segunda-feira, janeiro 30, 2006

Adeus elementais


Meus caros e querido amigos, seres da natureza. Elfos, fadas, duendes, gnomos, salamandras, sílfides, faunos, centauros, grifos e companheiros elementais. É chegado o momento de partir.
Durante séculos vivemos nesta terra, cultivando-a, respeitando-a, tirando das plantas, do ar, da água, do fogo e do coração nossa força; usando nossa magia para criar e para fazer desse espaço um lugar melhor para se viver e imaginávamos que era bom e seria para sempre.
Usamos rocha, terra, forjamos metal, moldamos fibras, enfim o que nos era permitido fazer, fizemos e quando os homens chegaram, pensamos que eles estavam vindo para se unir a nosso grupo e fazer dessa terra um lugar ainda melhor para se viver e nela criar nossas gerações.
Cantamos nossas canções, tocamos nossas flautas, batemos nossos tambores, dedilhamos nossas cordas e erguemos nossas vozes até onde vento a levou. Acordamos os irmãos e irmãs que dormiam, despertamos os animais e as aves com a balbúrdia de nossas festas.
Cozinhamos nossos bolos e doces. Destilamos nossos vinhos, nosso néctares e nos embriagamos, certos de que após cada Lua viria um novo Sol para nos aquecer e mostrar o caminho de, mais uma vez, deveríamos seguir
Mas, em nossa embriaguez de vida, esquecemos de um pequeno detalhe. Esquecemos que somos pequenos, que dependemos de acreditarem em nós, de nos deixarem fazer parte do delicado processo da realidade.
Deixamos que nos levassem o dom, que nos esvaziassem a alma, nos cortassem as asas, nos tirassem o brilho, nos calassem a voz. Mas o pior de tudo foi que tudo o que foi feito foi com nosso consentimento, com nossa permissão.
Em nossa boa vontade de ajudar, de estar presente, de dar-lhes chance e capacidade para evoluir, não vimos que estávamos na verdade nos apagando, deixando de lado nossa força, murchando nosso desejo. A cada passo deles, um de nós era enterrado, não morto, mas esquecido - o que para nós é pior do que a morte.
Não nos resta escolha, irmãos e irmãs, é agora preciso partir. Sei que é duro deixar para trás o torrão da terra com o qual moldamos nossas existências, mas o risco que corremos é de que nossa própria existência não mais tenha lugar nessa terra.
Um dia podemos até voltar. Um dia essa terra e seus novos ocupantes irão perceber que precisavam de nós.
Até lá, vamos nos recolher e esperar que quando for para voltar, eles nos tenham deixado um torrão de terra para construirmos nossas casas, umas folhas para o teto e a luz de um sol e de uma lua, para ouvirem novamente nossas canções.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Sol e Sombra


No mínimo paradoxal a relação entre o sol e a sombra. Opostos perfeitos em seu mais íntimo, luz e escuridão, clareza e obscuridão; um não vive - ou até melhor - um não existe sem o outro.
Se não for o sol deitar suas bênçãos sobre um corpo, a sombra não existe. E assim, o sol toca o corpo e, do outro lado, exatamente do lado oposto, a sombra caminha do corpo.
Nesse sentido, o corpo é obstáculo à continuidade do raio do sol, mas é também o princípio de formação da sombra.
Sempre achei a sombra uma injustiçada. Biólogos, teólogos e ogos de uma forma geral classificam o corpo humano em cabeça, tronco e membros. E a sombra? Sombra é tão essencial que você pode tirar uma série de órgãos do seu corpo que ele acaba sobrevivendo. A sombra, meu caro, minha cara, isso ninguém tira.
Nada me tira da cabeça que o medo que muitos tem da escuridão é motivada simplesmente pelo fato de não se poder ver a sombra sem o foco de luz - e sem a sombra, será que a gente está lá? será que ainda existimos?
Na dúvida é melhor acender a luz.
"Ah, aqui está você sombra. Onde esteve? Por qual paragens andou, livre de meu corpo, enquanto não tinha a corrente da luz a te segurar? Que terras conheceu? Que vinhos bebeu?
Tens algo para contar?
Ah, esqueci, és silenciosa. Quieta como toda sombra deve ser. Reservas a ti o direito de ouvir tudo, saber tudo; até mesmo o que eu próprio não sei. Mas não me contas, ingrata. Não me avisas dos perigos, dos maledicentes, dos impecilhos do caminho. Ignoras este que carrega teu peso.
Ah, é verdade, não tens peso. És leve como a luz que te cria, etérea toda sombra deve ser. Será que sentes a dor de meu corpo quando ele se cansa? Não sei, pelo menos se curva com ele. Será que entendes a angústia de minha alma? Duvido, não interessa como esteja, lá está você, bruxuleando a meu lado.
Ah pobre sombra. Será que sentes ciúmes quando me escondo em outras sombras a me esconder de meus algozes? Será que sentes orgulho quando te engrandeço a fim de provocar o temor em meus inimigos? Será que te envergonhas quando choro?
Ah nobre sombra. Sempre cinza. Te importas de não resplancer em tua forma a cor do ouro de minha capa? Provavelmente não. Acredito até que gostas da inveja que causa aos paladinos que, vestindo-se de preto, te imitam esqueirando-se pelas vielas na busca de donzelas a salvar.
És ingrata sombra. A vida inteira te levei, mas acalma-te, há de chegar o dia em que, livre da prisão de meu corpo, serás livre para voar, para passear, para flutuar e nesse dia, quem dera, poderei estar a teu lado, sem te oclusar, mas a te acompanhar em agradecimento pela companhia que me fizeste nesta vida"

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Presente: já foi passado e vai ser futuro


Existem duas coisas que fascinam o ser humano: o passado e o futuro.
Basta haver uma exposição de ossos de dinossauros, relíquias do antigo Egito, calendários Maias, cerâmica chinesa de qualquer século com letra anterior (ou menor, já que falamos de algarismos romanos) a X, foto preto e branco, enfim qualquer coisa que remeta ao passado que se formam filas para ver, tocar, fotografar, conhecer, lembrar.
Em suma, o passado interessa.
Igualmente basta se organizar uma mostra da casa do futuro, cheia de botões, portas e janelas automatizadas, leds, luzinhas, traquitanas, carros que andam sozinhos, aparelhos eletrônicos que lavam, passam e fazem xixi, enfim qualquer coisa que remeta ao futuro que se formam filas para ver, tocar, fotografar, conhecer, imaginar.
Em suma, o futuro interessa.
Agora resta a dúvida: se o que passou ou que virá chama tanto a atenção, pq o presente não é assim tão interessante?
Já ouvi muita gente dizer que não vive no passado e que pouco se importa com o futuro, que vive o momento, que aproveita o agora. Mas também já vi muitas dessas mesmas pessoas sentadas em uma mesa de bar lembrando do tempo da infância, como era melhor, como era isso ou aquilo e também, após alguns copos de cerveja, sair cantando os melhores tempos que com certeza virão.
A melhor coisa que já ouvi dizerem do presente (juro que não lembro quem disse) foi que ele simplesmente não existe. Quanto tempo dura o presente?
Mesmo que se consiga reduzir o tempo (século, ano, semestre, mês, quinzena, semana, dia, hora, minuto, segundo e assim por diante) nunca conseguiremos chegar ao exato momento do presente. E mesma que isso seja possível, no exato momento em que alguém chegar no ponto do presente, ele terá passado e já será passado.
Por isso mesmo é que, talvez, não valha a pena ficar pensando nele.
Talvez valha a pena lembrar do que fizemos ontem ou hoje mesmo pela manhã e de como era lógico fazer aquilo àquela hora.
Talvez valha a pena imaginar o que vamos fazer amanhã ou hoje mesmo logo mais a noite e de como será bom fazê-lo.
Talvez seja por isso que tem gente que não gosta do gerúndio: estou fazendo, estou pensando... é que vc já fez ou vai fazer, já pensou ou vai pensar... ainda nos resta a dúvida, apenas, se quem pensa faz ou se quem faz, pensa no que fez.
.... mas aí, já é assunto para outro dia.

segunda-feira, janeiro 23, 2006

O que que era mesmo?


Sabe aquela coisa que você escuta, meio sem querer, meio de rabo de ouvido (é o mesmo que ver de rabo de olho, entedeu?), mas te chama a atenção e você, em pleno desespero, tenta entender o que está acontecendo, prestar atenção mas já é tarde; o comercial acabou, a piada passou... dá aquela sensação de incompletude (essa existe, gente, até procurei no pai dos burros) que não passa e fica te incomodando, coçando, tirando o sono...
Tem gente que consegue relaxar: "ah, que pena não escutei tudo; deixa prá lá". Mas tem uns (io incluso), que move mundos e fundos até descobrir o que que era aquilo.
Se for comercial de tv, a tarefa é até fácil. Basta sentar e esperar o próximo intervalo comercial que não tem erro, a propaganda (ou o reclame) passa de novo. Claro que a empreitada será mais ou menos traumática dependendo do canal e do programa que estiver sendo transmitido. Você pode ver um daqueles maravilhosos filmes de John Wayne ou a exuberante Sophia Loren ou então verificar se ainda se lembra de todas as falas de Lassie contra os Marcianos Mancos, Viagem ao Centro da Terra dos Zumbis Barrigudos ou O Ataque dos Tatus Tarados.
Se o rabicho de informação que você pegou for de alguma conversa entre parentes e amigos, também é tarefa fácil: basta perguntar que eles repetem. A não ser claro, que a conversa seja entre sua sogra e sua cunhada, daí meu caro, esquece, você nunca mais vai saber o que era. Seja pq elas também não tem a menor idéia do que é que estão falando (muito provável) ou pq vão te interrogar de todas as formas: "pq você quer saber? não tem vergonha em ficar escutando a conversa dos outros? bem que falei pra você, Lourdinha, essa cara não presta, fica aí com essa cara de santo do pau oco, só pra depois ficar nos criticando pelas costas. E o que foi que fizemos para ele? nada! absolutamente nada! Damos do bom e do melhor... snif.... ai Lourdinha, você tinha... snif... tudo para ter ficado com o Robertinho... e foi casar com esse traste..".
Se foi no escritório, também não é difícil. Basta se aproximar do colega, enquanto ele toma um cafezinho e puxar conversa. Se bem que é sempre bom tomar alguma precaução com o tipo do colega que pode estranhar o fato de você nunca ter conversado com ele e de repente...: "sabia... eu sabia que tinha algo de estranho... você nunca foi com a minha cara... desde aquela apresentação em que propus a expansão da empresa para o mercado de fitas de máquina de escrever e você foi contra... que é que tá querendo agora? provavelmente deve estar com algum projeto na gaveta e quer comprar... pois saiba que meu voto é contra, nem que besteira que é, mas sou contra... viu gente, sou contra, cooooontraaaaa".
É meu caro, em suma, em verdade vos digo, o bom mesmo é estar 100% do tempo atento ao que acontece, ao que dizem e a tudo. Caso não consiga ou faz que nem os outros e relaxa ou então reserva vaga no hospício ---

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Regras

Lembro de um ano em um passado recente que ficou famosa a prova de redação de um vestibulando que entregou a folha toda em branco, com nítidos sinais de rascunhos apagados. Apenas no final da folha uma frase: "Tudo o que o lápis escrever, a borracha apagou".
Também me lembro de um colega de colegial, completamente maluco, mas gente boa, que argüido sobre a o que havia compreendido de um trecho de texto apresentado pela professora, não titubeou em responder: "Absolutamente nada".
Recordo de uma aula de química, na qual o professor perguntou ao primeiro da fila (não eu, portanto) qual seria o resultado da mistura de um elemento esverdeado com outro avermelhado. A resposta: "Não tenho a menor idéia".
Na exposição de quadros de um ex-colega de faculdade que debandou do jornalismo para as artes plásticas (hoje em dia, pelo que sei, é um bem sucedido vendedor cds piratas), um puxa-saco parou ao lado do artista e perguntou o que ele queria transmitir com aquela obra composta por um círculo branco dentro de um triângulo acinzentado. Respondeu rápida e prontamente: "Boa pergunta.. sabe que acho que nem eu sei".
Alguns exemplos de como quebrar algumas regras pode ser saudável. Em primeiro lugar: não existe resposta certa ou errada. Em segundo lugar: não precisamos saber tudo. Em terceiro lugar: não é pq é certo para um que tem que ser certo para o mundo. Em quarto lugar: o que seria do azul se todos gostassem do amarelo.
Regras são feitas para dar sentido, mas quem é que disse que tudo na vida tem que ter sentido? Tem um montão de coisas que faço pq quero, pq gosto, pq é bom e me faz bem.
A regra então é ser feliz. Certo, mas se a regra é quebrar a regra, então vamos ser tristes de vez em quando - nem que seja para que possamos ter a alegria de conseguir superar a tristeza e voltarmos a ser felizes.
As regras foram feitas para se colocar limite, pq sem elas a gente viveria em guerra, cada um desrespeitando o limite do outro. Mas se a gente seguir a regra à risca, vamos deixar de lado o relacionamento e deixar de aproveitar o que o outro tem de melhor, o que ele pode ensinar à gente.
Para seguir as regras basta ter bom senso.
E o bom senso nos dirá quando quebrá-las.
Ou como um dia me disse meu chefe, quando perguntei pq é que tínhamos sempre que dizer sim aos pedidos dos mandatários superiores: "é que para dizer não, tá cheio de gente..."

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Quando o bambu geme


Começou a chover granizo. Bem na hora que ia escrever o texto de hoje, começou a chover granizo.
Que é que tem a ver uma coisa com a outra? Bem, absolutamente nada, mas como a chuva chamou minha atenção e esqueci completamente sobre o que iria escrever, agora sou obrigado a escrever sobre chuva de granizo.
A chuva é.... ah, para lembrei... deixa a chuva pra outro dia, ia falar sobre as maravilhas que é conhecer expressões novas.
A vida da gente é feita de expressões, muitas que adquirimos de nossa família. Uma das coisas mais engraçadas é ver os jovens falando coisas que não a menor idéia do que seja, "mas era minha vó que falava isso" ou "ah, sei lá, mas tinha um primo em Águas da Prata que falava e eu achava tão bunitinho".
Tudo bem que a maioria das expressões são completamente absurdas, sem sentido algum... bem entendido, sem sentido quando a gente pensa nelas, mas expressam direitinho o que a gente quer e precisa dizer naquele momento.
Agora, vamos e venhamos, será que tem gente que pensa na expressão? Duvido, expressão é, como diz o nome, para ser expressa, para se soltar o verbo.
Hoje aprendi uma nova. Em uma bela mensagem, um amigo lá da próspera e progressista cidade de Lins, terra de gente bunita e trabalhadêra, o Izaias, falou que o pessoal aqui da repartição era tudo gente boa, gente que "num nega fogo na hora que o bambu geme".
Como não tem gente que quer fazer a expressão fazer sentido, fui eu a fazê-la: que catso será que quer dizer negar fogo na hora que o bambu geme? Ou, simplesmente, bambu geme?
Uns tentaram dizer que durante a tempestade, o dito vegetal verga mas não quebra e assim, vergado, o vento entra pelo seu oco e gera um som que simula um gemido.
Outros disseram que nem precisa o vento entrar pelo oco do bambu, que bastava sua vergabilidade para emitir a gemência.
Já teve um que disse que o que gemia era a cabeça do caboclo que ficava embaixo do bambu quando esse vergava.
Como preferi ignorar todas as explicações, que só estavam confundindo mais a bela expressão, que seja o que quer que signifique, com total e absoluta certeza, foi um baita dum elogio, preferi simplesmente responder.


Nóis é bão
seja quando o bambu geme...
quando a jiripoca pia...
quando a porca torce o rabo...
quando o pega é pra capá...

seja na curva do rio...
na encruzilhada da estrada...
na linha do horizonte
nas esquinas da vida...

seja no raiar do dia
no cair da tarde
no breu da noite
na hora que pricisá

.... e não é que voltou a chover granizo?

quarta-feira, janeiro 18, 2006

A invasão da robozada


Definitivamente dessa onda, estou fora.

Deu no sempre atual e necessário Blue Bus:
"O Ministério da Informação e Comunicação da Coréia do Sul espera lançar robôs domésticos em outubro deste ano. Serão capazes de realizar tarefas como limpar, tomar conta da casa, ler para as crianças ou pedir pizza pela internet. O Governo sul-coreano já tinha anunciado há alguns meses planos para ter em 5 anos robôs policiais e robôs soldados".

Depois da onda de robôs imitando animais de estimação (desde o tamagoshi, lembram,.... que coisa irritante era aquela, meu Deus!! Será que ainda tem gente que tem aquilo? Não duvido... decididamente não duvido) e outros bonecos, o que querem fazer agora é acabar de vez com duas das coisas mais gostosas que o ser humano sabe fazer: ler e pedir pizza.

A única empregada robô que lembro e até gostava era aquela dos Jetsons (como é que era o nome dela mesmo? que seja...). Mas nem ela, em toda suas 1001 utilidades, tirava o prazer da leitura daquelas crianças. Efetivamente também não me lembro se ela pedia pizza... acho que as redondas saiam de dentro dela...

Há tempos que defendo que a leitura é a única saída para a mediocridade da humanidade. Já disse e repito, quem não sabe ler não sabe escrever, falar, pensar... não sabe viver.
Agora imaginem que as pessoas nem mais vão precisar saber ler: deixa para o robô que vai ler o jornal pela manhã e a gente ainda pode escolher se quer que ele nos dite o conteúdo completo, um resumo detalhado, um resumo básico ou somente a coluna social.

Daí sai o novo livro daquele autor fantástico que consegue, via suas palavras, atiçar a imaginação, criar cenários, construir pessoas e situações, movimentar as sensações e despertar as emoções. Para que lê-lo se basta comprar o livro, dar para a roboa (que na verdade não pode ser assim tão boa, se não além de ler e pedir pizza vai também dar mais problemas lá em casa....) que vai saboreá-lo e depois só te contar se foi ou não o mordomo que matou a velha senhora para ficar com a fortuna que ela tinha escondida atrás da lareira.

Mas inadmissível, completamente inaceitável, impensável, inimaginável, um estupro à dignidade humana é outorgar a um ser metálico, frio, sem sabor, o ato semi-divino de pedir pizzas.
Jamais o enlatado vai saber, mesmo que tenha sido para isso programado, ressaltar a maravilha da massa um tantinho mais grossa que o normal, mas não grossa demais; com o recheio até a medida exata da borda que permita pegá-la com a mão e comê-la aos pedaços; pedir a substituição ou inclusão de algum ingrediente que somente você sabe que combina melhor do que a receita original da pizzaria...

Daqui a pouco, além da robozada alardeada na notícia, também vão inventar robô para ler tarot, bater um rango na padoca pela gente, tomar sol na praia pela gente, tomar cerveja pela gente, ir no churrasco pela gente, ir no cinema pela gente... é precisa ver se, depois de tudo isso, vai ainda precisar ter a gente.

terça-feira, janeiro 17, 2006

Pharmácia


Quando saia de casa hoje pela manhã ouvi de relance que hoje era dia do farmacêutico. Apesar de não conseguir confirmar a veracidade da informação, não me sai da cabeça a lembrança do Seu Valdemar (ou Waldemar, o que não faz - hoje em dia - a menor diferença).
O Seu Valdemar era o dono da farmácia que minha vó me levava quando era pequeno. Sabe aquelas farmácias de bairro, com prateleiras de madeira, cheiro de álcool, monte de caixinhas que tinha uma ordem que somente o Seu Valdemar sabia qual era - nada de ordem alfabética ou qualquer outra comum, era a ordem dele, que ele entendia e pronto.
Lembro que a farmácia do Seu Valdemar era azul e, em verdade, o tal monte de caixinhas de remédios não era assim tão grande. O motivo era pq o Seu Valdemar não era de ficar mudando o remédio não, dor de cabeça era um, febre era outro, dor de garganta aquele outro e assim por diante, para cada sintoma, um remédio.
- Mas Seu Valdemar, o médico pediu para dar esse aqui...
Ele nem deixava terminar a frase: para o Seu Valdemar, médico entende de saber qual era a doença, de curar a dita cuja quem entendia era ele.
Obviamente exageros à parte, Seu Valdemar era aquele farmacêutico que atendia no lugar do médico (um erro brutal, viu crianças, não façam isso em casa). Claro que com toda responsabilidade que lhe caia sobre os ombros finos, costas magras e a careca, quando via que a coisa era mais séria, não titubeava em falar que era bom ir até o pronto-socorro.
Mas é aí que entrava a diferença do Seu Valdemar. Ele manda ir até o médico, mas fazia questão de saber, em seguida, o que era que a gente tinha.
Para começar a história, ele tinha uma caderneta com nomes e telefones de todos seus clientes. E como todos os seus clientes eram da região, o que o velho Valdemar tinha era a lista telefônica do bairro.
Não posso confirmar, mas não duvido que muita gente não ligasse pra ele para pedir o telefone de outra pessoa. Ou seja, além de farmacêutico, Seu Valdemar era relações públicas e dos bons.
Se o enfermo não podia ir até a Pharmácia, não tinha a menor importância, ou ia alguém que pudesse descrever os sintomas ou, não raramente, ia o bom Valdemar até a casa dele. E sabem o que era pior: na maleta ele levava exatamente o remédio que precisava para curar a doença.
Agora pergunto, como é que ele sabia o que é que o moribundo tinha? No máximo era um telefonema da avó, da tia ou de alguém dizendo: Seu Valdemar, o Jr. tá de cama, ardendo em febre, num para de tossir, tosse pesada, respiração dura... E lá ia ele com xarope e mais umas coisinhas que faziam o Jr. estar, em 48h, jogando bola na rua.
Acho que aí é que está a grande diferença. Na época do Seu Valdemar, se jogava bola na rua, as doenças eram mais simples, não tinha Aquilite tipo A, B, C1, C2, D e F; quando uma criança ficava com febre ele já sabia que com muita probabilidade outras iriam ficar e reforçava o estoque de antitérmico e também do antibiótico e do que mais fosse preciso.
Conforme a gente foi crescendo, igualmente foram crescendo as preocupações do Seu Valdemar: Ah essa meninada, tá aprontando...
Há alguns anos me lembro de ter passado na rua aonde ficava a Pharmácia e ver, não sem uma dor no coração, que ela ainda existia, mas já era Drogaria e tinha uma marca - muito boa, sem sombra de dúvidas, mas com absoluta certeza, já sem o Seu Valdemar.
É o ponto era bom, tão bom que até hoje existe.
Não resisti, deu uma parada. Diferentemente do Seu Valdemar que vinha receber eu e minha avó com um grande sorriso, ninguém quis me dar boa tarde. Peguei, eu mesmo, um colírio e fui ao caixa.
Ah, se fosse Seu Valdemar, ia olhar meu olho, dizer que nada de colírio, bastava compressa de água boricada.
Quem sabe o velho Valdemar ainda não esteja "trabalhando" na sua Pharmácia, hoje Drogaria e "orientando" os clientes, principalmente os que um dia passaram por suas mãos.
Deve até ser, pq não consegui comprar o tal colírio, mas sim um vidro sem marca de água boricada e um pacote de algodão para as compressas - se bem que não tinha nada nos olhos, a não ser algumas lágrimas.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

A mudança da formação

Um dos principais debates da área da Comunicação é a formação de seus profissionais. Sempre houve muita discussão sobre a formatação dos cursos de jornalismo, propaganda, relações públicas e todos os outros que despejam no mercado anualmente algumas centenas de pessoas ávidas por dar vazão à sua criatividade.O problema é que o mercado não está assim tão desejoso de volúpias criativas que, depois que vêem que o buraco é mais embaixo (razoavelmente mais embaixo) acabam se decepcionando e indo abrir pastelarias, casas de suco e consultas de tarot.
Recentemente algumas redações tem aberto seus espaços para que os estudantes de jornalismo possam conhecer o dia-a-dia da verdadeira e deliciosa maluquice que é a produção de um jornal diário, de um telejornal ou de uma emissora 24 horas de notícias. Lembrando a máxima ambientalista: quem conhece, preserva. Nesse caso, quem conhece ou assume que é aquilo que quer para o resto da vida, ou pula fora lá mesmo.
O mesmo projeto também tem sido feito por diversas empresas que chamam os estudantes de jornalismo para conhecer o cotidiano de uma assessoria de imprensa.
Na mesma linha, agências de propaganda mostram o processo de atendimento (que em algumas nem mais existe, uma prática ainda vista com o cenho cerrado da dúvida), criação, produção, mídia e planejamento.
Mas, voltando à senha do jornalismo, é interessante a notícia do sempre atualizado Observatório da Imprensa (no blog de Carlos Castilho), Internet pode transformar redações em salas de aula, que mostra casos (como da BBC Londres) que transformou sua redação em uma verdadeira sala de aula.
Mas gostaria de chamar a atenção para dois trechos
"A mudança de foco do jornalismo, passando da notícia para o treinamento e orientação, é uma conseqüência direta das transformações provocadas pela internet na ecologia informativa da sociedade contemporânea. Há uma avalancha de informações.
O problema não é falta de notícias (embora as vezes ocorra uma escassez ocasional em determinadas áreas). A oferta tende a aumentar cada vez mais na medida em que crescer o ritmo de participação do público na produção de conteúdos, como é o caso dos weblogs (diariamente surgem 70 mil novos blogs no mundo).
Como assinalaram os jornalistas franceses Jean François Fogel e Bruno Patiño, autores do livro Une Presse Sans Gutenberg, a notícia tende a perder importância na atividade jornalística em favor da pesquisa sobre os métodos sobre como chegar até ela. Neste enfoque, questões como a ética informativa ganham mais relevância do que a preocupação com o furo jornalístico."
e para este:
"Uma mudança como esta não acontece sem uma reeducação dos profissionais e principalmente sem uma capacitação dos leitores. Os profissionais precisam de uma atualização porque a avalancha informativa e o ritmo frenético da inovação tecnológica estão provocando um terremoto nas rotinas tradicionais das redações.
Por seu lado, o público está assumindo um papel cada vez mais ativo como produtor de informações sem ter uma capacitação mínima para exercer esta função. Não são só os jornalistas que estão sendo atropelados pela internet. Os leitores também já começam a pagar o preço do despreparo quando se multiplicam os casos de uso indevido e irresponsável da informação em sites da internet, especialmente nos que usam softwares de autoria coletiva."
Ou seja, ou Imprensa assume de forma total e definitiva sua missão de formar a partir da informação; ou as empresas assumem de forma irrestrita seu papel de produtoras de informações e geradoras de conhecimento para mudanças do comportamento, ou a gente vai, muito em breve, se ver em maus lençóis.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Papel, o eterno papel

Partamos do pressuposto que o papel é uma coisa tão essencial que extrapola seu próprio sentido material.
Qual o seu papel na vida?
De algumas pessoal é o sulfite: branco, pronto a tudo receber, mas não esqueçam que sua fina borda corta e o corte arde.
De outros é o almaço: igualmente branco, contudo pautado... suas linhas dão as diretrizes e somente os muito revoltados não as seguem.
Para alguns a cartolina: maior, mais dura, mais gostosa de rasgar, perfeita para colar na parede em cartazes e avisos.
Alguns assemelham-se ao pardo: mais rústico, amarrota, mas apto sempre aos embrulhos e pacotes - se bem que na minha época o papel pardo era cor de rosa...
Há os papel de seda: coloridos, delicados, mas adoram fazer-se pipa para sentir o vento na rabiola.
Claro, os carbono: ficam no meio de outros e passam a mensagem de um para outro; contudo nunca da mesma forma.
O papel espelho: de cores fortes, brilhantes, perfeitos para embrulhar presentes. Mal sabiam que seriam os primeiros a serem rasgados, descartados.
O papel moeda: importante, tem valor, mas todo mundo amassa, rabisca e nem sempre dá para se fazer o que quer com ele.
Ia esquecendo, o pergaminho: mais antiquado, tradicional, praticamente artesanal; rasga fácil e tem cheiro.
O reciclado: já foi usado, mas ainda dá para fazer alguma com ele; ganha em charme, mas é grosso.
Papel manteiga: meio translúcido, ótimo para embrulhar assados e ir ao forno sendo descartado em seguida.
Papel alumínio: brilha mas nunca se consegue um pedaço reto.
Há os que são papel higiênico: vêm em rolos, todo mundo sabe o que é, pra que é, tem, não vive sem, mas seu final é trágico.
Papel fotográfico: brilhante, recebe as melhores imagens, mas depois disso ninguém mais dá importância para ele, só para a foto.
Bem, essa relação poderia e até deveria ir além, muito além.
Mas aonde está basta para ver que tipos de papel e de pessoas se assemelham - eu pelo menos conheço umas três de cada tipo...
Mas não vamos também dizer que nenhum tipo de pessoas se assemelhe ao computador: dá para fazer qualquer coisa com ele - mas todo mundo quer a versão mais nova.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Mensagem de Bolinha



Conta a lenda que, logo após a consolidação de seus ideais, São Francisco de Assis ordenou a seus seguidores que iniciassem uma peregrinação pelo mundo difundindo os princípios da paz e da humildade.
Munidos apenas de suas vestes de algodão entrelaçado, sandálias de couro cru e com muita fé no coração, os freis franciscanos começaram sua missão, levando, aonde quer que estivessem, palavras de conforto, gestos de auxílio ao próximo e alívio aos que sofriam dos males do corpo e do espírito.
Muitos deles, porém, encontravam dificuldades na propagação de seus princípios de fé, justamente pela falta de um item material no qual as pessoas pudessem depositar suas esperanças.
Sendo contra todo e qualquer valor material, os freis franciscanos tiveram que encontrar algo que não ferisse sua doutrina e que, ao mesmo tempo, servisse aos interesses de sua missão.
Foi através de um frei, cujo nome se perdeu no tempo - sabe-se apenas que era um frei muito gordo e caridoso - que a solução foi encontrada. Quando lhe pediram algo que pudesse ser passado nas partes doloridas do corpo, ele arrancou um tufo de algodão de suas próprias vestes, fez uma pequena bolinha, orou, energizou-a e deu ao necessitado com a seguinte orientação:"Toda vez que tiveres alguma dor, alguma angústia, algum mal-estar, segura esta pequena bolinha de algodão e ora, pedindo ao Pai misericordioso que, através deste simples artefato da natureza, possam ser transmitidas as energias e as vibrações necessárias ao alívio de tuas dores e preocupações e que com ele possas encontrar a paz".
Assim feito e repetido este ato, não somente pelo bondoso e avantajado frei, mas por uma série de seus irmãos franciscanos, o algodão passou a ser um símbolo da natureza que até os dias de hoje é um dos principais elementos na prática da medicina, devido a sua pureza e suavidade.
Sempre ficou claro que qualquer propriedade curativa ou intuitiva transmitida pelo algodão, somente seria ativada pela fé da própria pessoa, para que tivesse a capacidade de aliviar as dores, auxiliar na solução de problemas e até mesmo atuar como um talismã de boa sorte.
Com a bolinha de algodão energizada, até hoje é possível praticar essa fé. Se estiver com alguma dor, coloque uma bolinha de algodão sobre o local dolorido ou machucado; concentre-se e, por meio de uma oração, peça para que através dela possam ser transmitidos os fluídos curativos que lhe darão o alívio da enfermidade, podendo repetir a operação quantas vezes quiser.
Se estiver com alguma preocupação, aflição ou dúvida, segure bem forte a bolinha e, orando, peça a orientação necessária, a inspiração e a intuição para que seu problema possa ser resolvido rápida e satisfatoriamente.
Que tudo isso lhe traga sucesso e muita paz!
Ah! Se no final da oração você quiser, pode incluir um agradecimento especial a um certo frei franciscano bem gordinho, que nos mostrou o caminho para sermos simples e naturalmente felizes... a gente agradece.


Para quem não sabe a história de Frei Bolinha, esta era a mensagem que o seu Grupo transmitia.
Para os que pediram, um pedaço de Frei Bolinha, companheiro de São Francisco - uma história de boa vontade - um pedaço, na voz do próprio Bolinha...

– Em nossa Igreja nós não cultuamos nenhum santo em particular - respondeu o frei.
- Sempre foi um altar ao trabalho de Jesus e à Sua mensagem. Nela não colocamos nenhum santo pois todos devem ser louvados em igual. Já consertei muitas igrejas em minha vida. Algumas eram de São Pedro, outras de São Paulo, outras de santos não tão conhecidos. Querem me dizer que São Pedro cuida melhor de suas igrejas do que São Paulo, só porque as de São Paulo estão em pior estado do que as de São Pedro?
– Cuidar das igrejas, de seu bom estado físico e de sua elevação como ambiente espiritual é função dos homens, não dos santos. Tenho certeza de que Francisco não virou santo só porque o Papa assim determinou. A vida deste homem que agora chamam de São Francisco foi totalmente dedicada ao próximo, à caridade e à abnegação aos valores materiais. Não seria agora uma ofensa à sua memória se construíssemos templos para venerar sua imagem?
– Na realidade, pouco me importa se Francisco fez - ou continua fazendo - milagres.. Quero lembrar dele como o amigo e mestre que tive e para isso não preciso de nenhuma construção, nenhuma imagem, nenhum altar. Bastam-me a natureza, a água e o fogo, a lua e o sol, as estrelas e as nuvens, o vento e todos os animais e todas as crianças. Foi por tudo isto que Francisco viveu e é nisso que reside sua força e residirá para sempre sua memória.
– Mas vejo que muitos de vocês não concordam, assim como não devem concordar muitas pessoas em todo o mundo. Mas serei firme: a igreja do Centro da Boa Vontade continuará para sempre sem nenhum santo. Honrará a todos e a Deus, somente. Se querem, entretanto, um local para homenagear a São Francisco, tenham respeito, pelo menos ao que ele pregou em vida. Façam um altar, bem simples, ao ar livre. Cubram com muitas flores e cuidem para que elas sempre floresçam perto dele.
– Jamais passem por ele e orem para São Francisco lhes conceder uma graça. Orem sim para que sejam humildes a ponto de poderem ajudar e aí serão ajudados, orem pedindo que sejam simples a ponto de poderem sempre amar e serão amados, orem pedindo que estejam sempre prontos a dar, para que possam receber, orem pedindo para que possam aproveitar a vida, que a vida os aproveitará.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Abaixo o som do comercial!


Deu no Estadão de hoje...
"Sua TV aumenta o volume durante os intervalos comerciais? Apesar de muitas redes negarem qualquer oscilação no som da transmissão durante o intervalo comercial, acaba de chegar à Câmara projeto de lei que pretende acabar com isso".
Segundo a matéria está prevista multa, suspensão e até o cancelamento da outorga de operação dos sinais da emissora que aumentar o volume durante o break comercial.
Algumas emissoras se justificam dizendo que o problema é do material recebido das agências de propaganda - colocam que não existe um padrão único de gravação e que é preciso equalizar no topo.... sei lá, é lógico.
Já para a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), ainda segundo a matéria do Estado, a oscilação de volume existe e é bem maior do que se imagina, também colocando percentual elevado da culpa nas produtoras de comerciais (estas se defendem alegando que tudo está dentro das normas).
Termina a matéria coma a afirmação: "Talvez com punição os culpados apareçam".
Bem, eu admito que não tenho esse problema. Primeiro pq até gosto de ver comerciais - sabem como é, esposa publicitária.... - e também pq me irrita muito mais o som dos novos desenhos animados televisivos (não dos longa de cinema que são absolutamente fantásticos, mas os de tv mesmo que são insuportavelmente irritantes e, estes sim, com som alto e ininteligível).
Agora... vamos e venhamos. Será que aumentar o som de um comercial traz assim tanto resultado? Será que alguém vai comprar algum produto somente pq o som do comercial daquela loja que vende o dito cujo está mais alto que o do filme, do jogo, da novela, do telejornal?
A desculpa técnica das emissoras de forma alguma é estranha. Concordo que ficaria muito pior ter um comercial com som mais baixo do que outro. Com certeza o telespectador iria debitar isso na conta da qualidade técnica da emissora.
O pior de tudo não é saber quem está certo ou quem está errado. O pior de tudo é que o som maior, com total e absoluta certeza, está naqueles comerciais mais irritantes, nos piores, nos que não tiveram verba ou criatividade para produzir alguma coisa minimamente decente e tem que apelar para os decibéis para poder se mostrar.
Comercial bom, filme com produção cuidadosa, com roteiro, direção, mídia eficiente (não jogada pela programação de uma emissora qualquer), não precisa ter som alto: tem mensagem, conteúdo e gera desejo de compra.
Afinal de contas a propaganda não é para isso: levar informação que gere desejo de compra?

terça-feira, janeiro 10, 2006

O sumiço das agendas de papel - 2

Sou obrigado a admitir que não era minha intenção fazer a continuação da crônica de ontem. Contudo, diante da enorme, estupenda e rechonchuda repercussão, não vejo escolha a não ser.... bem, vamos ao texto e deixa de explicações!
Um bom amigo uma vez me disse que, por mais que a tecnologia evolua, uma coisa que jamais será possível substituir é o prazer de ter um livro em mãos. A sensação de pegar no papel e folhear, correr as páginas, ouvir o barulhinho do farfalhar das folhas, o cheiro único e característico que somente o papel sabe e pode fazer.
E o jornal? E o sujar as mãos com o jornal? Existe sujeira mais bem vinda? Sujeira que tem como fruto o conhecimento.
Ah, não gosta do jornal? Prefere revista? Tudo bem, revista pode não sujar as mãos, mas dá o mesmo resultado em termos de evolução.
Tudo isso por mais que seja obrigado a reconhecer que o computador veio para somar, para auxiliar, para agilizar, para facilitar muita coisa... ah, o prazer que é proporcionado pelo papel, isso nenhum computador jamais vai dar.
Antes que os ecologistas saiam em passeata pelas avenidas da cidade, exigindo minha crucificação e conseqüente apedrejamento em praça pública por estar incitando a humanidade ao corte de árvores para fabricação de papel, permitam-me lembrar que alguns dos mais bem sucedidos, reconhecidos e efetivos programas de responsabilidade sócio-ambiental são empreendidos por empresas fabricantes de papel e celulose - basta se informar para confirmar essa verdade.
Várias vezes, em vários textos, incitei o povo à leitura. Firmo e reafirmo que uma sociedade somente poderá se considerar desenvolvida quando a leitura for um hábito tão corrente, tão corriqueiro e tão natural como o almoço ou o jantar. - como, a sra.não almoça? bem, olha, é o seguinte.... pô problema da madame tá legal... deu pra entender, não deu? ótimo.
Outro dia mesmo entrei em uma livraria (boa pergunta, aliás, qual foi a última vez que vc entrou em uma livraria? que levou as crianças para brincar numa livraria?) e vendo uma ou duas obras, comentei com a proprietária que eu era autor e perguntei se ela tinha o Frei Bolinha (o que? vc ainda não leu Frei Bolinha, companheiro de São Francisco - uma história de boa vontade? Que absurdo... que coisa....).
Bem, a resposta da moça foi que ela não tinha. Felizmente havia vendido todos, mas o que mais me chamou a atenção foi o comentário dela que tinha, ela mesma, adquirido um, lido (felizmente gostado) e feito o que deve ser feito com todo livro: passado a frente.
Diante minha cara de estupefato, a gentil senhora argumentou que livro tem sentimento, tem alma, gosta de variar os leitores, por isso depois que ela leu, a melhor coisa que pode fazer foi dar a uma amiga que poderia, tal qual ela, entender e aproveitar a mensagem.
Legal né?
Tudo o que me sobrou foi dar-lhe um sincero muito obrigo e ir para casa, ver quantos e quais livros poderia fazer voar o mundo... infelizmente acho que não sou tão evoluído assim, pois não foram muitos que consegui me desfazer... ainda chego lá.

Bem, daí vcs perguntam o que é que tudo isso tem a ver com a questão das agendas de papel. Explico: toda essa apologia ao papel, imortal, apaixonante e único papel, foi em homenagem a meu amigo Wilberto Luiz Lima Jr, que afirmou categoricamente que as agendas de papel não vão morrer não, tem sim muito uso e para me deixar contente da vida me mandou algumas fabricadas com papel de sua empresa....
Wilberto, tal qual faz hoje, com certeza e total certeza, continue a produzir papel, de forma responsável, profissional, correta. Seja para agendas (me mantenha no teu mailing heim, amigo), cadernos, livros ou para o que for, mas não deixe morrer jamais o caso de amor eterno que o ser humano tem para com o papel.

segunda-feira, janeiro 09, 2006

O sumiço das agendas de papel

Não sei quanto aos estimados leitores, mas eu não recebi nenhuma agenda de brinde nesse final de ano.
Em uma agradável conversa na happy hour da última sexta-feira, comentava isso e, por incrível que pareça, nenhum dos sete integrantes da mesa haviam recebido sequer uma agenda de bolso.
Claro que foram tiradas algumas teorias sobre tal fato - todas devidamente regadas a algumas tulipas do mais puro malte, mas que me fez esquecer das melhoras...
Para uma melhor avaliação do fato, talvez tivéssemos que realizar uma pesquisa de campo, entrevistando para isso algumas gráficas para verificar se houve realmente uma queda na demanda de impressão de agendas - lembro-me dos tempos de outrora que a Brindes Pombo dominava esse mercado...
Contudo, na impossibilidade de ser levada a campo tal pesquisa, o que posso imaginar é que absolutamente ninguém mais usa agenda de papel. Também para que, dirão alguns, se no computador tem agenda de tudo quanto é tipo, para tudo quanto é gosto, para todas as formas e maneiras de se agendar alguma coisa?
Além do computador, temos atualmente (?) palm-tops (que não passam de computadores de mão, mas os mais entendidos insistem em colocá-los em uma categoria diferente e eu, como de forma alguma sou assim tão entendido, vou com a maioria) e os celulares que tem uma vasta e até que completa agenda para tudo o que se quisesse colocar - de telefones a compromissos, tudo cabe no celular.
Daí como é preciso sincronizar tudo a fim de não se perder nenhum contato ou compromisso, ficamos com os aparelhos que são sincronizáveis. E como papel não é sincronizável com absolutamente nada, que se danem as agendas de papel.
Certo? Não, errado, total e completamente errado.
Admito que por diversas vezes na vida, desde os áureos tempos escolares, tentei iniciar e manter uma agenda. Mal e mal passei da fase do tentar iniciar, manter então, esquece.
Sou completa e absolutamente incapaz de ter uma agenda organizada, a não ser a de telefones claro, nem que seja por obrigação da profissão - certo que hoje em dias as pessoas mudam tanto de telefone: um percentual razoável dos e-mail que recebo são se amigos, colegas e contatos profissionais enviando seu novo número de telefone, seja fixo ou celular. Ô gente colabora, como é que dá pra ter uma agenda organizada se vocês não se organizam?
Nem as secretárias utilizam mais as agendas de papel. Enfim, acho mesmo que é um daqueles produtos em fase final de vida...
Lembro, com um certo quê de nostalgia, anos não assim tão distantes, quando chegavam agendas e mais agendas, permitindo que - fazendo a cortesia com o chapéu alheio - oferecesse às moçoilas uma das muitas agendas que dispunha.
Hoje, nem mesmo tal aproach pode ser feito...

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Seus problemas acabaram (pelo menos um deles)

Existem alguns dilemas da humanidade para o qual, sinceramente, duvido que algum dia se invente alguma solução - pelo menos uma séria e que realmente resolva a questão.Não, estimado filósofo, não estou me referindo à vida após a morte ou à flexibilidade do rabo da lagartixa ou ao sexo dos anjos ou qualquer coisa assim tão profunda. Mas simplesmente aos atos dilemosos (gostaram?) do dia-a-dia.
Tirar o leite condensado da lata. Espremer até o final uma pasta de dentes. Passar linha pelo buraco da agulha. Acertar o relógio do microondas. Programar o videocassete. Abril lata de sardinhas e uma relação infinitamente infindável.
Mas, pelas últimas notícias um desses acima relacionados teve uma solução: acaba de ser lançado o lip-o-suction, um revolucionário espremedor de tubo de pasta de dente - aliás, segundo a notícias, não é o lip-o-suction, mas a lip-o suction (favor não perguntar pq).
Vendido aos pares, a lip-o-suction é uma boca feita de vinil, custa a bagatela de US$ 3,95 e seu principal mote publicitário é o fim das discussões domésticas sobre quem apertou o meio do tubo da pasta de dentes.Sabe quando você acorda, vai ao banheiro para escovar os dentes e vê o tubo de dentifrício espremido ao meio; com um tanto de pasta lançada ao fundo e outro tanto acomodada à frente?
Pois é, acabaram-se seus esforços para, com o cabo da escova, alisar o dito tubo.Agora, basta ter à mão o.... ops, a lip-o-suction. Seu manejo (imagino) é simplicíssimo, não requerendo prática, tampouco habilidade. Basta abrir os lábios do instrumento, delicadamente introduzir o tubo e, com um leve movimento de introdução, levar a quantidade de pasta para a extremidade do tubo na qual se encontra o orifício de saída.
Ah, o... puts grila, a lip-o-scution pode ser utilizada para equalizar a pasta pelo tubo ou simplesmente para retirar a pasta, deitando-a sobre a escova. O fabricante não contou, ainda, se a permanência do tubo pastal no... ah saco, a lip-o-suction por tempo prolongado proporciona algum tipo de deformidade no............humpft!, na forma labial carnuda do aparelho.
O.........desisto!!! A lip-o-suction vem, neste momento de lançamento apenas na cor vermelho rubro. Porém, já corre no mercado a informação de que uma famosa marca de batons estaria interessada em lançar versões equivalentes a seu portfólio de cores.
- cada vez mais me admira a capacidade do ser humano de inventar bobagem.....

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Começo de ano - para quem, cara pálida?

Vamos falar a verdade: o ano não começa dia 1o de janeiro.
Começa na primeira segunda feira depois dessa data, contanto que
a dita cuja segunda não seja dia 2 ou 3.Ou seja, o ano começa pra valer lá pelo 9 ou 10.Vejam bem, não é tão ruim como alguns dizem que o ano só
começa depois do Carnaval - para esses, digo que depois do
Carnaval tem Copa do Mundo, depois Eleições. Enfim, para os
adeptos dessa linha de pensamento meus sinceros desejos de um
Feliz 2007 (depois do Carnaval, bem entendido).Mas para os que insistem em acreditar que dá para fazer alguma
coisa ainda em 2006, essa primeira semana é extremamente
irritante.Tirando o trânsito que está uma maravilha (acreditem que ontem
cheguei a colocar a quarta marcha no meu carro; coisa que achei
que nem mais sabia fazer... e em plena Marginal), qualquer outra
coisa que se tente fazer está fadada ao fracasso.Metade das pessoas com as quais você precisa falar está
"aproveitando a semana para um merecido descanso". Já a outra
metade, p da vida que não teve o merecido descanso, não está a
fim de fazer absolutamente nada - minto, está a fim de deixar a
bomba estourar na próxima semana quando o colega voltar
descansado.Não sei algum dos ilustres leitores teve a mesma sorte (?), mas de
cada 10 pessoas que procurei nesses primeiros dias do ano, pelo
menos 7 não estavam. Daí bateu a pergunta: o que que é que eu
estou fazendo aqui?Mas o mais engraçado é quando os descansados retornam. É um tal
de confirmação de recebimento de e-mail para cá, ligação de
secretaria desesperada pra lá...(Olá, sr. Sérgio Lapastina, é da
parte do Dr. Valderfrânio. Estamos retornando uma ligação sua que
se encontrava em pendência......... Sérginho meu querido... como
está esta força? Que saudade? Passou bem a virada do ano?) -
claro que ele está com o pique todo, está descansado.O pior é que o Valderfrânio pensa que o mundo parou esperando
seu retorno do descanso. Daí fica esta mula que vos escreve na
tentativa de explicar que o tal caso em questão já foi resolvido e
que o dito cujo não fez falta nenhuma.Porém, na sempre intenção de ver o lado bom das coisas, é preciso
que ergamos a cabeça e encaremos esse período como um desafio
à nossa criatividade, ao jogo de cintura: se os que não
aproveitaram para descansar sobreviverem, tenham certeza, irão
camelar o resto do ano, pois se resolveu agora, amigo, continua
com o problema que eu vou aproveitar e descansar até o
Carnaval...

terça-feira, janeiro 03, 2006

Ansiedade da Informação

Há algum tempo digo que um dos melhores livros que já li é o Ansiedade da Informação, do Wurman. Uma obra maravilhosa que aborda com extrema inteligência o caos no qual se transforma nosso dia-a-dia com a quantidade de informação que nos é colocada à disposição a cada segundo.
Uma "cena" do livro que me marcou e que representa a mais pura verdade é quando ele pede para que olhemos para a pilha de revistas, artigos e recortes e outros textos amontoada no canto de nossa mesa esperando que o dia tenha, de forma milagrosa, umas duas horas a mais para que possamos tentar lê-los.
Depois de uma boa olhadela, o autor pede que simplesmente peguemos a pilha e, como ela está, sem tirar nem por, a lancemos ao cesto de lixo.
Claro que o primeiro sentimento é de "o que? ficou louco? tem coisa importante ali, tem aquele artigo da revista americana, o resumo do livro, a coluna da semana retrasada do Veríssimo, o exemplar do mês passado da revista da associação..."
Mas, passado o primeiro desespero e contido o ímpeto de pegar tudo da lata de lixo, você vai ver que absolutamente nada do que estava ali vai te fazer a menor falta - até mesmo pq se alguma coisa ali fosse fazer falta, já teria feito.
Metáfora ou não de uma ação que precisa ser efetivamente levada a cabo, o que Ansiedade da Informação nos mostra é que a humanidade chegou em um patamar de facilidade no acesso à informação que se nos deixarmos levar por esse volume que chega via jornais diários, celulares, rádios, tvs, internet, e-mail, bate-papos on-line, i-pods e outras traquitanas que inventam a cada minuto, a gente simplesmente não faz mais absolutamente nada: fica, simplesmente, vivendo em função do recebimento de informações.
Daí, duas coisas acontecem, ambas terríveis:
1- como é humana, física e mentalmente impossível obter todas as informações, ficamos com a sensação de que estamos desinformados, que nos falta algo, que perdemos alguma coisa e, daí, gera-se a tal da ansiedade da informação, para a qual ainda não se tem remédio.
2 - devido ao excessivo e aterrador volume de informação, não conseguimos processar tudo isso e não realizamos a transformação da informação em conhecimento e, com isso, tudo o que recebemos não serve para absolutamente nada.
Sem a metamorfose da informação em conhecimento, não há mudança e sem esta, não há evolução. Ou seja, com muita informação, sem o devido processamento, o ser humano fica estagnado.
Por isso, o melhor é termos um senso crítico em relação à informação que recebemos, que precisamos receber.

Tudo isso, simplesmente pq, nesta rápida semana que fiquei fora, o jornal mais recente que tinha era de outubro, a revista mais nova dizia que Lula era candidato, não pegava nenhuma estação de rádio, não tinha tv e celular nem pensar.
Sabem que falta fez?.....essa mesma.