quarta-feira, junho 28, 2006

Passado fantástico

Recebi hoje uma daquelas insuportáveis apresentações que mandam, como corrente, falando da felicidade, da paz, da importância do sorriso, da vantagem da asa da borboleta dourada da Tasmânia.... ô coisa chata.
Pior é que, se por algum motivo qualquer, você clicar sobre o arquivo e ele abrir, esquece, vai travar tudo pq só de imagem e som tem um caminhão de megabites.
Contudo, a mensagem que recebi hoje era de um amigo que tem a mesma raiva desse material que eu. E mesmo assim, mandou? Bem, no mínimo devia ser algo interessante.
E era.
Era um power-point vagabundinho, sem grandes efeitos, recursos, sons. Apenas as frases e umas ilustrações de arquivo básica e começava com uma pergunta: você que teve sua infância durante os anos 60, 70, 80? Como pôde sobreviver?
A partir daí, enumerava uma série de coisas que existiam..... ou que não existiam e, apenas por obra divina, ainda estamos aqui para verificar.
Alguns exemplos:
- os carros não tinham cintos de segurança, apoios de cabeça, nem air-bag
claro que tudo isso é item de segurança e é bom que hoje exista, mas já vi madame deixar de comprar carro pq não tinha air-bag lateral com enchimento automático por controle remoto...
-as crianças - nós no caso - iam soltas no banco de trás fazendo a maior farra
sabe, a gente fazia uma farra mais organizada, mais responsável e se o pai da gente mandava ficar quieto, a gente ficava.
- as camas de grades e os brinquedos eram multicores e no mínimo pintados com umas tintas duvidosas contendo chumbo ou outro veneno qualquer
lembro que uma grade da cama da minha irmã era pintada de um vermelho que eu insistia em descascar e lascas da tinta entravam debaixo da unha... doía pra caramba... mas não mais do que a chinelada da minha vó pelo buraco que fiz do meu quarto para a parede da sala.
- não havia travas de segurança nas portas dos carros, correntes, medicamentos ou outros detergentes químicos domésticos
minha vó lavava tudo com água sanitária e eu nunca quis tomar aquilo. Daí inventaram um monte de amaciantes, detergentes e outras coisas com cheiro de rosas, de chiclete, de pastel de palmito e ficam preocupados que as crianças de hoje vão querer beber aquilo (alguém lembra do cheiro do Ajax? era fungar e cair duro! não lembro de ninguém que tivesse bebido aquilo)
- a gente andava de bicicleta para lá e para cá, sem capacete
e fazia disputa do maior ralado de joelho.... ganhei um monte - também, meu joelho era maior...
- bebíamos água da torneira ou de uma mangueira ou de uma bica e não águas minerais em garrafas esterilizadas
sobre água sou suspeito para falar... mas quando foi a última vez que você lavou a caixa d'água da sua casa?
- construíamos aqueles famosos carrinhos de rolimã e aqueles que tinham a sorte de morar perto de uma ladeira asfaltada, podiam tentar bater records de velocidade e até verificar no meio do caminho que tinham economizado a sola dos sapatos, que eram usados como freios.
eu era o juiz das corridas... sempre fui muito grande para andar de carrinho de rolimã.... buá...
- íamos brincar na rua
quando chegar em casa, conte para seu filho o que é uma rua... caso lembre de como era uma.
- não havia celulares e nossos pais não sabiam onde estávamos.
ou melhor, a gente pensava que eles não sabiam. Eles sempre souberam de tudo. Hoje, a gente é que é besta e não sabe se o filho foi na esquina se não der um celular para ele.
- tínhamos aulas só de manhã e íamos almoçar em casa.
e hoje precisam colocar mais um ano ou dois no calendário letivo, com aulas integrais para ensinar tudo o que aprendemos, da mesma forma. Tiradentes continua morrendo enforcado em 21 de abril, o mesmo Cabral descobriu o Brasil no dia seguinte e tudo igualzinho.
- gessos, dentes partidos, joelhos ralados e ninguém se queixava disso
queixar? era orgulho.
- comíamos doces à vontade, pão com manteiga, bebidas com açúcar e não se falava de obesidade
mas, peralá.. doce na minha época era doce, não isopor.
- éramos super ativos
hoje criança ativa é problemática, vai para o psicólogo
- dividíamos com nossos amigos um suco comprado naquela vendinha da esquina, gole a gole e nunca ninguém morreu por isso
morria era se não dividisse... morria moído de porrada do resto da turma.
- nada de vídeo-game, satélites, videocassete, dolby surround, computador no quarto, internet, só amigos.
amigos, bem entendido, que a gente via pessoalmente.. não virtuais, por uma webcam.
- tínhamos cachorros em casa e esses comiam a mesma comida que nós, nada de ração e sem problema algum.
hoje, o comercial da ração dá mais fome que o do sanduíche... qualquer dia tomo coragem e experimento.
- e, ainda para o cachorro nada de banho quente ou xampú, banho era no quintal, um segurava e o outro com a mangueira (fria) ia jogando água e esfregando-o com sabão em lavar roupa e o cachorro não morreu por causa disso
os meus, para falar a verdade, até gostavam da hora do banho. Um momento em que eu aproveitava e lavava o quintal todo da casa do meu avô.
- a pé ou de bicicleta, íamos à casa dos nossos amigos, mesmo que morassem a kms de nossa casa, entrávamos sem bater e íamos brincar.
ah, claro, a bicicleta era nossa, não alugada na entrada do parque.
– na escola tinha bons e maus alunos. Uns passavam e outros eram reprovados. Ninguém ia por isso a um psicólogo ou psicoterapeuta. Não havia a superdotados, nem se falava em dislexia, problemas de concentração, hiperatividade. Quem não passava simplesmente repetia de ano e tentava de novo no ano seguinte
hoje, creiam, tem escola em que é proibido repetir o aluno.... sem comentário... traumatiza o asninh....o infante.
- tínhamos liberdade, fracassos, sucessos, deveres e aprendíamos a lidar com cada um deles
hoje tem cuidados, cobrança pela superação, suicídio pelo insucesso e direitos, sem sabermos lidar com nada disso.

Isso e muito mais, terminando com a questão: como a gente conseguiu sobreviver? como conseguimos desenvolver a nossa personalidade?
Não tenho resposta. Tenho são dúvidas de que, se posso hoje dar uma vida mais confortável, com menos privações para meus filhos, eles tem que saber que vale a pena viver e aproveitar cada momento.
Daqui há 20, 30 anos, essas mesmas coisas de hoje, vão ser passado e daí irão perguntar. Como é que você não voavam, não se teleportavam, não iam passar as férias na terceira lua de Saturno, não tinha jaqueta controladora do tempo... vocês não eram felizes, não viviam, não sabiam o que era viver.

Foi como disseram em um filme outro dia: o presente é somente um buraco no futuro, pelo qual escorre o passado.
Fantástico.

terça-feira, junho 27, 2006

Curativos personalizáveis

Irmãos, a salvação, afinal, vos é oferecida.
Acalmai vosso espírito, pois a partir de hoje seus corpos estarão curados... pelo menos os corpos dos norte-americanos, pois é somente lá na terra do Tio Sam que já estão disponíveis para compra os curativos adesivos d..

É menina, curativo adesivo é band-aid, isso mesmo. É que não posso falar band-aid aqui nesse espaço, pq Band - Aid é marca, não produto. Tipo Cotonete, é marca; o produto é haste flexível com ponta de algodão - aliás, ambas da Johnson & Johnson, da minha amiga Lais Mazolla. Entendeu? Posso continuar? Valeu...

Sim, irmãos, adoentados, enfermos e sofredores, já foi lançada a solução definitiva para os problemas do corpo: curativos adesivos com o rosto de Jesus.
A embalagem, com 15 band-ai... ops, curativos adesivos oferta o cuidado "de seus cortes e arranhões com o incrível poder de cura". E como, se não bastasse, vem com um brinde.

Nota do redator: apesar dos intensos esforços da equipe de redação desta crônica, não foi possível descobrir o teor do brinde que vem inserido na embalagem do referido curativo. Apesar de estar impresso na embalagem a palavra "toy" - brinquedo, em inglês, desconfiamos não se tratar de um caso de simples tradução. A equipe compromete-se a continuar com as tentativas de maior compreensão do referido brinde e informar aos leitores assim que descoberto.

Assim que soube da santa notícia fui procurar o santo curativo em uma farmácia, contudo o estoque das boticas brasileiras se limite ao tradicional band-ai... grgrgrgrg, curativo cor de pele (só se for da pelo da mãe do cara que inventou o curativo!), transparente ou estampado com os mais variados personagens de desenhos animados e quadrinhos. Nada de temas sacros, religiosos, santos, divinos ou levemente venerando.

Talvez a indústria esteja perdendo aí uma grande oportunidade de veiculação de marcas. Pensem bem, basta colocar um band-ai....ufa.. um curativo em qualquer lugar levemente visível para que todo mundo repare e lhe pergunte: O que é que foi? Machucou?
Dá até vontade de responder: não, somente quero chamar a atenção.

Mas, se todo mundo pergunta, pq não usar para propaganda? Para veiculação de mensagens de campanhas promocionais ou simplesmente fixação de marca? Nada fixa melhor a marca que algo adesivo (ai,.... essa doeu até em mim... desculpa gente...).

Ia ser um tal de ter garoto propaganda de uma marca somente podendo se machucar se usasse o curativo daquela empresa.

- Mas tá em falta - diz o enfermeiro.
- Não interessa - diz o produtor do atleta ferido - deixa sangrar, mas não me coloca o curativo do concorrente que ele perde o contrato.
- Mas ele está sangrando muito.
- Problema dele. Se morrer o patrocinador paga o enterro, eu não posso é correr o risco dele ser visto com um curativo errado.

E as meninas... ah, as meninas. Vai ser curativo do galã da novela, do vocalista do conjunto... tudo sujinho de sangue.... eca!

Daí surge o mercado de curativos customizáveis.
Coloque a foto de seu filho no curativo e sare mais rápido.
Estampe a foto de sua amante no curativo e use - indicado para ferimentos em locais não visíveis à sua esposa.
Curativo com a foto da sogra - indicado para ferimentos que coçam e você vive tirando a casquinha.
Curativo da ex-esposa - para o ferimento que quando está sarando, vem alguém, bate e ele começa a sangrar - principalmente na região do bolso.

Tudo muito bom, tudo muito bem... mas aquele curativo que foi o motivo da crônica, com toda sinceridade: já não é ir um pouco longe demais?

segunda-feira, junho 26, 2006

Telefone

Um dia, pelo que se sabe, um tal de Graham Bell - um escocês (raça que tem a vantagem de poder tomar whisky nacional em qualquer buteco sem se preocupar com as conseqüências no dia seguinte - ô inveja) que se preocupava em descobrir formas de propagar o som por algum meio físico, inventou o telefone.
Desse dia em diante, até hoje, o restantes da humanidade tem se esforçado para fazer desse instrumento um verdadeiro tormento. E nem estou me referindo aos sistemas de televendas, aos namorados de sua filha, às amigas de sua sogra (alguém pode me dizer qual o motivo que leva uma amiga de sua sogra a te ligar?), à assistência técnica daquele carro que você vendeu há cinco anos e outros. Mas somente, neste caso, aos próprios aparelhos de telefone.
"No sentido de modernizar o sistema de telefonia da empresa e facilitar o seu dia-a-dia, estamos lhe enviando o novo Mega Power Plus Action Voice". A carta que recebi da área de telefonia da empresa começava mais ou menos assim. Vinha acompanhada de dois volumes, um de tamanho médio e outro com razoável porte.
O médio era o telefone. O outro o manual de instruções do aparelho.
A gente começa a desconfiar de alguma coisa quando lê o nome do aparelho. Ou ele não faz um oitavo do que está proposta a fazer ou, a alternativa mais provável, você não vai saber um décimo do que ele te oferece.
Não que, na realidade, algum dia você vá precisar de tudo aquilo. Mas a gente se sente meio imbecil quando tem à nossa disposição uma infinidade de alternativas e não usa.
O dito cujo telefone por exemplo - na verdade um sistema multifuncional avançado de telefonia fixa ampla (entendi tudo, menos o ampla), mas para continuidade literária, vou chamá-lo de telefone mesmo - além das teclas necessárias e de 24 teclinhas transparentes programáveis, coloca inteiramente à minha disposição outras 40 opções de memória e discagem rápida.
Se eu já estava em dúvida se tinha 24 contatos para programar naquelas teclinhas, acabei entrando em profunda depressão quando tive que achar outros 40 números.
Pior foi quando me disseram que os 24 mais os 40 não necessariamente queriam dizer 64 números. Ou seja, a versão avantajada da invenção do tal de Bell que eu tinha ali na minha mesa também desafiava a matemática.
Após algumas horas finalmente descobri que as 24 teclas de programação poderiam ser tanto para memorizar números ou funções como rediscagem e outras coisas igualmente inúteis.... ops, perdão... igualmente fundamentais para a sobrevivência do cotidiano empresarial - era algo assim que estava na carta.
Bem, uma hora eu comecei a programar os telefones de contato. Daí surgiram as dúvidas.
A gente deve programar nas primeiras teclas os telefones pessoais ou os profissionais mais utilizados?
Resposta: como as primeiras teclas ficam mais visíveis que as outras, devemos sempre programas os profissionais mais impactantes, independente do uso. Assim, quem estiver próximo à sua mesa e der uma olhada no aparelho vai morrer de inveja e ver que você tem o número do presidente, do diretor e de outros nomes significativos programados logo nas primeiras teclas.
Problema: quando sua mulher for visitá-lo e ver que o telefone dela está programado na memória 27 e quiser saber, em detalhes, quem são as 26 vagabundas para as quais você liga antes dela, seu cachorro, ingrato....
E assim fui colocando os números... um a um... e programa...confirma.... digita... programa... confirma.... e agora? Memória 32 vai o número do...Ah, do Carlão, claro.
Tudo bem que a última vez que você ligou para o Carlão foi há sete anos, que você não tem a menor idéia se aquele ainda é o número do Carlão, mas a chance de você algum dia chegar na memória 32 do aparelho é igualmente pequena. Então, tudo bem.
Confirma.
E a memória 33? Bem, trinta e três lembra coisa de médico. Ah, o telefone do dentista da sogra. Não, peraí, aí também é fim de carreira. Programar o telefone da sogra ainda é algo perdoável, mas do dentista dela? Também, não vamos baixar o nível. Não tanto.
Em resumo. Das 40 memórias programáveis, até hoje tenho somente 32 colocadas (certo que de úteis mesmo, se der umas 14 é muito). Das 24 teclinhas da frente do aparelho, apenas 12 estão em uso - se bem que tem uma que insiste em piscar... meu amigo Faustino (que coloquei na memória 27) acha que estão me grampeando e diz que devo chamar a telefonia para pedir uma averiguação.
Até liguei, mas eles disseram que para fazer isso teriam que apagar as memórias do aparelho. Daí pensei, o que? e eu teria que reprogramar tudo de novo? nem pensar......
Semana que vem a mesma área de telefonia já mandou cartinha e disse que vai trocar o celular. Segundo eles, o novo aparelho irá facilitar substancialmente os processos de comunicação móvel e blá-blá-blá, por isso colocarão à disposição um aparelho que, além das funções de isso e daquilo terá 102 memórias programáveis de acesso e....
- O que? 102? Alguém aí tem um número para eu programar? Aceito doações....

sexta-feira, junho 23, 2006

Valeu Mug


Algumas na vida da gente fazer esse tempo, normalmente compreendido pelo intervalo entre o dia do nascimento e o dia da morte, valer a pena.
Uma delas é o reconhecimento, a valorização que temos, não por um trabalho, por um momento ou por uma obra - que, claro, também são importantes, mas nada se comparam aos momentos em que o nosso caráter é reconhecido.
Hoje, prezados e estimados leitores, a crônica vai ser uma daquelas que eu não tenho a menor idéia se foi assim mesmo que aconteceu - o que não tem a menor importância. Vale a imaginação, vale o coração de cada um.
Talvez, pela primeira vez durante todo esse tempo, vá utilizar como personagem um amigo e dizer exatamente o nome dele. O nome real, sem Asderbaldo, sem tramóias, mas usar o real e verdadeiro nome pelo qual a pessoa é conhecida, reconhecida e valorizada. Afinal se quero valorizar - ainda mais - o momento, não tenho pq não escrever o nome de Mauro Mug.
Mug é daqueles jornalistas que não existem mais, apesar dele ainda existir.
Mug esteve por mais de 40 anos escrevendo nas páginas do Estadão que, em uma reestruturação, colocou de lado. Os critérios de tal reestruturação não sei e jamais criticaria, mas conhecendo o Mug como conheço diria que alguns dos itens foi a faxina etária, etílica e espacial.
Mug está com sessenta e poucos, mas escreve como um garoto. Texto fluído, fácil, completo, interessante. Coisa que - tirando o meu (hehehehe) é difícil de ver hoje em dia.
Juro que não sei se Mug ainda está tomando todas, mas é um companheiro fantástico para quem gosta de entornar um copo.
Até mesmo pq, a gente que adora virar a garrafa precisa de um gordinho amigo para nos amparar.
Ser assessor de imprensa sem ter o Mug no Estadão para "encher o saco" vai perder muito da graça da profissão. Ele é daqueles que praticava o jornalismo stricto sensu.... que não tenho a menor idéia de qual seja, mas ele honrava (e honra, pois está vivinho da silva e logo logo vai estar enchendo o saco da gente em algum outro lugar... ) o "x" colocado na folha do vestibular.
Não sei qual o Mtb do Mug, mas deve ser com poucos dígitos, até mesmo pq foi ele que batalhou sempre para que o Jornalismo fosse melhor, mais informativo, mais prestador de serviço, mais gostoso para quem escreve, para quem publica e para quem lê.
Ah, o fato que ia contar era que Mug, em seu último dia de Estadão, no último momento, quando desligou o computador pela última vez, quando botou a cadeira pra trás e virou-se para ir embora, deu a deixa para que toda (repito: toda) (enfatizo: toda) (realço: absolutamente toda) a redação de O Estado de S. Paulo, de pé, perfilada, prostrada, emocionada, o aplaudisse.
Somente quem um dia entrou na redação do Estadão consegue imaginar o que estou falando e consegue imaginar o momento. Para quem não sabe, imagine você parado no meio do gramado de um Maracanã lotado, de pé, te aplaudindo e gritando em uníssono seu nome. Vai chegar perto....
A saída de Mug do Estadão tira da pauta diária do jornalismo um ícone, uma alegria, um parceiro da sociedade que se preocupava com ela, com seu bem estar e com o futuro.
Pena que não pude estar ali, de pé, aplaudindo o amigo e o parceiro Mauro Mug. Mas faço agora, de público e me sinto extremamente honrado por ter sido um dos assessores de imprensa para os quais ele ligou não para se despedir, pq isso não será feito, mas para agradecer a parceria.
Quem agradece, Mug, sou eu, somos nós, pois são jornalistas de redação como você que fazem com que nós, jornalistas de assessorias, tenhamos certeza de que somos todos jornalistas, que vivemos da palavra e da informação por ela transmitida, que temos a maior das missões que é fazer as pessoas melhores cidadãos e dos cidadãos melhores pessoas a cada página lida, a cada notícias ouvida, a cada segundo visto, a cada informação transmitida.
Possa o Jornalismo ter sempre seus Mugs, seus Estadões e que possamos nós aplaudir a cada linha escrita.
Valeu Mug.
Clap - Clap - Clap - Clap - Clap - Clap - Clap

quinta-feira, junho 22, 2006

A cor da abóbora

Uma das empresas para as quais tenho maior admiração é a Embrapa. Por algumas vezes tive o prazer de mediar apresentações de representantes desta empresa que é uma referência internacional de profissionalismo e resultados.

Sem a menor intenção de ser puxa-saco, sou obrigado a reconhecer que se não somos o proclamado "celeiro do mundo" que deveríamos e poderíamos ser, não é por culpa da Embrapa e se temos uma mesa farta e variada é sim muito em decorrência de seu trabalho.

Afora o fato de que os caras lá são criativos pra caramba.

Não me lembro se já contei - muito provavelmente sim, mas enquanto a Embrapa não desenvolve um salame que resolva isso.... - mas uma vez estava mediando uma apresentação da área de comunicação da Embrapa e, ao final, mostraram algumas das invenções que estavam já saindo do forno. Uma delas, a melancia sem sementes.

Finda a apresentação, usei a prerrogativa de mediador para realizar uma intervenção e disse que tinha em mãos um manifesto da Associação Brasileira de Cuspe de Semente de Melancia, solicitando a imediata paralisação da referida pesquisa que colocava em risco a existência da classe e o sucesso da 79o Olimpíada Internacional de Cuspe de Caroço de Melancia, na qual o Brasil era campeão invicto nas modalidades Distância, Precisão e Impacto.

Ou seja, ninguém no mundo cuspia uma semente de melancia tão longe, tão certinho e com tanta potência como o brasileiro.

Caso a Embrapa se recusasse a acatar o manifesto, uma comissão da referida Associação, ali presente, iria realizar a etapa classificatória das categorias Precisão e Impacto ali mesmo, em pleno plenário.

E não é que hoje, em pleno dia de jogo da Seleção Brasileira (a de futebol, não de Cuspe), abro o jornal e vejo estampada uma manchete colocando que a Embrapa mais uma vez inova o mercado hortifrutigranjeiro nacional com o lançamento da abóbora brasileirinha - uma variedade que se apresenta perfeitamente dividida entre o verde e o amarelo.

Novamente - apesar de ser obrigado a tirar o chapéu para a empresa - sou obrigado a manifestar-me. Se agora a abóbora é verde e amarela, como é que devemos chamara a cor de abóbora?

Abóbora, a cor, até hoje era aquela cor que tendia ao laranja, a cor, com leves pitadas de vermelho a fim de ficar mais intenso.

Com a invenção da Embrapa, seremos obrigados a trocar todas as referências de cores que temos. O abóbora será, talvez, uma variação do verde, com nuances de amarelo? Será um amarelo, com toques de verde? Será um laranja com tons de verde e pitadas de amarelo?

E se a Embrapa anunciar, em breve, a laranja, a cor, azul e branca - completando o espectro de cores do pendão nacional?

O abóbora, a cor, será não mais um laranja, a cor, com vermelho; mas sim um verde amarelado ou um amarelo esverdeado, com tons de branco azulado ou de azul esbranquiçado? O vermelho dança, então?

A abóbora, a fruta, não mais sendo abóbora, a cor, não poderá mais ser confundida com laranja, a cor, desde que a laranja, a fruta, não mude de cor. Se laranja, a fruta, mudar de cor, laranja, a cor, deverá também mudar. Ou então a Embrapa também pode mudar a laranja, a fruta, para as mesmas cores da abóbora, idem, para que abóbora, a cor, e laranja, idem, sejam novamente semelhantes em si.

Mas, pensando bem, não é a abóbora, a fruta, que tem a cor é parecida com laranja, idem, é a moranga. Vejam bem, não o morango, que é vermelho - a cor que dava, anteriormente, pitacos no abóbora, a cor.

Desta forma, em sendo a moranga abóbora, semelhante a laranja, a abóbora não é abóbora, mas sim outra cor qualquer que está sendo substituída pelo verde e amarelo da Embrapa.

Agora sim, com tudo devidamente esclarecido... vou ver o jogo.... Deus do céu,,.. quanta abobrinha.

Abobrinha, aliás, que já é verde, tal qual agora é a abóbora que era abóbora,... não, abóbora era a moranga....xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

quarta-feira, junho 21, 2006

Inverno


Hoje eu estou feliz por algum motivo: chegou o inverno.
Para mim esta é a melhor estação do ano. O frio deixa as pessoas mais bonitas, mais próximas, mais aconchegantes, menos suadas, menos caídas.
No frio é mais gostoso dormir - ok, é horrível acordar, mas é uma delícia dormir quentinho.
No frio é mais gostoso tomar banho - ok, é horrível sair do banho, mas enquanto estamos debaixo d'água é fantástico.
No frio é mais gostoso comer de tudo o que se quer - ok, sorvete e bom demais e...... peraí, quem é que disse que não dá para tomar sorvete no frio. Eu tomo.
No frio é mais gostoso tomar um vinho - ok, uma cervejinha gelada é bom demais e ........ opa, pq é que não dá para tomar cerveja no frio. Eu tomo.
O problema não é o que dá e o que não dá para fazer no frio. O problema é saber que fim é que levou o frio.
Hoje começou o inverno e nada do bandido chegar.
Muito ao contrário, o tempo está estável, até faz um calorzinho na hora do almoço e tudo isso faz o céu ficar lindamente azul, sem nuvens e com uma baita faixa de poluição no horizonte.
Daí, obviamente, lá vem minha garganta dizer que existe, meu nariz dizer que está pendurado no meio da cara, meus pulmões quererem sair pela boca. É.. tô gripado.
E ainda tem um raio de um médico entrevistado no jornal logo de manhã que me diz que o vírus da gripe veio mais forte esse ano. E qual ano ele veio mais fraco?
E o mesmo especialista me diz que são cinco dias em que nada se pode fazer a não ser tomar um antitérmico para baixar a febre, um xaropinho para minimizar a tosse, umas pastilhas para reduzir o arranhamento da garganta e que, depois do estipulado prazo, tudo vai sarar.
Legal... tudo bem... cinco dias, sendo os dois primeiros mais rígidos e depois um ligeiro mal estar, a gente agüenta.
Ah, mas no final da entrevista ele disse que, findos os cinco dias, o vírus da gripe que se abateu sobre você (quase na verdade abatendo você) não mais lhe causa problemas. Esse vírus, especificamente esse, pq vc pode sim a qualquer momento ser abatido por outro vírus e dá-lhe mais cinco, depois outros cinco.
E assim, de cinco em cinco, você pode ficar o inverno todo gripado.
O que ele não disse é se enquanto um vírus estiver ativo outro pode também se ativar. Daí ocorre uma conjuminância viral e o abatimento é duplo?
Mas ninguém se preocupe, pq findo o inverno, vem a primavera, com as chuvas, com as flores e com a maior umidade do ar vem também outro vírus da gripe, com certeza mais forte e que deve durar mais cinco dias... Essa coisa não tem fim.
Mas não quero aqui falar das doenças (catso, imagina o dia que quiser...), quero falar dos prazeres do frio, da beleza da neve,..,... como? ah, claro aqui no Brasil não tem neve, mas pô cara, põe essa imaginação para trabalhar..... tá bom, vai, forcei a barra. Deixa a neve de lado.
Então, como dizia, quero falar dos prazeres do frio que.... sim senhora? não está frio... é.. realmente, não está. Mas a senhora sabia que tem uma certa corrente que diz que o quente e o frio são muito psicológicos?
Verdade, existem pessoas que pode estar um frio do cão que estão de camiseta. Eu, por exemplo, não consigo dormir com nada pesado me cobrindo.

- Asderbaldo, dá para parar de empurrar o edredon para cima de mim.
- .... que... como...
- Você, Asderbaldo, calorento como é, fica aí se mexendo a noite toda e empurra o edredon para cima de mim.
- E precisa me acordar por causa disso?
- E precisa me entupir de cobertor?
- Tá bom, amor, desculpa. Me dá aqui o cobertor...
- Uai? Agora tá com frio? Primeiro joga tudo em mim, agora quer de volta... vai te entender.
- Não precisa me entender, basta me dar o cobertor que eu volto a dormir e pronto.
- Ai!
- Que foi?
- Que pé gelado é esse, Asderbaldo? Parece um picolé...
- Como pé gelado? Ficou maluca, nem encostei em você.
- Sei lá, você jogou alguma coisa gelada no meu pé.
- Não foi o controle remoto da televisão.
- Gelado desse jeito?
- Sei lá, meu pé é esse aqui ó..... cadê teu pé.
- Tá aqui.
- Onde?
- Onde sempre esteve, debaixo do edredon, com uma meia de ursinho.
- Como é que você conseguiu sentir meu pé gelado debaixo do edredon e com meia de bichinho?
- Não é bichinho, é ursinho.
- Ah.... urso é vegetal.
- Grosso.
- E como é que você sentiu o pé? Fala?
- Pois então o senhor admite que essa pedra de gelo era o seu pé?
- Só quis te fazer um carinho.
- Que amor... vem cá, me aconchega que eu quero dormir.
- Justamente o que eu estava fazendo... Mas agora que a gente acordou.... heim? heim?
- Sai pra lá, Asderbaldo, com esse pé gelado...

É... adoro inverno.

segunda-feira, junho 19, 2006

Com ou sem risadas?


Ah, tinha certeza que hoje você ia escrever sobre o Bussunda.
Mas peraí, gente, não é exatamente sobre o Bussunda - profissional que eu até achava bem competente em seu ramo de atuação. Em termos de humos gosto de tiradas rápidas, tipo sacadinha, que não muita chance de pensar ou responder. Humor não é para pensar, é para fazer rir. A piada pode se excelente, mas se for longa, esquece, perde a graça.
E nisso a turma do Casseta & Planeta é muito boa. Em suas personificações acaba apertando o botão certo do humor com escárnio, de uma forma que se o parodiado se sentir agredido é pq efetivamente lhe serviu a carapuça e, assim sendo, não tem do que reclamar.
Contudo, não quero usar este espaço para falar do Bussunda ou dos Cassetas, mas para concordar com o Emílio Surita (esse mesmo, o do Pânico) em seu excelente texto publicado nesta segunda-feira na Folha de São Paulo.
No artigo... ops, na verdade uma carta endereçada ao Departamento de Vivos e Mortos do Céu, ele dá um verdadeiro esculacho no cara que determinou a passagem do colega humorista. Texto para ser lido, guardado, aplaudido, bem construído e, mais do que tudo, digno.
Pô, nos últimos tempos (pelo menos desde o início desta temporada de crônicas), tivemos a passagem do Arrelia, do Carequinha, do Ronald Golias, do Rogério Cardoso, agora do Bussunda e vai saber de mais quantos que estou esquecendo.
O que é que está acontecendo? É para parar de dar risada? Acabar com a alegria aqui da Terra?
Gostem ou não desses nomes (ou dos que esqueci), tal qual eu mesmo não era exatamente fã de alguns, os caras tinha um trabalho incrível para tentar - nem que fosse tentar - dar alguns minutos de desestressamento para o povo.
Gostem ou não desses nomes (e dos que esqueci), esses profissionais dedicaram suas vidas a mostrar um outro lado que, real ou ficção, era construído para cada um de nós.
Gostem ou não desses nomes (além dos que esqueci), esses artistas se juntam a tantos outros que, quando se foram, não tiveram seus trabalhos apagados. Apenas nos deixaram com saudade de uma época que podíamos dar mais risadas.
Com certeza, conforme escreveu Emílio Surita na Folha de S. Paulo de hoje, tinha gente que merecia ter ido antes.
Opa, dirão alguns, peralá, não dá para discutir isso.
Concordo, direi, não dá para discutir, mas dá para não entender.
Minha avó dizia que a morte não torna ninguém santo. Sábia, muito sábia. Disse isso quando viu o enterro de um cara que (permitam-me não citar quem) pintou e bordou em vida e ao descer do esquife ao túmulo, diziam que ia-se lá um exemplo de ser humano, marido amoroso, pai amantíssimo e amigo fiel. Lembro que ela olhou de lado e perguntou-me: confere aí se a gente está no enterro certo, acho que erramos de defunto.
Agora, não me venham querer dar uma de puritanos. Quem é que nunca soube de uma boa pessoa que passou desta para melhor e não pensou: e tem tanto bandido solto por aí.
Mas, voltando à minha sábia avó, que das coisas nada sabia, mas da vida tudo entendia - principalmente de como driblar uma dificuldade e de como transformar absolutamente qualquer gororoba que se colocasse no forno e no fogão em uma delícia de lamber os beiços - quem é que disse que a morte é punição para alguém? Morte, muitas vezes é reconhecimento, é mérito, é prêmio; principalmente se for calma, se for sem dor, se for para acabar com uma dor.
Problema na verdade tem quem fica, não quem vai. Mesmo aos que chegarem lá - seja esse lá o que e onde for - e tiverem que, na prestação de contas, constatar que ficaram devendo, poderá ser dada uma nova chance.
Tinha uma outra frase, desta vez da filha da minha avó - também chamada de minha mãe - que era mais ou menos assim: aqui se faz, aqui se paga... e torça sempre para conseguir pagar aqui, pq se sobrar algo para pagar do outro lado, nunca se sabe em qual moeda vão lhe cobrar o saldo devedor.
E, completando a carta do Emílio, da Folha de S. Paulo de hoje, já que vamos ter que nos esforçar para pagar aqui o que aqui fizemos, dá para deixar pelo menos alguns humoristas para a gente dar uma risadinha de vez em quando ou vai ter que ser a seco mesmo?

quarta-feira, junho 14, 2006

Máquina de Lavar


- Não aperta muito, Asderbaldo.
- Num tô apertando.
- Você com esse seu jeitinho delicado..... mais parece um rinoceronte desvairado, vai acabar quebrando.
- Quem foi que comprou essa piroca? Não fui eu? Se eu quebrar compro outra, tá legal.
- Fácil falar né... depois fica aí reclamando que não tem dinheiro para nada.
- Amor, para de reclamar e olha no manual se a rosca é essa mesmo... não tá querendo encaixar...
- Pq é que todo homem tem mania de se meter a besta e começa a fazer as coisas sem ler o manual de instruções? Não dói não viu.
- Carambola........ num encaixa....
- Já tentou do outro lado?
- Tá escrito no manual que é desse ou do outro lado?
- Pq é que vc não leu antes?
- Pq eu fui até a loja, comprei essa porcaria de máquina de lavar roupas, paguei, te dei de presente, tô aqui instalando e tudo o que estou pedindo é que você veja no manual se a rosca desse cano é aqui mesmo que encaixa. Pode ser?
- Quantos buracos tem aí atrás?
- Um monte.
- E como é que você sabe que é nesse?
- Deve ser. É o único rosqueado.
- Então se é o único, pra que é que vou procurar no manual?
- Pq não está querendo encaixar. Dói olhar o manual?
- Nem um pouco. Por isso é que você deveria ter feito isso antes de se meter a besta e fazer uma coisa que você não sabe.
- Como eu não sei instalar uma máquina de lavar roupas? É a coisa mais simples do mundo. Qualquer imbecil consegue.
- Você não está conseguindo.
- E você não está ajudando.... tá bom... não quer ajudar, não ajuda. Deixa que eu vou conseguir rosquear essa porcaria......
- Não aperta muito, Asderbaldo. Vai quebrar.
- Olha, aqui não é questão de força, é jeito.
- Tudo o que você não tem.
- Chega... vou deixar essa rosca pra depois. Você quer o cano de saída no tanque ou no buraco da parede.
- Em qual fica melhor?
- Você não consegue tomar uma decisão?
- Só perguntei a tua opinião, não precisa ser grosso.
- Não sou grosso. Sabe quantas vezes na vida eu vou olhar para essa máquina? Duas. Uma foi na loja e outra está sendo agora. Nunca mais vou passar nem perto dela. Se o raio do cano for para um lado ou para outro para mim não faz a menor diferença, por isso me fala: tanque ou buraco?
- Tanque.
- Legal. Vou pegar o adaptador e colocar o cano do lado do tanque e ...
- Ah não, essa coisa horrível aí não vai ficar espetada do lado do tanque. Qualquer um que entrar aqui vai ver.
- Quem é que vai entrar na área de serviço?
- Ah não. Dá um jeito de não ficar esse treco aí.
- Não tem como. Sem o adaptador o cano vai escorregar toda hora. Só se for no buraco da parede, aí não precisa. Pode ser?
- Pode.
- Então tá. Deixa eu colocar a máquina um pouquinho mais para trás e....
- Tá muito no fundo.
- Mas se não for pra trás o cano não alcança o buraco.
- Asderbaldo, a máquina não pode ficar debaixo do aquecedor.
- Pq não?
- Sei lá. Acho que não pode.
- Pois tô falando que pode, não tem problema.
- Não gosto.
- Você já se arrependeu de alguma coisa na vida?
- E se você tirar esse armário?
- E colocar aonde? Em cima da cama?
- Não, seu grosso. Se empurrar o armário para o lado do aquecedor, a máquina fica aqui e o cano chega no buraco.
- .... hummm....
- Mais um pouco.
- ... aaaaaaahummm...
- Não raspa no chão!
- aaaaeeeee....
- Foi muito. Volta.
- ...uuuu...
- Cuidado com o chão!
- .....hummmmeeee...
- Aí. Mais um tiquinho pra frente.
- .i.
- Aí.
- Aqui tá bom?
- Ótimo.
- Maravilha. Vamos ver o cano..... perfeito. Encaixou otimamente no buraco.... Vamos ver essa mangueirinha safada agora.
- Não aperta muito, heim Asderbaldo.
- Nem tô apertando, amor. Calma que vou dar um jeito. Você viu no manual?
- Não.
- Se não for pedir muito.
- Não é, eu olho.
- Muito gentil.
- Você viu que ela tem um regulagem especial para roupas delicadas?
- Que coisa!
- Olha... tá dizendo aqui para não colocar muito amaciante, principalmente quando estiver com o nível de água baixo.
- E eu com isso?
- Estou só comentando, seu grosso.
- Sobre a rosquinha....
- Ainda não cheguei lá.
- Como não? Se já está até sabendo quanto de amaciante vai na lavagem de roupas delicadas, deve já ter ligado a máquina. Está antes.
- Falou o expert em manuais de instrução de máquinas de lavar roupa. Nunca leu um manual na vida e fica dando uma de entendido.
- Pode deixar. Já consegui. Encaixou a rosquinha.
- Verdade, que lindo! Você é um gênio. Sabe que adorei o presente.
- Você merece.
- Eu mereço uma máquina de lavar roupas? Pôxa, isso é que é querer a mulher na cozinha mesmo.
- Que cozinha?
- Modo de falar, seu insensível.
- Mas você não disse que tinha adorado o presente?
- E adorei, você sabe que estava querendo essa máquina há um tempão.
- Pois aí está. É tua. Pode ligar.
- Você não quer que eu lave roupa de domingo a tarde, quer?
- Liga essa piroca para ver se funciona.
- Não precisa gritar. Que coisa, homem mais sem paciência!
- É aquele botão ali ó, basta girar para...
- Você leu o manual?
- Não.
- Eu estava lendo, tá. Pode deixar que sei.
- A vontade.
- Olha que liiiiiiiiiiiinda! Como vai ser o nome?
- Que nome?
- Nome da nova moradora da casa! Ela tem cara de.....
- Você não vai dar nome para a máquina de lavar roupas.... Ela vai.
- Pra que é que será que serve esse botão?
- Uai, não foi você que leu o manual?
- Não li todo, só a parte que precisava.
- Menos a da rosquinha que eu pedi, né?
- Ficou maravilhosa. Sabe que te adoro?
- Eu também. E essa tranqueira velha, vamos jogar escada abaixo?
- Tranqueira velha? A máquina de lavar que minha mãe deu pra gente você chama de tranqueira velha.
- Não... imagina... é novinha.
- Pois saiba que minha mãe comprou essa máquina logo depois que casou com meu pai e ela funciona perfeitamente até hoje.
- Se ela funciona tão bem, pq é que você me encheu os pacová para comprar essa coisa nova?
- Pq ela é linda. Você é um amor.
- E a tranqueira velha? Podia voltar para tua mãe. Elas devem se entender bem.
- Como você é sem graça.

Duas semanas depois, a máquina antiga continua a entupir a área de serviço e ela já disse duas vezes que o armário ficava melhor no lugar anterior. Mas a rosquinha ficou certinha!

terça-feira, junho 13, 2006

Brasil x _____ - vcs vão ter que ler...


Faltou essa na Copa do Mundo.
Não sei se todos os estimados leitores tem o hábito extremamente saudável de olhar, vez por outra, o atlas geográfico. Lembram? É aquele livrão que a gente tinha que comprar todos os anos quando estávamos na escola (quem tem filhos sabe que, por mais que se queira, todo ano exigem um novo - também, é um tal de mudar o nome do país, separa esse ou aquele pedaço, muda a capital, ô gentinha que num sossega o facho....).

Pois saibam que ao observar os mapas, coisas maravilhosas podem ser encontradas.
Admito que até a presente data nunca tinha parado mais do que alguns parcos segundos sobre o mapa detalhado da Ilha de São Miguel, no arquipélago dos Açores.
Em verdade sou obrigado a dizer que se perguntassem algum detalhe sobre tal localidade, a resposta seria um sonoro: não.
Por exemplo, não sei a moeda corrente dos Açores; não sei o código do DDI para lá; não sei a língua nativa; desconheço a religião praticada; não tenho a menor idéia do prato típico; ignoro as cores da bandeira; não sei detalhes do clima; desconheço características da fauna e da floro; sei lá qual a dança típica e, por fim, não sei qual o placar do último jogo da seleção local - apenas para não perder o espírito da copa...
Mas uma coisa sei de lá, algo que somente pude saber olhando o mapa.... se alguém perguntar que raio estava eu fazendo olhando mapa da Ilha de São Miguel, juro que xingo..., entendido?
Pois saibam, incautos leitores que é lá, não em nenhum outro lugar, mas lá e somente lá que, bem ao lado de Paupique e Selada, não muito distante Arrasto, na formosa Serra da Tronqueira, fica de forma oficial e formal o lugar que todos - menos os que lá habitam - não existia.
É lá que está, para quem quiser ver e conhecer o próspero e progressista município de Cu de Judas. Obviamente, igual a muito dessa esplendorosa terra, ignoro se seja efetivamente um município, um vilarejo, uma província ou algum outro conglomerado, mas que está lá... isso está.
O problema de saber que algum lugar existe é que imediatamente nos vem à mente uma pergunta. Como será que denomina-se os nascidos em Cu de Judas.... prefiro encerrara a crônica, esperando que na próxima copa, tal localidade tenha se emancipado e possamos desfrutar do clássico Brasil x Cu de Judas.
um último adendo: se os locutores esportivos ficaram sem graça cada vez que o goleiro da seleção de Costa Rica pegava na bola, só pq o coitado se chama José Porras... imagine a transmissão desse jogão de bola!!

segunda-feira, junho 12, 2006

Dom Quixote em Quéchua


Para quem acha que eu só vou atrás de coisas inusitadas em sites de comunicação, a extraordinária notícia de hoje eu achei no igualmente obrigatório Valor Econômico (bem entendido, obrigatório como todos os outros jornais, revistas, emissoras de tv, de rádio e sites.... pq informação, conhecimento e cultura, é sempre obrigatório, é sempre muito bom, muito edificante).

Caso você tenha olhado sua biblioteca recentemente e achado falta de uma obra, sinta-se feliz, pois acaba de chegar às livrarias a obra máxima de Miguel de Cervantes, Dom Quixote, traduzida fielmente do original em espanhol para o quéchua.

Como? O que é quéchua? Como assim? Não acredito que você, justamente você não saiba o que é o idioma falado por mais de 20 milhões de pessoas em todo o mundo? Quéchua, meu caro, é o idioma falado pelos antigos incas.

Este cronista (e todos os que leram a edição de hoje do Valor), teve acesso à frase de abertura do livro. Nas edições escritas em português é assim: "Num lugar da Mancha de cujo nome não quero recordar-me".
Esta maravilha literária, em quéchua ficou assim: "Huh K'iti Mancha Suqupi Chaypa sutinta mana yuyanyta Munanichu".
Não é maravilhoso? (se vocês tivessem idéia de como foi difícil copiar isso do jornal....).

Agora, falando sério. A iniciativa não merecia uma nota em um caderno interno do Valor (que está de parabéns por tê-la informado), mas sim capa das revistas semanais, matéria de fechamento dos telejornais, sei lá, o que de mais nobre e importante existir no jornalismo.
Não pela valorização da cultura, não pelo resgate de um idioma, não por nada a não ser o fato de que é preciso, seja como for, em espanhol, português, quéchua, tupi-guarani... é preciso fazer o povo ler - e nada melhor do que um texto magnífico como Dom Quixote para ser lido.

Não foi Dom Quixote que ganhou uma versão em quéchua, foi mais uma chance que foi dada à humanidade de ser melhor, de ser mais unida, de ser mais humana.
Já imaginaram poder sentar com um inca e rir das agruras do Fidalgo De La Mancha, do amante de Dulcinéia, do dono de Roscinante, do mestre de Sancho Pança, do louco defensor da verdade, da honra e da galhardia.... quem sabe, ao ler o livro, o inca tenha a chance de entender - se é que dá para entender - o que lhe foi feito por um conterrâneo de Quixote (cujo nome verdadeiro, seja em espanhol, português ou quéchua, era Alonso Quijano), um tal de Cortez.

sexta-feira, junho 09, 2006

Pra que lado eu vou?


- Moço.... ô moço.
- Sinhô
- Por favor, o senhor tem idéia de como é que eu faço para chegar na Estrada da Roseira?
- Xi, moço, tá longe.

Era tudo o que eu queria ouvir. Na verdade não era, mas depois de 40 minutos rodando numa estradeca de terra completamente perdido, ouvindo minha mulher do lado dizendo que o caminho estava errado, que era melhor voltar, que eu tinha entrado na segunda saída e ela tinha dito que era na terceira....
Ela até que dirige bem - quando consegue colocar as duas mãos no volante. O maior problema é conseguir dirigir, passar batom, lápis de olho e buzinar ao mesmo tempo. Dessas quatro opções, logicamente, a menos importante é a primeira: dirigir.

Mas também não é isso que me incomoda. Afinal de contas eu já bati o carro mais vezes que ela, o que para a seguradora é um indicativo de que ela dirige melhor do que eu - aposto que o corretor nunca foi com ela até a esquina, mas como o que vale é a estatística.
O que verdadeiramente me incomoda é quando ela está no banco do passageiros. Ah, nessas horas, a alternativa dirigir é substituída por outras oito ações e a alternativa buzinar continua válida - digam tem coisa pior do que vc estar dirigindo e um imbecil te dar uma fechada, você se virar para não bater o carro em uma manobra de mestre e de repente, vinda não sei de onde, com a rapidez de um raio, surgir um braço no meio do teu colo e tacar a mão na buzina.
Sério gente, você ali se virando para desviar do carro, não bater no caminhão do lado, não brecar para não levar uma chapoletada do carro de trás e não fazer as crianças no banco de trás parecerem um saco de batatas jogadas de um lado para o outro, quando vem a mão e táááááááááááááááá, dispara a tua buzina? O pior é o motorista do caminhão, que viu tudo, que até estava do teu lado, achar que a buzinada é para ele e soltar aquele palavrão cabeludo e você ser obrigado a olhar para ele com cara de pastel.
- É.... ela que fez...
- Te arrebento a cara, ô maluco. Tá querendo levar umas bolacha no meio da fuça?
- Desculpa.
- E você ainda pede desculpas, Asderbaldo? Seja homem.
- Dá pra ficar quieta no teu banco, olha ao zorra que você aprontou.
- Eu? Você que é um pamonha... nem pra buzinar serve.
- Se eu buzinasse tinha batido o carro! Ou buzinava ou desviada do cretino que me deu uma fechada. Qual você achou a melhor?
- Hã....
- E aí ô da buzina? Vai querer encarar?

Mas, como dizia, o que verdadeiramente me incomoda é quando ela está quieta e a gente indo calmamente para algum lugar. De repente, vai saber pq, solta um berro histérico:
- Entra aqui.
Você, ou melhor, eu, que dirigia calmo, ouve um negócio desses e não tem outra alternativa. Entra.
- Ah, não era na entrada seguinte.
E volta a ficar com a mesma cara que estava antes de fazer a ..... a...., é, antes de fazer o que fez.
Obviamente, uma vez que você entrou sa saída que a........., ufa.... que ela te indicou, o próximo retorno fica há.... há... bem, não há retorno. Agora você tem que seguir por esse caminho que vai dar sabe-se lá aonde.
- Era só dar uma rézinha e voltava para a estrada principal.... não foi pq não quis.
- Como dar uma rezinha? No meio do cruzamento? Tá maluca?
- Hã.... se tivesse deixado eu dirigir...
- Mas não deixei. Quem está dirigindo sou eu.
- Então pq não faz o caminho que sabe? Ninguém mandou entrar na saída errada.
- Você deu um berro na minha orelha. Entra aqui. E eu entrei.
- Pq quis.
- Pq você berrou.
- Não grita comigo!
- Não estou gritando. Estou dizendo que você é quem berrou para entrar na saída errada e....
- Olha. Ou você dirige ou vai entrar de novo na saída errada. Melhor prestar atenção na estrada.
- Tem horas que acho que é de propósito.
- O que? Você pegar a estrada errada?

Mas, retomando o momento do início da crônica.
- Longe quanto?
- Óia, moço... bem longinho.
- Sabe o que é moço... ele entrou na saída errada da estrada e agora está perdido.
- Dá pra parar?
- Mas entrou mesmo.
- Vou ter que repetir a história do berro?
- Pronto, vai começar a reclamar.
- Eu não reclamo. Você berra na orelha para entra e agora eu é que reclamo.
- Asderbaldo.
- Que é?
- O moço.
- Que moço?
- Aí, fora, o moço que tá olhando para essa tua cara de pastel.
- Ah, desculpa... é, o senhor disse que é onde mesmo a Estrada da Roseira?
- Falei não sinhô. Só disse que tá longe.
- E, por obséquio, o senhor sabe, pelo menos, qual o melhor caminho para se chegar na Estrada da Roseira?
- Não seja cínico com o moço que ele só está querendo ajudar.
- O melhó caminho é entrá na saída do bar do Tião e i até cruzá com o caminho dos tropêros.
- Meu amigo, eu não conheço absolutamente nada aqui na região.
- Si mi sigui eu tô indo pro bar do Tião e o sinhô pode vir atrás.

Apenas um pequeno, quase desnecessário detalhe que vou contar aos leitores: o moço estava a pé.

- Dá uma carona pro moço Asderbaldo.
- A gente nem conhece o figura.
- Vai querer ir atrás dele?
- Aceito a carona, si o sinhô num simportá.

Em resumo. O raio do Bar do Tião ficava a menos de cinco minutos naquela mesma estrada. Pura linha reta. Nem que eu quisesse não tinha como errar.
Paramos e o moço desceu.
- Agora é só virá aqui e i até o caminho dos trôpero.
- E a Estrada da Roseira?
- Fica logo depois, no caminho dos trôpero o sinhô entra às direita que num tem como erra.
- Obrigado então, heim.

- Você devia ter pelo menos pagado um cafezinho para o moço, Asderbaldo. Ele foi tão gentil.
- Gentil o que... foi uma besta. Se tivesse dito que era só ir reto, virar no bar e a direita na tal estrada dos tropeiros...
- Caminho dos tropeiros, Asderbaldo. Depois entra errado e fala que a culpa é minha.
- Não vou discutir.
- Mas está.

Para encurtar. Nos perdemos. Nunca achei o tal caminho dos tropeiros. Acabamos caindo numa estrada que nos levou de volta para a primeira estrada que estávamos (aquela, antes do berro Entra aqui!!!!!) e horas depois chegamos no hotel da Estrada da Roseira.
Na entrada, pasmo, dou de cara com o rapaz que deixei no Bar do Tião.
- Como é que você chegou aqui?
- Lá do bar do Tião.
- Mas era do outro lado do mundo!
- Do ponto in qui o sinhô me perguntô era. Do bar do Tião é um tirinho dispingarda. Só anda in frente mais um tantinho.
- Em frente?
- É, sai quasi aqui.
- E pq você me disse para entrar na saída e ir até a estrada dos tropeiros que nunca chegou?
- Caminho dos tropeiros, Asderbaldo, caminho.
- Hoje eu .....
- O moço, Asderbaldo.
- Que moço?... Ah, o moço....
- O sinhô perguntô o melhor caminho. Era aqueli mesmo. Tinha o indo in frente, até é mais curtinho, mas uma buraquêra só. Si o sinhô já tava perdido ali, cum us buraco intão...

Na hora lembrei da minha aula de Gestão do Conhecimento..... eu pedi para o moço uma informação.... se tivesse pedido o seu conhecimento....

quinta-feira, junho 08, 2006

Lá vem a Copa - Lá foi Fiori

Caros leitores. Amanhã começa a Copa do Mundo da Alemanha.
Vamos torcer pelo Brasil.

Pronto, já atendidos a todos os milhares de pedidos recebidos para que fosse feita uma crônica sobre a Copa do Mundo posso partir para o texto de hoje.
Não sei em que linha do Código do Consumidor está escrito que ele pode ser chato, pedir o que quiser.... ô saco.
Qualquer dia vou precisar ter SAC para a crônica, Central de Atendimento, Ouvidoria.... alguém aí quer nota fiscal?

Mas a Copa do Mundo vai mesmo começar e, independente dos pedidos, vou mesmo torcer pelo Brasil. Não pq seja exemplo de patriotismo, mas pq é uma delícia curtir os amigos: esse vai ser o grande barato da Copa, a aproximação das pessoas por um ideal comum.
Se fosse sempre assim, com absoluta certeza marcaríamos mais gols nas jogadas de nossas vidas.

Ontem li um texto fantástico do excelente Zuenir Ventura, no qual ele falava da surpresa dos amigos (dele) pelo fato dele não ter ido à Alemanha. Parece que só por ser jornalista e ter um ínfimo triz (fazia tempo que eu não escrevia triz, ainda mais um ínfimo triz) de reconhecimento que tem que ir. Caso contrário lá vem aquele ar de escárnio:
- Xi, o Licôncio não foi pra Copa, com certeza deve estar mal lá na redação.
- Mal? Ouvi dizer que só está empregado pq os bons estão na Alemanha. Acabou a Copa, acabou para ele.
Gente, alguém tem que ficar aqui na terra brasilis - nem que seja para ler a cobertura da Copa nos jornais e tvs e rádios e sites dos caras que foram pra lá.... (ô inveja.....)

Mas a Copa começa mal. Ou melhor, começa triste.
Não pelas bolhas ou trolhas, mas pela perda do ícone do jornalismo esportivo Fiori Gigliotti.
Depois de gerações abrindo as cortinas do espetáculo, chegou ironicamente na véspera da Copa o crepúsculo de seu jogo.
Acho que nem que seja por uma justa, merecida e devida homenagem a tudo o que o Fiori fez pelo futebol, pela comunicação esportiva, pela divulgação do rádio, pela alegria desse povo, a seleção tinha que trazer o título.
E mais, na hora de levantar o caneco (que não é caneco, mas tá valendo...), o capitão Cafu ou o jogador que estiver com a braçadeira no jogo final pode falar o que quiser, o que lhe vier à telha, mas um Valeu Fiori ia cair bem.
Caso ele se esqueça.... sabe como é, a emoção do momento, a dor do chute na canela, o flash das câmera... eu ajudo: Valeu Fiori.
Sérgio Lapastina está em http://slapastina.blogspot.com/

Depois do 6/6/6

Muita gente reclamou que ontem foi dia 6/6/6 e eu não escrevi uma crônica sobre o fato.
Para começo de conversa uma das grandes armas dos cronistas é tentar surpreender seu público: toda vez que ele tem certeza que o tema da crônica vai ser um, é outro.
O problema dessa "tática" é conseguir surpreender, sem frustrar.
É muito legal ouvir: Pôxa! E eu pensei que ele fosse escrever sobre aquilo.
Mas é péssimo ouvir: Pôxa... e eu pensei que ele fosse escrever sobre aquilo...

E outra coisa. Quando todo mundo escreve sobre um determinado tema - o famoso: tema do dia - ou você tem algo muito interessante, muito bom, diferente e forte para contar... ou deixa quem tem. Ser mais um é coisa que não vale a pena nessas horas.

Justamente por isso, como ontem - pelo menos na parte da manhã - ouvi um montão de gente falar que era o dia do Apocalipse, que ia acontecer isso, que ia acontecer aquilo, que não ia acontecer nada - e os motivos pelos quais não ia acontecer absolutamente nada eram tão ou até mais variados e criativos do que os motivos pelos quais iria acontecer alguma coisa.

Se aconteceu ou não, efetivamente não sei, não percebi - veja bem, não estou dizendo que não aconteceu, só que não sei que aconteceu, se é que aconteceu... depois ficam falando bobagem...
Mas é muito legal ver hoje, em quantidade infinitamente menor, ouvir as explicações dos que apostaram no "sim" explicando pq "não".

É como dizia o profeta Jezebedeão, profecia é algo que vai acontecer, mas se acontecer vira realidade, daí deixa de ser profecia e como sou profeta, se as coisas começarem a acontecer perco meu emprego.
Se você pensar nessa afirmação ou começa a ver alguma lógica nela ou fica maluco como o Jezebedeão e sai falando essas bobagens por aí.

E assim, desta forma, como os caros leitores puderam perceber nessas linhas eu efetivamente não tinha, assim como não tenho absolutamente nada para falar sobre o dia 6/6/6, mas como não podia deixar passar outro dia sem tocar no assunto que foi pedido e sentida a falta pela clientela...
A única coisa que poderia dizer é que enquanto os "entendidos de plantão" ficavam tentando explicar que o 6/6/6 não era o 666 do Apocalipse, pq 6 + 6 + (2+0+0+6) era igual a 6 + 6 + 8, ou seja, 668 e não 666, ou qualquer outra explicação, em minha humilde, particular e absolutamente nada importante opinião, a coisa é a seguinte:
- revelações são revelações, se fossem enigmas seriam completamente diferentes. enquanto todo mundo fica tentando decifrar o que raio significa o número 666 e não chegam a conclusão sensata nenhuma, o 666 está ou vai estar aí para todos verem e é ou será o 666 mesmo, sem necessidade alguma de fórmulas, decifrações ou entendimentos... pena que quando descobrirem que o 666 é o 666, talvez seja tarde demais para qualquer ação.

Entenderam? Não, pois, repetindo a mim mesmo: se você pensar nessa afirmação ou começa a ver alguma lógica nela ou fica maluco como o Jezebedeão.... ops, como este escritor, e sai falando essas bobagens por aí.

terça-feira, junho 06, 2006

Tesoura para cartão de crédito


Da série: tudo nessa vida tem solução.

De acordo com as últimas pesquisas do Instituto Nacional de Bancos de Praça do Brasil, mais de 90% da população brasileira trabalha com cartões de crédito - talvez um pouco menos, pois a margem de erro da pesquisa é de - que coincidência! - 90%.
Seja como for, todo mundo que tem algum cartão de crédito tem um problema - dois, na verdade, se for levado em consideração o fato de ter que dinheiro na conta para pagar a fatura mensal: o cartão é trocado periodicamente e a operadora orienta à destruição do antigo.
Daí a gente nunca sabe se quebra, pica, queima, joga pela privada ou simplesmente dá para o filho brincar já que, em teoria, aquele pedaço de plástico, a partir daquele momento, não vale mais nada.
Mas, justamente pensando na comodidade dos clientes, um inventor cuja nacionalidade não foi divulgada por motivos de segurança (dele), colocou no mercado uma tesoura especial para cortar cartões de plástico.
A lâmina do instrumento tem a grossura de cinco lâminas de uma tesoura normal, porém a empunhadura (fala a verdade, você nunca se tocou que empunhava uma tesoura!) é normal como qualquer outra.
A tal tesoura, segundo o inventor tem não somente a grossura de cinco lâminas como também tem a força de corte de cinco tesouras. Ainda conforme as declarações do idealizador do fundamental instrumento, o corte dos cartões de plástico será uma ação muito mais simples do que já é, podendo ser realizada por qualquer pessoa normal com a mesma eficiência que seria por um especialista no assunto.
É nessas horas que não sei se devo incluir no meu currículo que sou um especialista em corte de cartões de plástico ou peço essa qualificação para minha secretária.
E você, sua esposa ou seu marido são bons em cortar cartão? Se não forem, assim que a tesoura estiver disponível você pode até mesmo evitar um divórcio.
Só quero saber quando é que vão inventar uma forma de não usar tanto o cartão... mas isso fica para a crônica de amanhã.

segunda-feira, junho 05, 2006

Leis

Já falaram que leis existem para serem cumpridas, não questionadas. Ok, concordo, nem poderia ser diferente, mas tenho um ponto de vista que debato com alguns amigos meus advogados - olha gente, por favor, não contem para ninguém, sabe como é... reputação... se espalhar por aí que tenho amigos advogados tô perdido.... não queria que ninguém soubesse, tá? obrigado!
Lei não pode ser branda, sob risco de não estabelecer limites. Infelizmente o bom senso humano não é confiável e, pior que isso, é variável. O que é uma coisa completamente lógica, dentro do melhor senso, factível, cabível, normal para mim, pode e deve ser completamente ilógica, sem nexo, impossível, irresponsável, irreal para você e com absoluta certeza para mais um monte de gente. E vice-versa.
Se a lei for inferior à realidade, diferente do idílio imaginado pelos loucos, estabelece-se o caos provocado pelos insanos.
Lei não pode ser mutiladora, no sentido de ser "mais realista que o rei". Uma lei que estabece exigências absurdas, comprovações e atos impraticáveis pelo limite da capacidade humana ou tecnológica, estão fadadas ao descumprimento.
São leis que estimulam a ilegalidade. Afinal de contas, já que é completamente impossível de serem cumpridas, nem nos preocupemos com elas e vamos à gandaia.
Ou seja, se a lei for extremamente superior à realidade, diferente da perfeição imaginada pelos ideólogos, estabelece-se o caos provocado pelos que tem que viver.
Por isso que as leis devem ser algo que esteja um degrau acima da realidade, apenas e tão somente um degrau e os seus criadores, os doutos que estabelecem os tais limites legais, devem cuidar para que a sociedade (nós, pobres mortais) tenham condições de dar o passo a esse novo patamar.
Lei tem que ser incentivadora, sempre. Tem que mostrar um mundo melhor, uma possibilidade que basta trabalho, investimento (até pessoal), que basta acreditar para se chegar lá.
Lei tem que ser justa para reconhecer os que tentaram e buscar dar condições para que todos aproveitem o caminho descoberto. Não deve, jamais, desanimar. Puna-se aos que desistiram, aos que transgrediram, aos que burlaram, aos que não deram as mãos. Laureie-se os que derrubaram muros, abriram portas, construíram pontes e incentivaram os que, seja por qual motivo for, ficaram atrás.
E quando a sociedade estiver no degrau estabelecido pela lei, que ela seja mudada, que ela seja a locomotiva do desenvolvimento para somente, apenas mais um degrau acima.
Ela assim será, novamente, incentivadora, motivadora, desafiadora.
Ah, dirão então alguns, mas de degrau em degrau a sociedade levará anos para chegar ao topo da escada e ser justa.
A estes duas perguntas:
Quem disse, em primeiro lugar, que esta escada tem topo. Vejam as crianças que fomos, quais eram nossos topos, nossos limites? E as de hoje, terão estas os mesmos limites ou seu topo é infinitamente mais alto que qualquer dia imaginamos ser até mesmo possível existir.
As leis que nos regeram devem ser as mesmas que as regem?
E, em seguida, por favor, me digam: quem vos disse que para ser justa a sociedade tem que chegar no tal topo da escada. Se for verdade, sinto muito, não estou a fim de esperar tanto, prefiro acreditar que a justiça esteja em cada degrau, em cada passo.
É como dizia minha mãe: não sei se existe vida após a morte, mas acredito que haja. Se não tiver, para que se preocupar, para que fazer o bem, para que buscar a justiça e chorar a injustiça. Se for só isso, para que acreditar na justiça.
Acho que quando ela chegou lá, seja esse lá aonde quer que seja, ela teve sua resposta.... ou melhor, a confirmação da resposta que já sabia ser a correta.

sexta-feira, junho 02, 2006

Viver em condomínio - 3


e fechando...

Não, por mais que eu insistisse, implorasse até, meu chefe não liberou outra tarde. Ou seja, não ia dar para terminar os retoques finas da obra - afinal de contas, o inteligentíssimo regimento interno do meu condomínio diz que se não houver alguém acompanhando, os trabalhadores não podem entrar, lembram?
Já estava à beira de um ato tresloucado, quando minha mulher me liga.
- Oi amor? Tudo bem?
- Médio, né. Pensei que ia poder acompanhar os caras lá em casa hoje, mas não teve como... o carrasco aqui não liberou e..
- Ah, mas nem precisa. Eles já estão lá.
- Como, estão lá? Não deixam entrar sem acompanhante... era o que faltava... agora ainda vou ter pagar a diária deles.
- Dã... você que eu sou o que?
- (sussuro) Qualquer dia eu falo.
- Que foi?
- Nada amor.... fala.
- Tá. Eles estão lá em casa e, até onde sei, está tudo indo às mil maravilhas.
- Mas como, sozinhos?
- Asderbaldo, eles estão com a mais rigorosa das atenções. Mamãe tá lá com eles.

Tinha uma música, se não bem me engano entoada por Dalva de Oliveira, que começava exatamente como o sentimento que me tomou o corpo:"Meu mundo caiiiiiiiiiiiu"
Juro, passei o resto do dia meio sem condições de fazer absolutamente nada. Sabe quando alguma coisa te diz que.... é, que exatamente isso.
Mas, seja como for, tive que esperar o final do expediente para ir para casa - se é que ainda ia ter casa, uma opção que, àquela hora, me parecia até meio lógica, sensata, não de todo negativa.
Entro na garagem e decido subir as escadas até a portaria.

- Bánoiti seu Asdibardo.
- Boa noite, Carmelo. O pessoal da reforma já saiu.
- Já né seu Asdibardo, as essa hora num podi di tê mais óbra nu prédiu.
- É... sei.
- E déru até adeus. Num vão di vortá mais? Cabô as reforma?
- Para ser sincero, Carmelo, nem eu bem sei. Acho que sim.
- Deve di tê cabado. Eles anté mi deru um restinho da lata da tinta verdinha que o sinhô táva usando... vai di dá pra dá uns retoque na frorêra do meu cantinho.
- Tinta verde?
- É... e óia que sobrô uma boa meia lata. Pena que da laranja num sobrô nada né?
- Tinta laranja?
- Olha Carmelo, eu vou subir... boa noite.
- Bánoite seu Asdibardo.... e óia, brigadu também da mesinha... posso tirá ela manhã cedu, né?
- Mesin.... tá Carmelo... po.. pode.... eu... pode.

Incrível como, vez por outra a mente da gente parece estar completamente vazia, sem pensamento nenhum, não é mesmo? Pois é exatamente assim que eu estava no curto, porém interminável caminho que o elevador levou para chegar do térreo ao meu andar.
Abri a porta do apartamento já com o coração apertado e os olhos marejados... puro medo e ouvi a voz calma, suave de minha esposa dando a pior das notícias que um homem pode ouvir, praticamente uma sentença de morte, quiçá um meteoro tivesse caído no planeta... pior não seria do que ouvir:

- Ah, mamãe, ficou lindo!

Efetivamente não vou morrer do coração... se tivesse qualquer problema seria aquela hora que iria cair por terra. Absolutamente nenhum homem está preparado, física, mental ou espiritualmente para, depois de meses de reforma, ouvir aquilo.
Entrei meio que devagar. A sala até que estava em ordem. Tirando alguma bagunça natural, nenhum despautério, nenhum pecado mortal.

- Querido é você?

Ai meu Deus. A voz vinha do meu quarto. Ou seja, a tragédia ocorrera lá.

- Vem ver que maravilha a mamãe fez aqui.

..... e havia sangue.... se não havia, ia ter.
Respirei fundo e fui pelo corredor até o quarto que um dia havia sido meu... que outrora dormira este homem e quando passei o batente da porta, absolutamente com o corpo cheio de coragem e a alma preparada para o terror, vi que ele estava.....
(juro gente, deu uma vontadinha de parar a crônica aqui e só retomar na segunda,..... mas não sou assim tão sacana... perdão, precisava contar)
... ele estava absolutamente perfeito. As paredes da cor que eu queria, os móveis nos lugares certos, enfim: tudo certo - tirando claro uma colcha de extremo mal gosto, daquelas de retalhos de almofadas velhas, misturando tecido florido com liso, com estampado, tudo muito feio, sobre a cama.

- Mas, o quarto está pronto, mesmo!
- Prontinho, amor, não ficou lindo.
- É esta!
- E olha que coisa mais linda a colcha que a mamãe fez de presente para nós... presente pelo fim da reforma. Não é um show?

Nessa hora lembrei de um showzinh que vi quando criança, como é que se chamava mesmo.... Ah, lembrei: Monga, a mulher gorila. Para uma criança de 7 anos, a diaba da mulher vestida com a roupa de gorila causava tanto pavor como aquela colcha.

- É... um show.
- Num acredito, inútil, você gostou.
- A senhora quer mesmo saber a verdade?
- Quero. Fala que eu quero ver...
- Parem vocês dois. O apartamento está pronto, o lindinho gostou da colcha e vamos para a sala.

No caminho passei pelos outros cômodos. Banheiro? OK. Quartos das crianças? OK. Cozinha? OK. Área de serviço? OK. Gente.... estava tudo certo.
Nunca iriam me fazer admitir publicamente, mas a minha sogra tinha conseguido fazer aquele bando trabalhar e fazer tudo certinho. Ela merecia um presente, um beijo....Menos. Passa! Sai coisa ruim! Vixi, que arrepio....

Passa o tempo, a sogra vai embora e vou deitar.

- Amor, nem acredito que acabou.
- Você não acredita? Imagina eu.
- Agora, uma noite calma, só nós dois e podemos pegar as crianças lá no sítio.
- É mesmo. Mas, tem uma coisa que tá me deixando louco de curiosidade.
- Fala, bem.
- Quando cheguei, o Carmelo, me disse que os moços da reforma tinha deixado para ele um restinho de tinta verde, que tinha acabado a tinta laranja e que tinha uma mesinha, que ele vai pegar amanhã. Você sabe que loucura é essa desse maluco?
- Tinta verde? Laranja? Não tenho idéia.
- E a mesinha?
- Não faço a mínima idéia do que seja.
- Bem, vamos descansar que amanhã ele vem pegar e vemos o que é.

Apenas para constar. Nunca soube que tinta verde era aquela que tinha sobrado. Nunca soube que tinta laranja não tinha sobrado. O Carmelo não foi buscar a mesinha, mas até hoje me agradece por ela, disse ficou uma belezura na casa da vó dele que mora em Juricacupira (ou qualquer coisa parecida com isso, que é o que foi que deu pra entender do que ele disse), uma cidadezinha um pouco prá lá da divisa com..... isso deixo pra outra história.

quinta-feira, junho 01, 2006

Viver em condomínio - 2

ainda no condomínio...

Contudo, algumas coisas realmente exigem a presença do dono da casa. Um acabamento da pintura, uma refação (ou como diz o pintor da obra, refazimento), um detalhe que se você não estiver presente, esquece: jamais vai ficar certo.
Nesse dia, nesse fatídico dia, você conseguiu - sabe-se Deus como - que teu chefe deixasse você ir para casa (claro que você mal sabe o que te espera no dia seguinte... já ouviu falar do 32WK, o relatório assassino? pois bem, vai ouvir....) e logo entende que seu dia não vai ser, assim... como dizer.... exatamente calmo.
Você chega no prédio, entra na garagem e passa na portaria para avisar o porteiro que vão chegar os rapazes da pintura com muito material e se ele pode colocar a proteção no elevador.

- Seu Asdibardo? É o sinhô mesmo?
- Olá Carmelo. Sou, pq?
- Vixi fiôdideus, foi mandado imbora du imprego...
- Vira essa boca pra lá, Carmelo. Só estou aqui para acompanhar o final da reforma. Acho que esse martírio acaba hoje. Olha, eles devem chegar a qualquer momento e precisa...
- Devi não seu Asdibardo, jé tão lá in cima.
- Como? Já chegaram?
- Chegaru sinsinhô. Ah, e a Dna. Creusa que falá cu sinhô que eles mancharu o elevadô cum as tinta.
- Você não colocou a proteção Carmelo?
- Num mi avisaru qui pricisava...
- Tá bom, Carmelo, deixa eu ir lá em cima e depois resolvo isso.

Claro que quando você chega no seu apartamento, a primeira impressão (que, conforme o ditado, é a que fica) é a de um total desastre. Seu apartamento que estava já algo arrumado, que quando você saiu de manhã estava razoavelmente habitável, se (re)transformou em um campo de batalha medieval.
Um homem, que você nunca viu antes, com uma camiseta sem mangas e uma tatuagem que começa no pescoço e termina.... bem, você não tem e nem quer ter idéia de onde termina, olha para você e vocifera
- Viemos todos juntos para dar o rapa final.

Por puro instinto (que alguns chamariam de desespero) você faz um movimento de levantar as mãos, abrir a carteira, dizer que levem tudo mas não te machuquem, mas percebe antes e acha melhor dar uma chance à turba - uma última chance, para o tal do rapa final.

O problema é você saber o que você está fazendo ali.
Na verdade aquele detalhe da parede era em branco, mas e a coragem para chegar o estivador que está com a brocha na mão e dizer que ele está fazendo em azul.... pensando bem, um detalhe colorido no canto da sala de jantar, principalmente em azul, fica tão bom... tão pós-moderno, não é mesmo.

Na verdade, o fio do telefone tinha que ir atrás da estante dos cds, mas o tamanho da marreta que o moço está brandindo na mísera tachinha te convence que a posição dele está absolutamente correta.

Já na cozinha, você tinha imaginado um furinho para pendurar um ganchinho, mas diante da bitola da broca do rapaz (que você pode jurar que está falando sozinho em algum idioma da antiga bretanha) te dá uma nova inspiração de tudo o que pode ser pendurado na cozinha.

Daí acontece o pior. São exatamente 15h44, ou seja, absolutamente dentro do período cabível para a realização de atividades e toca o interfone - sabe-se Deus como você conseguiu ouvir naquela balbúrdia, mas já que ouviu, né, melhor atender.

- Seu Asdibardo?
- Fala Carmelo.
- A Dna Ansíra tá recramando do baruio.
- Que?
- A Dna Ansíra.
- Quem?
- A muié do seu Romuvaldo, que mora dibáxo do sinhô.
- Ah, a dona Alzira, esposa do Romualdo. Que tem?
- Tá recramando do baruio.
- Olha Carmelo, fala para a dona Alzira que eu sinto muito, que ela tenha um pouco de paciência, mas que estamos andando com a reforma. Se ela tiver um mínimo de compreensão, terminamos isso ainda hoje. E, para falar a verdade, são três e meia e estamos dentro do horário cabível para as atividades.
- Que qui cabe onde, seu Asdibardo?
- Horário, Carmelo, estamos dentro do horário.
- Ah, isso é verdade. Tão fora não.
- Então?
- É, intão tão fora não.
- Carmelo, fala para a dona Alzira que sei que estamos fazendo barulho, que ela nos perdoe, mas vamos acabar logo com isso.
- Tá bão.

Dez minutos

- Seu Asdibardo?
- Diz Carmelo.
- A Dna Ansíra tá recramando do baruio.
- Mas como?
- Ela disse que o seu Romuvaldo tá discansando, que trabaiô até di tarde onte e tá pricisando durmi e o bauio fica acordando ele. Disse que é pra pará.
- Carmelo, transfere a ligação para o apartamento dela.
- Posso não, seu Asdibardo. Ela falô qui o seu Romuvaldo tá discansando e num qué disê incomodada.

Duas horas e quatro interfonadas depois o tatuado lembra que eu existo, disfarçado de estátua de cal em um canto da área de serviço e diz que 99% de tudo tá prontinho.
- Amanhã voltamos para dar cabo do pouquinho que ficou.
Na dúvida se era uma explicação ou uma ameaça, apenas balancei a cabeça e eles foram, prometendo que amanhã voltam para "dar cabo do que restou"....ainda bem que é só um pouquinho.

De noite, chega minha esposa, comento do tatuado e ela, com a maior cara deslavada:
- Ah, o Bruno, ele não uma graça? Um doce de pessoa, não é? Dá para alguém ser mais simpático?

... ainda bem que falta só um pouquinho...

Sérgio Lapastina está em http.... opa, espera, interfone.

- Seu Asdibardo?
- Que é Carmelo?
- A Dna Creusa qué sabê cumé que vai arrumá o elevadô que ficô sujo di tinta.
- Fala para a dona Cleusa falar com o Bruninho!
- Cum quem?
- Com o Bruninho, Carmelo, o docinho, o gracinha...
- Vixi seu Asdibardo, o sinhô tá passando bem?