenhos, o programa de vendas por telefone...É preciso ressaltar o trabalho que foi feito pelos repórteres, que se colocaram nas ruas para levar a imagem, a foto e o fato. É preciso ressaltar o trabalho que foi feito pelos produtores, que usaram toda a sua agenda de telefones para achar quem falasse, orientar os repórteres nas ruas e fazer o jornal acontecer.
Contudo, volto à pergunta: souberam as fontes aproveitar o espaço aberto? Depois reclamam essas mesmas fontes que o jornal não dá a sua versão. Em um momento em que absolutamente todas as portas, de absolutamente todos os veículos de comunicação estavam abertas, escancaradas, com tapete vermelho, souberam essas fontes ocupar seu espaço?
Páginas e páginas de jornais, horas e horas de televisão e de rádio, telas e telas de sites, todos ávidos por informações, por fatos, por conteúdo para ser preenchido e os produtores tendo que buscar comentaristas, analistas e outros "istas"...
E esses espaços se fecharam? Não, muito pelo contrário, continuam abertos, continuam a espera dos fatos, pois cabe à Imprensa, muito mais do que a qualquer outro poder, a qualquer outra instância, dar à sociedade a certeza que pode levar seus filhos à escola, que pode ir ao trabalho, que pode fazer compras no supermercado, que pode ir ao cinema, que pode dormir e acordar no dia seguinte. Não dá para criticar a Imprensa. Dá sim para aproveitá-la, para trazê-la para o seu lado e colocar toda a sua enorme, gigantesca, colossal força em prol de um trabalho conjunto. Ah, dirão alguns, mas a imprensa só se interessa por fatos negativos, por tragédias, por catástrofes.
E para esses responderei: será que é a Imprensa que só se interessa por isso ou são os clientes da imprensa que só querem comprar isso? Pergunte a si mesmo pq você lê o jornal pela manhã, pq escuta o noticiário no rádio, pq assiste ao telejornal, pq acesso os sites de informação, pq compra as revistas no final de semana e seja - pelo menos tente - ser sincero. Tudo bem, pode ser sincero, somente você vai saber a resposta, mais ninguém.
Será que você lê faz isso tudo para se informar ou para ver a tragédia?
Claro é para se informar, responderão todos em uníssono. Claro.
E então permitam-me apenas mais uma pergunta:
Tal qual na segunda-feira, hoje vocês (tirando a hora do jogo do Barcelona com o Arsenal) ficaram com a tv ligada? Em quantos sites entraram? Ouviram muitos noticiários nas rádios?
Pois saibam que, talvez não tanto quando na segunda-feira, aconteceu coisa pra caramba em São Paulo e se você estivesse, realmente, em busca de informação, teria sabido.
Mas, retrucarão vocês, para que eu iria querer saber o que se passou em São Paulo hoje, se São Paulo teve um dia normal?
Daí, direi, para terminar de vez com isso, que a Imprensa está certa em só noticiar a tragédia: a gente não se interessa e, em verdade, nem sabe o que fazer com o normal.
Pena.

terça-feira, maio 16, 2006

Valeu João

Uma cena hoje me chamou a atenção. Uma cena que absolutamente ninguém viu, mas que me foi contada e, na imaginação do cronista, na veia do jornalista, no coração do amigo, se fez real.
Depois de quatro dias sem ir para casa, João finalmente pode abrir a porta de sua casa. Não foi uma tarefa fácil... na verdade, ele até respirou fundo enquanto virava a chave na fechadura - parecia não acreditar que estava ali.
João, nome normal, comum, banal até, é policial, escolheu por opção própria prestar serviço para que ele, sua mulher, sua filha, seus amigos, todos enfim, pudessem ir do trabalho para casa sem preocupação e, por quatro dias, ele foi privado desse direito.
Privado na verdade não, impedido talvez seja um termo melhor. Ou talvez ainda não: mais uma vez, não ir para casa, foi opção do João.
Não pq ele não quisesse ir... muito, muito pelo contrário. Mas sim pq ele, em segundo lugar tinha um dever, em terceiro tinha colegas a ajudar e, em primeiro lugar, teve medo de que sua casa, com ele dentro não fosse um lugar seguro para sua família.
Durante quatro dias João tirou a filha da cabeça e colocou a obrigação. Uma obrigação que falou mais alto que tudo. E onde ficaram sua mulher e sua filha nesse tempo? Esquecidas? De forma alguma, nunca, jamais. Cada passo, cada ação, cada ato era por elas, para elas, pelo futuro delas. Elas estavam em seu coração, em sua alma, no ar de seus pulmões ofegantes, no sangue de suas veias, no suor de seu rosto cansado, nas bolhas de seus pés apertados pelas botas, nos calos de suas mãos, nas cicatrizes de sua tristeza, na esperança de sua coragem, na estrela de sua sorte, na luz de seus olhos - em cada pedaço, elas e todos nós, estavam lá.
Era meio que noite quando João foi finalmente para casa, quando João pôde ir para casa. No caminho, ainda meio elétrico, até pensou em ligar avisando que estava chegando, mas achou melhor deixar para lá.
Estacionou o carro, desceu, olhou para um lado, para outro, estava tudo bem. Colocou a chave na fechadura e ficou pensando no que ele ia dizer para suas mulheres. Chegou mesmo a sorrir: ia com certeza levar uma baita bronca por não ter ligado, por não ter avisado, por... nem ele sabia pq, mas estava com uma baita saudade das broncas apaixonadas de sua companheira.
Entrou, deixou suas coisas na estante da sala, com o cuidado de sempre; um sempre que ele pensou não ter mais, um sempre que não acontecia há uma eternidade... que bom era poder voltar a fazer o que sempre fez.
Caminhou até o quarto e na cama, sua mulher, com a filha deitada ao lado, assistia a um filme qualquer. A pequena dormia pesado e sua mulher, que coisa, de tão ansiosa, tinha optado por prestar atenção ao filme e nem tinha ouvido ele entrar. Era o que ele pensava...
Quando esboçou um passo dentro do quarto, ela falou:
- Pega um copo de água pra mim, João?
Ele não acreditava, depois de quatro dias, tudo o que ela tinha para dizer, meio que sem olhar, era pedir um copo de água? Mas tudo bem, se era isso que ela queria e foi até a cozinha e trouxe o copo.
No quarto ela pegou o copo, bebeu metade, colocou o copo no criado mudo, levantou-se, pegou a filha e a levou, no colo, para a cama dela.
Ele até tentou, mas ela não deixou que ele a acordasse. "Shi, não acorda ela, deixa ela descansar".
Ela voltou, ele estava sentado na cama.
Ela pegou o copo com a água que havia deixado e deu para ele.
- Agora bebe você e acredita que eu estou aqui para repartir absolutamente tudo com você, para sempre.
Naquela água estava todo seu amor, seu companheirismo, sua parceria e todo o nosso agradecimento pelo João existir e estar do nosso lado.
Ela, ele e nós, sabíamos que no dia seguinte ele novamente teria que sair, que ir fazer valer a sua opção de vida.

A todos os policiais, independente da corporação, da patente, de qualquer ordem, que optaram por ser policiais e honram a cada dia esse serviço. Que tenham sempre a metade de um copo de água para beber ao chegar em suas casas, uma água abençoada pelas suas famílias, seus amigos e todos nós.

sexta-feira, maio 12, 2006

Cadê a semana que estava aqui?


Nossa Senhora... já chegou o final de semana.
Lembro que ainda ontem acordei, muito a contragosto diga-se de passagem, e pensei: vamos lá, mais uma semana, vamos nessa!
Ontem nada...foi na segunda-feira, há cinco dias!
Que fim levou a terça e a quarta?
Não sei quem foi, mas passaram a mão em algumas horas do dia e adulteraram o meu relógio para parecer que ainda tem 24 horas. Chama a polícia!
Foi ontem que comecei a fazer um artigo sobre comunicação em empresas públicas e ainda não consegui terminar pq me ligaram, me chamaram, me atrapalharam, me desviaram a atenção...
Ontem nada.... foi na segunda à tarde e o arquivo tá aqui, aberto no meu micro ainda com poucas linhas e continuam me ligando, me chamando, me atrapalhando, me desviando a atenção.
Alguns até podem dizer que estou com um grave problema de administração de tempo. Mas retruco que o problema não é administrar o tempo é pura e completa falta de tempo.
Ah, então precisa delegar mais, dirão alguns. Acho que deleguei algumas horas do meu dia para alguém... se acharem por aí, por favor, digam que estou pedindo de volta.
Tomara que tenham aproveitado bem, que as tenham vivido como eu gostaria de tê-las curtido.... mas tenho certeza que, seja quem as pegou, deve ter se assustado com o tanto de coisas que precisam ser feitas nessas horas e chego a apostar que está louquinho para devolvê-las.
Não foi ontem que me convidaram para ir a um evento, a um café da manhã?
Não, não foi ontem, foi terça pela manhã. O café sim foi ontem, pela manhã - você esqueceu!
Não foi ontem que.... não, foi na terça de tarde que você recebeu aquelas visitas que te apresentaram uma nova proposta e que você ficou de responder até o final da semana.
Pois bem, a semana acabou e você nem sequer abriu o envelope que as moças deixaram.
Mas foi ontem mesmo que teve aquela reunião de departamento em que..... como, foi quarta de manhã? É, foi e você ficou de passar para todos a relação dos contatos para o projeto.
Peraí, sei que foi ontem que fui na reunião do grupo de trabalho.... tá bom, nem vou continuar: foi na quarta de tarde.
O que é que, então, eu fiz ontem?
Ontem, segundo minha secretária e minha agenda, foi justamente o dia semana que não tive nada. Ah, então podia ter terminado o artigo, passado o relatório, ver o envelope.
Sim podia, mas tinha tanto e-mail na minha caixa postal, tanto telefonema para ser retornado, tanto documento para ser assinado, tanto procedimento para ser autorizado, comentado, revisto que, se bem me lembro, nem almocei - aliás, nem crônica deu para escrever de tão louco que foi o dia.
E hoje, nessa sexta feira, que foi que fiz até agora? Bem, tracei mais algumas linhas do artigo, fiz a relação mas não passei, mudei o envelope das moças de um lado para outro da mesa umas quinze vezes, atendi duas empresas que queriam prestar serviços e criei um novo grupo de trabalho para um processinho que precisava ter sido feito.
Talvez seja por isso que a semana acabou, pq os dias se passaram, pq a gente fez tanta coisa que esqueceu de somente uma: de olhar pela janela e ver que tem um dia inteiro para ser aproveitado, que está aí para ser curtido, para ser vivido e que toda essa loucura do trabalho é assim mesmo, mas que a gente tem que ter cada hora a seu tempo.
Fácil, sei lá, pode ser que semana que vem eu consiga. Agora, estou louco para ir para casa... curtir essa noite de sexta, o sábado e o domingo. Espero ter, para esses, as 24 horas que preciso e quero ter.... torçam, pois eu estou torcendo para vocês tenham.

quarta-feira, maio 10, 2006

Campanha contra chiclete na sola do sapato e nos fundos das calças

Do sempre mais que útil Blue Bus: Uma campanha na Inglaterra vai pedir que os consumidores descartem suas gomas de mascar nas latas de lixo. Vai usar 12 mil abrigos de ônibus, quiosques de telefones públicos e outdoors. As peça vão exibir frases como 'Em nome das suas solas de sapato e dos fundos das suas calças, obrigado por jogar sua goma de mascar na lixeira'. A iniciativa é do Chewing Gum Action Group, criado pelo Governo em 2003 para lidar com o problema crescente das gomas de mascar jogadas em locais públicos.Decidida e integralmente apoio a campanha. Nem tanto pelo fato de nunca ter suportado goma de mascar, o famoso e popular chiclete - nem quando, um tanto tardiamente, fazia o estilo anos 60 e muito menos quando, no tempo certo, adorava colecionar figurinhas. Não sei pq mas as que vinham nos chicletes da minha época nunca eram, no meu entender, colecionáveis.Agora, que não tem coisa mais irritante do que pisar num chiclete jogado na rua, isso não tem. Claro, a não ser, sentar num chiclete que algum completo imbecil deixou grudado na cadeira. Mas tem diferença, o primeiro é falta de educação, cidadania, bom senso e tudo o mais. O segundo é pura sacanagem.No caso do chiclete na sola do sapato o maior problema é tirar o dito cujo de lá. Não tem como: você vai passar pelo menos algumas horas raspando a sola na grama, no cimento, aonde quiser raspar: aquela coisa não sai.Sem contar a cena absolutamente ridícula de uma pessoa ficar raspando o sapato na calçada. Se for homem fica 100% absurdo. Se for mulher, com sapato de salto, fica 101%.E é o tipo de coisa que nós, cavalheiros que somos, não temos a mínima idéia se devemos ou não oferecer ajuda.- A senhora está precisando de auxílio?Corre-se o risco de levar uma bolsada no meio da cara, pois a madame já está tão fula da vida (nossa, fula da vida.... fazia tempo que não ouvia isso!!!) que vai querer descontar no primeiro que aparecer na frente. No caso, você mesmo.Se a pessoa que pisar no chiclete estiver, então, de tênis, aí meu caro, esquece. Nunca mais vai tirar a meleca das reentrâncias da sola do tênis. Daí você se lembra que pagou xcentos e tantos reais por aquele tênis (repararam como tênis é caro? um verdadeiro absurdo, eles encham o pisante de traquitanas, o deixam cada vez mais feio e cobram os olhos da cara por um produto que vai durar exatamente até sair o modelo novo daqui a seis meses e tua filha te encher os pacovás (hoje você está do arco da velha....) para comprar) e algum cretino lançou o chiclete na rua e você, se sentindo mais cretino ainda, pisou.Outro dia fui acompanhar a palestra de um amigo em uma faculdade - lugar onde colocar chiclete na cadeira não deixa de ser um ato de extrema sacanagem, mas afinal de contas você está lá para aprender o que é a vida... Auditório lotado de alunos que aproveitaram para matar aula, o professor anuncia e agradece a presença do fulano de tal que sobe ao palco por uma escadinha melindrosa - como toda boa escadinha de acesso a palcos é, parece que fazem de propósito para a gente cair.Na subida da escada ele foi acompanhado por uma consistente gargalhada por boa parte dos alunos presentes: um vistoso, gosmento, brilhante e róseo chiclete (se bem que pelo tamanho da gororoba o sacana que o deixou na cadeira deve ter colocado pelo menos uns três ou quatro) destacava-se nos fundilhos de suas calças - com o capricho de um fiapo que balangava ao seu rebolar, denunciando que a colagem havia sido feita recentemente.Ele nem tenta entender - aluno de faculdade, principalmente faculdade de comunicação, a gente não entende, nem tenta - continua impávido o caminho e para sua completa desgraça pega o microfone e anuncia que prefere não usar o púlpito que tinha à disposição e que salvaria sua já maculada honra. Daí que ele fica andando de um lado para outro do palco, com o fiozinho de chiclete balançando das partes traseiras de sua calça. Eu, bom amigo, até tentei avisá-lo discretamente algumas vezes, mas ele não me dava a devida atenção.Quem percebeu o chiclete foi o professor e, para sua completa desgraça (na verdade, suas completas desgraças, do professor e do meu amigo) decidiu intervir. Como havia descido do palco, retornou e meu amigo, tomado pelo espanto do professor readentrando ao seu espaço baixou o microfone e olhou-o com cara de espanto. O professor não teve dúvidas, chegou perto de seu ouvido e sussurrou-lhe alguma coisa. Provavelmente alguma trova do século XIV ou um trecho do Evangelho segundo Jezebedeão, nunca soube.O que vi foi meu amigo levar a mão aos fundos das calças exatamente sobre a gosma chicleteira que dividiu-se em mais uma dúzia de fios, alguns ainda balangantes de sua parte traseira, outros de sua mão.Não se conformando ele repetiu o ato, apenas conseguindo produzir mais fiapos.Completamente perdido, já tendo completamente esquecido o que estava falando, ele não teve outra saída, disse ao microfone: - Vocês ainda tem muito a aprender sobre sacanagem!Largou o microfone no púlpito, cumprimentou o professor com um efusivo aperto de mãos, desceu e foi-se.Detalhe: o tal aperto de mãos foi sim, como todos estão desconfiando, com a mão enchicletada. Ele havia dado a sua "aula".

terça-feira, maio 09, 2006

Outdoors


Uma das mais fantásticas mídias que existem é o outdoor... em todos os sentidos.
Criar um outdoor é um dos processos mais difíceis do universo da propaganda - isso sem falar na escolha do local de exposição, na verdadeira aposta que é a colagem (já vi verdadeiros horrores, letras trocadas, modelos belíssimas virarem monstros zarolhos, tudo pela colagem errada das páginas) e, mesmo com tudo isso dando certo, outdoor é a mais pura expressão de um enigma, pois muita gente lembra da placa, da forma, da cor, mas não consegue dizer qual mesmo que era a empresa que estava anunciando.
Nesses últimos dias recebi, pelos mais diferentes meios, uma enormidade de outdoors simplesmente fantásticos, mas sempre com alguma questão.
Tem um que é uma lata de azeite protegida por raios laser lembrando um sistema de alarmes típico de museus e galerias de arte. A lata é realmente muito bonita, um primor de design. A placa um exemplo de tecnologia aplicada à propaganda, mas se me convencerem que aquele azeite é tão maravilhoso que precisa de um sistema de alarme até passo a entender um pouco. Digo um pouco pq jamais vou entender que o criativo não imaginou a sensação de estarem chamando os compradores de ladrões que a peça transmitiria.
Outro de uma empresa de empilhadeiras mostra uma modelo com os seios de fora (tapados devidamente por uma faixa, seus tarados...) com os dizeres "a gente levanta quase tudo" - a sacada é fantástica, hiper criativa, bem humorada, legal mesmo. Apenas uma pergunta: será que o melhor meio para vender empilhadeiras é outdoor?
Noutra peça, de uma clínica de acupuntura, é mostrada uma mensagem curta, praticamente o nome da clínica e um grande mapa semelhante a um guia de ruas, com uma enorme, imensa, gigantesca, colossal agulha de acupuntura espetada no local da clínica. Me digam, com absoluta sinceridade: se eu que faço duas vezes por semana sessões de acupuntura fiquei com medo e impressionado, imaginem aqueles que ainda tem receios de agulhas?
Exemplos temos aos borbotões. Várias agências usam outdoor com teasers e.... como? vc não sabe o que é teaser? é aquela mensagem que você vê e não entende absolutamente nada pq não tem que entender mesmo, ela só está ali preparando o espaço para alguma coisa que vai ser lançada, que ainda vai vir e que, quando chegar, daí talvez vc entenda. Entendeu?
O problema de outdoor com teaser é que ou você passa novamente naquele lugar daqui a 15 dias (normalmente as placas ficam quinze dias coladas e depois mudam) ou jamais vai saber do que se tratava aquele teaser. E, claro, além, de passar no mesmo lugar tem que lembrar que tinha visto a primeira placa - o problema é que a quantidade de informação, de inputs (que chique!!) que recebemos hoje em dia é tanta que se não entendemos logo uma coisa, a tendência natural é simplesmente deletar, não ficar matutando sobre algo que nem, em verdade, é para ser entendido.
Daí tem os outdoors com apliques, com movimento, com gente - lembro de um dos primeiros que utilizaram modelos vivas para divulgar uma nova linha de calcinhas e soutiens, era um tal de fazer fila não para ver as moças na plataforma do outdoor, mas sim vê-las subindo e descendo a imensa escada que tinham que utilizar para chegar na plataforma. Diziam, que o "ângulo de debaixo da escada era melhor".
Recentemente gostei da campanha do Banco Itaú (sem merchandising, nem é o meu banco, se bem que depois das últimas notícias ele bem que tende a crescer), baseada em outdoors com mensagens para as diferentes personalidades de pessoas, cada personalidade com um formato de mensagem diferente e com assinatura única: o seu banco é o Itaú. Genial, parabéns.
Muito legal também é quando a empresa anuncia, no outdoor, uma promoção. Passe na loja tal e ganha tal coisa. Daí você tá no trânsito mesmo, na esquina da rua tem uma loja dessas e você decide parar, ver o tal produto e ganhar a tal coisa.
- Sinto senhor, a tal coisa somente é oferecida em compras superiores a tal quantia?
- Mas isso não estava no outdoor. Estava dizendo somente que tinha que passar na loja e ganhar a tal coisa.
- Sinto senhor, no rodapé do outdoor constavam as condições para ganhar a tal coisa.
Você, já que não tinha nada mesmo melhor para fazer nesse dia, volta até a avenida que viu o outdoor e percebe que realmente tem alguma coisa escrita na parte de baixo da peça. O problema é que passando a 50 km por hora não dá para ler.
Daí você para o carro no estacionamento. Dez reais a primeira hora. Anda até o outdoor e percebe que a velocidade com a qual você estava passando não tinha menor importância, mesmo ali, parado, você não consegue ler o que está escrito.
Daí espera o farol de pedestres abrir, atravessa a avenida e para bem embaixo do outdoor. Perda de tempo, naquele ângulo vc não consegue ler. Talvez do meio da avenida.
Espera o farol abrir de novo. Anda até o meio da avenida e de lá, meio que forçando a vista, já que o texto está em amarelinho pálido sobre um fundo branco, lê - na verdade deduz - que realmente a tal coisa somente é dada aos clientes que gastarem mais de tantos reais e que a promoção termina no dia tal de algum mês que você não conseguiu identificar qual era. OK o vendedor estava com a razão.
Daí você espera o farol abrir de novo, volta a outra metade da avenida. Paga os dez reais do estacionamento e volta à loja, escolhe uma série de produtos que não precisa, mas tem que dar tantos reais.
Daí você vai ao caixa e pede a tal coisa que tem direito.
- Sinto senhor, mas a tal coisa somente pode ser dada a clientes que tenham o cartão da loja. O senhor estaria interessado em fazer?
- Sim estaria - ganhar a tal coisa agora é ponto de honra.
Daí você gasta mais uma hora preenchendo uma ficha, entrega no balcão de atendimento ao cliente e é informado que o cartão vai ser entregue em sua casa em até 60 dias.
- E a tal coisa que ganho?
- Sinto senhor, a promoção vai somente até os próximos 45 dias.
Pelo menos você, nesse momento ficou sabendo qual era o número do mês que não havia conseguido ler no meio da avenida.

segunda-feira, maio 08, 2006

Vocabulário corporativo

O mundo empresarial realmente é um universo a parte. A gente nunca sabe o que pode dele advir.
Vocês já repararam como cada segmento de negócio e, até melhor, cada empresa - mesmo que seja do mesmo filão de mercado - tem termos únicos, específicos e que para eles significa tudo e mais um pouco, quando para nós, seres normais (?) aquele termo não quer dizer absolutamente nada?
O pior é quando o tal vocabulário empresarial é levado para o lar. É por isso que eu digo, sou terminantemente contra marido e mulher trabalharem na mesma empresa, mas que eles tem que trabalhar no mesmo ramo, ah isso tem - claro, não é para trabalhar em empresas concorrentes, daí dá mais pau que se na mesma empresa, na mesma sala, mas não vamos exagerar.
O casal tem que se entender no vocabulário, nos interesses. Se ela for dentista e ele operador de bolsa de valores, a chance de dar certo é praticamente zero e..... como, ah, a senhora é dentista e seu marido trabalha na Bovespa e vocês estão casados há trinta e sete anos? Obrigado pelo depoimento..... Viram só, falei que não dava certo.
Mas, se vocês pensarem bem, com total e absoluta certeza vão encontrar, no seu negócio uma série de termos que somente fazem sentido para você e para o seu assistente - quiçá nem para ele, mas falta-lhe coragem para dizer que não entende o que você fala, então, ficam elas por elas.
Outro dia mesmo, aqui na empresa aconteceu um caso desses - na verdade acontecem todos os dias, mas esse foi algo especial.
Um determinado bairro da Capital ficou sem água e as equipes verificaram que o problema se encontrava em um determinado ponto da rede de abastecimento, no qual uma cruzeta havia desembocado. No relatório ficou assim: cruzeta desembocada no cruzamento da rua X com av Y provoca falta d'água para Z mil pessoas - previsão de normalização L horas.
Bem, para resumir, minha caixa postal ficou lotada de respostas. Alguns queriam saber o que era uma cruzeta desembocada. Muitos, por sua vez, mostravam-se desejosos de saber como é que uma cruzeta distinta como esta tinha o disparate de ter desembocado, assim em público, no meio da rua. Outros me mandavam novenas e receitas caseiras para reembocar a cruzeta - uma velhinha da área de pessoal até disse que o falecido dela tinha a cruzeta desembocada também, mas que não era para eu me preocupar que ele tinha vivido até os 90 anos. Dezenove pessoas lamentaram que eu, tão jovem assim já tivesse desembocado a cruzeta. Quatorze afirmaram que nunca se enganaram a meu respeito, sempre desconfiaram que eu desembocava a cruzeta mesmo. Dez se solidarizaram, afirmando também desembocar a cruzeta com regularidade, mas perguntaram como é que eu tinha a coragem de fazer isso no meio da rua - um deles até se ofereceu para desembocar comigo quando fosse a próxima oportunidade. Recebi sete mensagem com termos que o decoro não permite que eu as replique - uma com ameaças reais caso eu voltasse, sequer a passar perto dele e um que me proibiu terminantemente de dizer que o conhecia. Cinco propuseram que eu me candidatasse nas próximas eleições. Três duvidaram, mas pediram que eu mandasse fotos de eu desembocando a cruzeta - um deles falou que ia me mandar a foto da cruzeta dele desembocada. Dois pediram para ser meus amigos no Orkut e uma mensagem, uma única e singela mensagem disse, em poucas palavras, que agradecia a mensagem, mas que estava fora do escritório até o final do mês e que se eu quisesse mais informações sobre o assunto da mensagem, poderia entrar em contato com o serviço de atendimento ao cliente.
Enfim, meus caros e caras, cuidado extremo no uso do vocabulário interno de suas empresas no mundo real.

quinta-feira, maio 04, 2006

Torradeira de vidro


da série: Minha vida acaba de ganhar um outro sentido com isso

Do mais que necessário Blue Bus, acaba de ser lançada uma torradeira de vidro transparente que permite que você fique acompanhando o pão tostar e interrompa o processo no momento que achar ideal.
Lembro que recentemente foi anunciada a torradeira que imprimia na torrada a previsão do tempo e com o anúncio de hoje se vê que o mercado de torradas está efetivamente em alta, provavelmente influenciado por alguma ação desesperada de algum padeiro.
A grande vantagem do novo produto - imagino - seja que ao invés de um timer ou coisa parecida que você tem que adivinhar se deixou sua torrada parecendo um pedaço de carvão ou ainda apenas um pedaço de pão mole. Cada um introduz o pão entre as lâminas de vidro e acompanha a torração - torragem? torrefação? torradura?
Em compensação, você perde a oportunidade de, enquanto a torrada torra, ler o jornal, tomar café, sei lá fazer alguma outra coisa, sob pena de, quando voltar, sua torrada ter torrado mais e você ter perdido o pão.
- Querida, você que deixou o pão na torradeira?
- Fui eu, pai... deixa aí que já vou pegar
- Mas filha, a coisa tá ficando preta.
- Deixa que eu gosto de mais queimada
- Mais queimada é uma coisa... isso aqui já tá quase um carvão
- Asderbaldo para de pegar no pé da menina, deixa ela comer a torrada como quiser.
- Só tô avisando...
- Asderbaldo, quem adora carne crua é você. Já te disse que não posso nem olhar aqueles bifes que você come na churrascaria que vem pingando sangue.
- Quem é que tá falando de carne? Só tô avisando que a torrada tá ficando preta...
- Tá pai, pode tirar, pega pra você que eu ponho outra depois.
- Eu não quero esse pedaço de carvão que tá aqui.
- Se não quer pq é que tá apurrinhando a menina?
- É que eu quero fazer uma torrada para mim e tem uma aqui na torradeira e...
- Asderbaldo, que coisa, se você quer a torrada, pega essa, come e não fica reclamando.
- Mas eu gosto de mais branquinha. Aliás, cadê aquela torradeira que comprei semana passada que fazia um solzinho na torrada?
- Aquela é coisa velha, essa de vidro é a última moda.
- Última moda em torradeira? Tenha dó.
- Asderbaldo, você é um ignorante em termos de estilo e moda.
- Quê... vai querer me convencer agora que tem moda de torradeira?
- Ai...
- Menina!!! Onde é que você vai com essa minisaia?
- Pô pai, você me enche, grita que a torrada tá queimando e quando eu venho pegar a torrada reclama da minisaia? O que é que você quer afinal?
- Só queria uma torradinha...

Meus caros leitores, façam espaço em suas prateleiras. Nesse ritmo vai saber que torradeira vamos ter semana que vem.
E, caso queiram uma bela campanha para aderir, procurem os postos de adesão do programa Bolsa-Repolho, a garantia do Brasil para chegar rapidamente na auto-sufiência de gases, sem depender de outros países.
Se bem que, muito aqui para mim, lembrando da Tia Rosina, para mim esse negócio da Bolívia nacionalizar os gases é puro lobby do Luftal...

terça-feira, maio 02, 2006

Quanta farmácia


Perdi a conta.
Outro dia me chamou a atenção o número de farmácias que tem no curto caminho que faço diariamente aqui para o escritório. E, diante dessa constatação, passei a prestar atenção no imenso número desses estabelecimentos que existe no bairro. Admito, perdi a conta.
Desde aquelas das grandes redes, que mais parecem um supermercado até as mais antigas, com prateleiras de madeira, vitrines mal arrumadas, mamadeiras e chupetas naquele baleiro giratório. Todos os tipos de estabelecimentos comerciais, chamados uns de farmácias, outros de drogarias, outros de boticas, uns que entregam, outros que tem estacionamento, uns com promoção leve 3 pague 2, outros com destaque para os genéricos, outros com padarias do lado, outros com cartões que dão prêmios, outros com tantas outras coisas que não ia parar mais de escrever se fosse continuar com isso. Ufa!
Algumas aplicam injeção sem receita, algumas vendem o que você quiser com ou sem receita, algumas tem o remédio que só é vendido com receita na prateleira da frente, algumas te dão cestinhas tipo aquelas do supermercado para você ir colocando tudo o que vai comprar dentro, algumas tem destaque para bronzeadores e tinturas para cabelo, algumas dão o destaque para os remédios com até 50% de desconto, algumas nem dão escolha para você pois os vendedores te pegam na rua e jogam pra dentro, queira você um remédio ou não.
O melhor mesmo é a farmácia com SAC - Serviço de Atendimento ao Cliente, em um 0800 (que, crônica também é cultura, agora é 08000), o DDG - discagem direta gratuita, no qual você é atendido por uma belíssima loira de olhos azuis e decote profundo, mini saia e botas pretas altas, extremamente sensual.... que? como é que eu sei? olha, é telefone, eu posso ser atendido por quem eu imaginar que seja, esse problema é meu tá... que coisa, cada um imagina o que quiser...posso continuar? obrigado! onde estava mesmo.... ah, no 0800 que agora é 08000. Então, algumas oferecem esse serviço para você ligar dizendo que comprou o remédio mas que não deu resultado... sim moça, é isso mesmo, meu tio comprou um remédio com vocês.... sim tinha receita... não o moço do balcão não pediu... e como é que eu ia saber? ele não.....se tenho o cartão da loja? peraí..... ----..... olha eu não tenho, mas meu tio tem... o número? peraí.... anota aí 56786789.. como? tenho que falar o ponto, desculpa. 5678 ponto 6789 ponto 3021 traço 87... validade agosto de.... 8 agosto é mês 8.. isso, de 2008...nome como está no cartão? claro, Francisco J L ... tem, tem ponto... Francisco J ponto L ponto Devanichio... d - e - v - a - n de navio - i - c de casa - agá - i - o... pra que você quer saber o que é o J e o L se no cartão está abreviado?...José e Lourenço... não, não tem o e.. é só José Lourenço... isso... não, eu não tenho cartão... não, não quero ter...olha, eu só quero saber se dá pra trocar o remédio que meu tio comprou que veio errado... não, não sei... não sei.... sei... só na loja?... mas se eu for lá eles vão trocar?... ah, não sabe...então tá... deixa, eu vou lá e vejo.... não sei...não não quero o cartão da loja... não, não pretendo ficar doente nos próximos dias.... moça, desculpa, mas essa conversa tá me deixando um uma dor de cabeça maluca.... que? promoção de analgésico? e entrega? claro, mas aí tenho que ter o cartão...serve o do meu tio? ah, que bom, então manda um... como? o número... é 567867... ah, tem que falar o ponto...............................
SAC de farmácia serve para isso, vender cartão de desconto e prêmio. Ora, pra que mais você iria ligar? Dizer que o remédio não fez efeito e tua tia morreu? Tem uns que ligam pra perguntar se tem o remédio. Daí ouvem que tem sim, custa tanto. Daí chegam na loja, pedem e não tem. Mas como eu liguei no SAC e disseram que tinha... ah, mas era no estoque geral e deve ter o raio do remédio na loja de Arariguaçu do Norte.
Mas tudo isso é simplesmente para expressar uma dúvida: pra que tanta farmácia? Será que temos tantos doentes assim em nossa terra? Será que a tão propalada campanha contra a auto-medicação não está sendo completamente invalidada pela quantidade descomunal de farmácias que a população tem à disposição?
O problema é que essa concorrência não está fazendo diminuir os preços. Nem adianta, a maioria é tabelada, controlada e o que não é, é cartelizada, ou seja, todo mundo cobra x e todos estão contentes. Todos, claro, menos os doentes, no caso, nós.
Tem umas ruas que tem duas lojas da mesma rede no mesmo quarteirão. Deve até ser engraçado. Por favor, tem Jotamicina 200g? Não senhor, essa loja é de remédios iniciados pelas letras de A a F, os com J o senhor encontra ali na esquina.
Talvez os profissionais desse mercado (conheço vários e todos sérios) possam me explicar essa proliferação de farmácias. Catso, no caminho aqui para o escritório tem mais farmácia que padaria, que supermercado, que lanchonete... ou seja, deve ter mais gente doente que com fome.
Vai entender.
(o pior de tudo é que, só de curiosidade, fui dar uma olhada na minha carteira e vi, pasmo, que tenho cartão de pelo menos três grandes lojas, fora a que entrega aqui no escritório com descontinhos para os funcionários. enfim, eu mesmo compro, pelo menos, de quatro... é, vai entender) .